Ativismo social e transformação pela música

Lóren Souza
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readFeb 10, 2022

A cantora e compositora Becka Nizers, nome artístico de Rebeca Macêdo, é uma artista independente de Fortaleza que encontra no rap e no trap formas de se expressar e de impactar a vida das pessoas

Por Lóren Souza

Becka Nizers / Acervo pessoal

Ela demora para sentar à frente do computador e regular a luz da ring light. “Ainda tenho dificuldades com essas tecnologias”, confessa. Becka acaba de chegar do trabalho como cuidadora de idosos, mas não demonstra cansaço.

Sempre muito descontraída, emana alegria e vivacidade, parecendo lembrar da energia dos momentos que viveu, enquanto fala sobre música, trabalhos já feitos e participações em organizações de eventos.

Vinda de uma família religiosa, Becka começou a cantar já na infância, dentro da igreja. Por volta dos 11 anos, teve seu primeiro contato com o hip hop, por meio do grupo Atitude Feminina. Becka foi atraída pelo ritmo, pelas batidas e pelos assuntos abordados nas letras.

Por ser de periferia e presenciar as violências e vivências das mulheres ao seu redor, ela conseguiu se relacionar e se identificar com as temáticas do grupo. Nesse mesmo período, outros artistas passaram a fazer parte de seu repertório. Negra Li, Racionais e Charlie Brown Jr eram as ferramentas de suas primeiras rebeldias. Proibida pelos pais de ouvir músicas seculares (músicas que não são da igreja), Becka pedia ajuda aos primos mais velhos e conta rindo que eles baixavam as músicas para que ela pudesse ouvir escondida.

A mais velha de cinco irmãos afirma que sempre teve que ser responsável e independente. “Esse instinto de liderança já é de mim desde criança, e eu levei isso para a vida”. Esse perfil ativo a levou durante a adolescência a organizar eventos de batalhas de rima em bairros da periferia próximos de sua casa.

“Eu via jovens que não podiam ir para outros bairros ver batalhas, então pensei: ‘Por que não fazer?’ E fiz! Fiz em uma praça do meu bairro. Fui atrás de microfone, caixa de som, chamei MCs de fora, teve premiação. A primeira batalha deu mais de 300 pessoas”, conta com empolgação. “Depois, não precisava nem chamar o pessoal de fora, a galera de lá já rimava sozinha.”

Ainda na adolescência, ela criou a oficina Projeto Hip Hop em uma escola pública da região. Além de MCs, pessoas de outras áreas do hip hop, como o break e o grafite, foram convidadas para ministrar aulas. Os olhos de Becka brilham ao falar com carinho sobre o período. “Meninas que participaram da oficina”, ela lembra, “estão até hoje no meio musical.”

Becka Nizers em aula da oficina do Projeto hip hop / Acervo pessoal

Atualmente tendo que trabalhar para sustentar sua produção musical, Becka não tem mais disponibilidade para realizar esses eventos e oficinas e fala em tom de nostalgia sobre esses momentos. “Esses movimentos levam um pouco de perspectiva para as pessoas. É muito gratificante! Não tenho tanta saudade de batalhar, mas tenho muita saudade de organizar, principalmente, pelas meninas”, conta.

Sendo artista independente, os principais desafios são o financeiro e a falta de reconhecimento, mas é notório que Becka encontra motivação para continuar contribuindo com a formação de novos artistas, pelo impacto que a música traz para a vida das pessoas e para o público que a acompanha.

Becka busca sempre entregar excelência em suas criações. “Pode ter uma pessoa me escutando, mas aquela pessoa está valorizando meu trabalho. Então, eu tenho que ser a melhor para aquela pessoa”. E completa: “As pessoas me dão palavras de incentivo, palavras de amor, e eu não desisto, já é uma coisa minha”, termina com um sorriso.

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