Arte drag como libertação

José Manuel
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readNov 6, 2020

O DJ, performer e maquiador Francisco Neto encarna a drag queen Jessy Strange e nos conta sobre sua trajetória no universo das artes

Por José Manuel

A arte drag queen não é feita somente de maquiagem e figurino. Para o artista Francisco Neto, de 21 anos, é estar confortável, é libertação.

Conhecido como Chico ou por seu nome drag, Jessy Strange explica o que é mais importante para ele em ser drag.

Ser drag queen “é algo libertador, é você conseguir se expressar, o que você não consegue com palavras ou no dia a dia. Se eu estiver aqui de drag, é como se eu tivesse podendo ser eu mesmo, é algo muito libertador para mim”, expõe.

Chico tem atuação como drag queen, DJ, performer e maquiador. Morador da cidade de Fortaleza desde os seus dois anos de vida, atualmente mora no bairro José Walter com sua mãe, seu padrasto e seu irmão de 5 meses.

Ele sempre esteve imerso no universo artístico. Seu interesse pela arte floresceu ao participar de quadrilhas juninas, de grupos de dança e como bolsista na Escola de Dança Janne Ruth.

“Minha arte é algo muito importante para mim. Eu sempre estive ligado, de alguma forma, a expressões artísticas, sempre fez parte de mim, seja no teatro, seja no São João, sempre estive envolvido nesse tipo de coisa. E, de um tempo pra cá, foi ganhando uma importância maior na minha vida”, explica.

Para Chico, a arte drag se torna algo que vai além da personagem em si, superando sua timidez e sua ansiedade.

Chico começou na arte drag há cerca de dois anos, quando fez amizades com pessoas desse universo, a exemplo de promoters e de outras drags. “Comecei a frequentar esses eventos montado. Mesmo que não fosse para trabalhar, eu tava lá para ser visto, ser notado, até que começou a dar certo”. Hoje, ele trabalha em festas e eventos como hostess ou interagindo com o público.

A liberdade proporcionada por Jessy Strange ajuda Chico a romper com seus próprios limites. “Minha drag trouxe para mim uma liberdade para expressar muitas coisas que eu como pessoa, como artista, me limitava”, considera.

Ao se comparar com sua personagem, Chico considera Jessy “alguém muito mais para frente, algo que eu não conseguia ser no meu dia a dia”. A arte drag “foi me ajudando bastante e eu fui me apaixonando cada vez mais pela arte drag. E hoje eu acho que é parte de mim, a Jessy já é parte do Chico”, complementa.

Ao ser indagado se continuaria fazendo o mesmo daqui a 10 anos, Chico afirma que não quer continuar o mesmo, e sim evoluir ainda mais. “Não me vejo fazendo exatamente o que eu faço daqui a 10 anos. Mas, ainda assim, pretendo manter minha drag daqui a 10 anos, não da mesma forma que ela é hoje. Tô sempre tentando inovar e mudar, evoluir para melhor. Mas vai ser algo muito diferente do que faço hoje”, projeta.

Chico destaca as dificuldades de custear maquiagem e figurino e aponta a desvalorização de ser drag no meio artístico. “Não é barato e, por isso, o meu incômodo tão grande com a desvalorização, pelo sacrifício de abdicações que a gente faz diariamente. A parte de figurino e peruca é principalmente muito difícil, é somente aqui, no Nordeste, que a gente tá comprando por site, e bem dizer muitas vezes a gente paga para trabalhar, porque o que a gente recebe de pagamento muitas vezes não paga nem a peruca”, afirma.

Chico afirma ter sentido falta de se montar para eventos durante o período de pandemia de Covid-19. Apesar disso, Jessy Strange se mantém criando conteúdo em seu perfil no Instagram. Mesmo não sendo seu foco, ela relata que obteve reconhecimento nas redes sociais.

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