A trajetória de Cláudio Ribeiro no jornalismo profundo e humanizado

Léo Victor
EntreFios - tecendo narrativas
27 min readDec 6, 2023

Em entrevista ao EntreFios, o jornalista cearense compartilha informações sobre sua carreira e apresenta os bastidores de grandes reportagens suas que ainda ressoam na atualidade

Por Camila Maia, Driccia Hellen, Hanna Gabrielly,
Hudson Vieira, Léo Victor, Liandraqueiroz,
Lyssa Santos e Wendel Souza

Cláudio Ribeiro no estúdio de TV do curso de Jornalismo da UFC / EntreFios

Um dos maiores nomes do jornalismo cearense, Cláudio Ribeiro reflete sobre sua trajetória profissional, desde sua formação na Universidade Federal do Ceará (UFC). O entrevistado relembra suas reportagens especiais mais conhecidas e premiadas e fala sobre seus sonhos e projetos futuros.

Ainda jovem estudante, Cláudio apreciava ler e escrever, mas não gostava de seguir as mesmas regras padronizadas das redação escolares, necessárias para passar no vestibular. Ao receber nota zero em uma redação no ensino médio, ele foi auxiliado por um professor, recebendo uma segunda oportunidade de realizar a tarefa e conquistando excelente nota na sequência.

O jornalista deu início à sua carreira profissional de forma precoce, tendo até mesmo experiência como publicitário. No entanto, ao perceber que sua verdadeira paixão residia na escrita de textos mais extensos e aprofundados, especialmente aqueles que possuíam maior contribuição social, ele decidiu dedicar-se a essa vocação.

Passou por outros veículos de comunicação, mas se firmou no jornal O Povo, empresa em que trabalha até hoje. Cláudio cobriu acontecimentos de grande impacto social, sendo premiado tanto em âmbito regional, quanto nacional, a exemplo das coberturas Mares do Sertão, Os Assassinatos na Base Aérea e, o mais consagrado, O Assalto ao Banco Central.

Hoje, Cláudio revela seus planos de, em algum momento, fazer mestrado e doutorado, além de ter o sonho de escrever um livro próprio, com uma temática que ele já possui em mente.

O jornalista ressalta como as trocas com os jovens na redação o incentivam e o estimulam, deixando em aberto, também, a possibilidade de embarcar em projetos futuros que por ele ainda estão sendo desenhados. “O passado é muito interessante; o presente é muito envolvente, em alguns momentos; e o futuro pode ser revelador”, sintetiza.

Confira a entrevista em vídeo e sua transcrição a seguir:

Wendel Souza: Cláudio, inicialmente eu queria te perguntar sobre a sua trajetória dentro da Universidade Federal do Ceará. Você cursou jornalismo aqui e terminou em 1997. Quais fatores na sua vivência fizeram você entrar no jornalismo?

Cláudio Ribeiro: Isso é uma pergunta que eu vivo tentando rememorar um pouco, vez em quando, né? Acho que faz um tempo, eu lembro que no terceiro ano do ensino médio, ainda lá atrás, eu fiz a redação no segundo semestre do terceiro ano e zerei, eu fugi ao tema e o professor me conhecia, professor de redação me conhecia, sabia que eu escrevia tranquilo, bem relaxado, mas não só aquelas regras da redação para passar no vestibular, mas eu gostava de escrever, realmente, gostava de ler, de transitar ali na literatura bem e eu zerei na redação. E eu ia fazer Engenharia Civil, aí ele me disse assim: “Você vai fazer a segunda chamada, porque você zerou, porque fugiu ao tema e eu estou abrindo a oportunidade para algumas pessoas. E aí eu tive uma redação, depois, que foi muito legal, muito boa e ela foi lida na aula sem ele dizer quem era o aluno. Ele não disse que tinha sido minha, e eu me senti muito tranquilo por ele não ter dito que aquela redação que ele leu foi a minha, mas ali já era setembro, acho, de 1988, e ali eu tomei um gosto muito mais apaixonado por escrever. Mas não me sentia ainda um literato, um escritor, um jornalista, não, mas eu me aproximei muito mais pelo curso de Comunicação Social. E acho que ali eu desisti da Engenharia Civil e, no dia em que eu fui fazer a inscrição no curso da UFC… Eu lembro que eu me senti jornalista quando eu fiz matérias, comecei a fazer matérias, mas eu me senti muito jornalista, estudante, já me senti assim, que eu queria fazer aquilo, estou fazendo até hoje, só fiz isso até hoje. Quando eu participei de uma série de entrevistas da Revista Entrevista [produto impresso do curso de Jornalismo da UFC], da cadeia de jornalismo impresso, ali me deu o gosto de fato pelo jornalismo, porque eu entendi o que era produzir, como tentar perguntar do jeito certo, como perguntar e não interromper o entrevistado no momento errado ou como perguntar no momento certo, a pergunta mais pertinente ou a escada certa pro entrevistado, porque é um jogo de bate-e-volta, conversa com o entrevistado, não é só um monólogo, é um diálogo, isso é fundamental. E aí eu, de fato, me embriaguei pelo jornalismo. Essa foi a minha experiência inicial, e foi como o curso me trouxe, me formou, me conduziu, me deu base, claro, para ser jornalista.

Léo Victor: Cláudio, você entrou no mercado de trabalho muito cedo, antes mesmo de se formar na universidade. Como foi esse ingresso tão precoce na rotina jornalística?

Cláudio Ribeiro: É um outro momento, as redações lidavam ainda com essa situação de o jornalista ter a experiência e não a formação, ganhar experiência ainda em formação. E, assim, eu tive a oportunidade de trabalhar na redação do Diário do Nordeste, em 1991. E, quando eu tive a oportunidade, eu já havia tentado. Fiz um estágio em publicidade e vi que não era uma coisa que eu queria seguir, cheguei a ficar uns quatro meses como estagiário de publicidade. Trabalhei em produção, fui chamado pra trabalhar na área de texto, mas eu não queria estar, assim, não era uma área que eu queria seguir, o ambiente era legal, o trabalho era bom, os horários, eu tinha horários alternativos, eu trabalhava tarde e noite, tinha uma coisa que me permitia estudar, e aí eu fui. Depois disso também, aliás antes da redação trabalhei como estagiário na Cagece, na área de comunicação, e também produzia, eu escrevia, aprendia, veículos de imprensa, participava do noticiário da produção jornalística interna, isso também foi o exercício. Mas nas redações. Eu comecei na editoria de polícia e era uma área que eu não queria estar, mas foi a oportunidade a janela que se abriu pra eu chegar na redação, eu queria está numa redação e a pessoa que me convidou foi Adriana Santiago, na época era repórter de cidade do Diário, e me disse, “Claudio tem uma vaga, só que é polícia” e eu disse “eu quero”, porque aí eu migro, não consigo migrar pra área que eu queria realmente vivenciar, que seria de cidades. E acabei, muito tempo depois, virando um repórter que trabalha com cobertura de segurança pública, investigação acabou sendo uma coisa voltando pra cobertura, mas não a cobertura policial, não a cobertura que eu, assim, eram demandas que as páginas policiais, que não existem nos jornais locais, as páginas policiais, existe cobertura de segurança, não há página policial, hoje, mas havia página policial e você tinha que fechar aquele espaço, aqueles centímetros ali de texto naquela página policial. Foi uma experiência que passei um ano nessa área e até que eu pedi pra sair, porque eu queria ser repórter de cidades e o então editor não queria que eu fosse, migrasse, porque ele queria que eu continuasse como repórter dele. E eu disse não, mas eu quero, aparecia vagas, eu dizia que queria vagas, a vaga não tinha vaga, mas tinha vaga, não me chamava. Não, então eu vou tentar sair. Sair e depois de um ano e pouco eu voltei pra outra redação, o tribuno do Ceará. Tribuna do Ceará, versão impressa, bem antiga e foi ser repórter plantonista. Isso sem o ambiente online de hoje, a cobertura era muito mais corrida, muito mais puxada, acelerada e as fontes informações eram telefone, ir no local, era o pé no asfalto mesmo. E eram outros outros tempos, né? Um tempo, já faz trinta anos, e isso é um outro perfil de redação e depois eu acabei na Tribuna mudando o horário pra ser repórter de cidade, realmente, e ser repórter pra trabalhar numa área que eu ,de fato, queria. E aí foi uma situação legal porque aí eu passei a trabalhar com reportagem e foi um, assim, eu vivi coisas na Tribuna do Ceará que era uma geração que passou pela tribuna: Demitri Túlio, Carlos Eli, Carmem Medina, Josiane Leal, Walter George, uma turma assim que depois fez uma carreira jornalismo grande, Neila Fontenelle, são repórteres, são jornalistas que conseguiram trabalhar no meio, fazer um bom caminho, Marise Fontes, Rebeca Fontes, tô lembrando aqui, Fernando Barbosa, Roberto Maciel, a Tribuna do Ceará conseguia trabalhar com furos de reportagem que, até então, não era da rotina da tribuna do Ceará. Isso, assim, estimulava um jovem jornalista a querer estar na redação, a querer dobrar a jornada, porque queria, porque queria aprender, queria ,assim, tava já vivendo o jornalismo. Foi na tribuna que eu participei da cobertura, eu tava com o fotógrafo que acabou virando refém do sequestro Dom Aloísio Lorscheider. E O Povo, depois de noventa e cinco, a Fátima Sudário, então editora Cidade, me convidou pra trabalhar como repórter de cidades e aí eu estou lá no povo até hoje já passando por várias cadeiras lá dentro da redação.

Lyssa Santos: Bom, Cláudio, o senhor já foi ganhador de cinco prêmios ExxonMobil, antigo prêmio Esso — que é o prêmio mais importante destinado a profissionais de imprensa no Brasil —, além de ter sido mencionado pela Sociedade Interamericana de Imprensa. Como você se sente ao ter seu trabalho tão reconhecido e prestigiado?

Claudio Ribeiro: Eu me sinto muito bem, mas este não é, de verdade, isso não é o que eu almejo quando eu faço uma reportagem, eu quero fazer uma reportagem para mostrar uma história, para contar uma história, pra tentar cercar um assunto. E é o prêmio, realmente o prêmio mais importante que o jornalismo brasileiro já teve, mesmo que ele já tenha sido desativado há sete/oito anos, ele já tem uma uma relevância de reconhecimento, é uma aferição ao trabalho jornalístico, de fato, não tem como você se sentir bem quando você ganha o prêmio, isso é mentira. Mas a gente tem um trabalho coletivo muito bom e quando é um trabalho também autoral, quando você quer um treino sozinho é uma situação muito boa. Você tem uma uma correção de cobertura, você tem um ajuste de informação, você cerca o assunto muito bem, você aprofunda o assunto. A sociedade interamericana de imprensa, ela reconhece trabalhos no continente americano todo. Então a gente foi visto por jornalistas, por julgadores da América do Norte, da América Central, da América do Sul, a gente concorreu com periodistas, com jornalistas de todos os países desse continente todo. A gente teve uma avaliação mais ampla. Foram trabalhos. A cobertura do furto ao Banco Central foi um desses trabalhos que foi uma de uma relevância pra nossa trajetória profissional, muito grande. A gente sabia quando estava trabalhando naquele assunto que estava acontecendo um negócio de relevância jornalística. E era também de distinção profissional, você sabia que estava produzindo um material importante para a história local, pra história nacional, como ele é, a história mundial, pelo tamanho do furto, como ele foi cometido, o que aconteceu, o desdobramento, a cobertura que ainda tem até hoje, os personagens que são citados, nós trabalhamos informações inéditas quinze anos depois, nós produzimos material ainda com exclusividade, dezoito anos depois, como fez agora. Então assim, você vê o peso desse, a gente teve uma citação no material de São Francisco, também tem uma relevância histórica aquele momento, o fato que está sendo coberto, o assunto que está sendo coberto, isso é que dimensiona e como você consegue transformar aquilo em informação, em aprofundamento então a SIP reconheceu essa essa cobertura, esse trabalho. Assim, eu gosto realmente de fazer matéria que dá trabalho. Eu acho que talvez seja uma coisa que me que me perfile. Me ajude a perfilar profissionalmente. Dessas coisas que vão pra minúcia. Vão pro detalhe, vão pro pontinho de interrogação, a letra mais miúda de um contrato de telefone que você assina. Quando você depois tem que tentar desfazer. Então, essa letra miúda de uma história que eu gosto de tentar entender. Isso a gente tem de investigações várias, de coberturas várias e também gosto muito de tá percorrendo o sertão, as histórias do sertanejo, que tem sabedoria, não tem o estudo escolar, mas tem a sabedoria, tem a vivência, sabe muito mais do que muita gente letrada. Eu gosto muito dessas histórias anônimas, gosto muito, esse é um perfil de uma coluna que eu passei a assinar de uma ideia que eu apresentei de tentar mostrar essas histórias de pessoas anônimas, histórias ocultas eu gosto muito desse tipo de informação. Então assim eu acho que o prêmio é uma aferição, ele não pode ser um objetivo ele tem que ser um desdobramento, eu acho que é como se fosse uma suíte do que você está fazendo, ele não pode ser primeiro parágrafo, sabe? Eu acho que mais ou menos dá pra comparar. Acho que é isso que a gente tem que buscar, eu penso no jornalismo como realmente uma coisa de ideal, idealista, sou idealista, gosto desse tipo de Jornalismo desse tipo de detalhamento. Se você tá tentar encontrar histórias não contadas, eu gosto muito desse tipo de coisa, eu acho que os prêmios que a gente ganhou, vários com a equipe, eu ganhei alguns sozinhos também, alguns importantes, mas eu acho que é o reconhecimento tá quando eu publico a matéria e ela tem uma repercussão muito boa. Ela também é uma resposta muito boa. Isso não é da boca pra fora. Quem escreve em relação, tem uma matéria publicada. Ela tem que repercutir, tem que ser lida, tem que contrariar, tem que ser elogiada ou não. Você escreve pra ser livre. E a repercussão, se vier no prêmio ou se vier em uma resposta hoje, de um comentário ou vier de um retorno numa swift, eu acho que é assim que o jornalismo tem que rodar, tem que contar essas histórias e encontrar caminho no dia seguinte, na página seguinte.

Camila Maia: Cláudio, um dos seus trabalhos que recebeu tal prestígio foi justamente o caderno especial Mares do Sertão, em colaboração com os jornalistas Demitri Túlio, Rafael Luiz e Luiz Henrique. É falado no material que vocês cruzaram os sete maiores açudes do estado. Como você descreveria a experiência de percorrer todo o trajeto e também conhecer a realidade daquelas pessoas?

Cláudio Ribeiro: Essa é uma pauta que foi muito premiada, foi um dos projetos mais premiados do jornal e é uma pauta que foi muito prazerosa, muito interessante e reveladora de fazer, como fazer. Ela foi muito aprendizado também e a gente essa pauta nasceu numa conversa a gente voltando de uma pauta na estrada passando ao lado do açude do Castanhão, a gente dentro do carro do jornal e a gente cruzava a rodovia e passando ao lado do espelho d’água do açude do Castanhão, maior açude do Ceará, maior do Nordeste, um dos maiores do Brasil e tal, e conversando dentro do carro nasceu a ideia da pauta, isso aqui é um mar, a frase nasceu dentro do carro, acho que foi o Demitri, tenho quase certeza e isso aqui é um mar essa pessoa se a gente começa a ver quem que mora ao redor disso, como é que é a vida dessas pessoas moram com o mar na frente de casa no meio do sertão, casou Mares do Sertão e quando essa pauta foi publicada, foi no caderno, a repercussão foi gigantesca assim numa época o tamanho do gigante aí. Esse retorno neste dia a gente saiu assim muito feliz, foi falar na rádio, foi comentar o projeto internamente, o retorno foi muito grande, o jornal teve uma tiragem bastante boa, né? Por que isso era uma medida do jornal, né? A tiragem que ele tinha, o online ainda não era tão presente. E aí nesse dia a gente discutiu no almoço eu, Demitri e o Arlen, então diretor de jornalismo, a gente tava com ideia de fazer um projeto chamado, vamos fazer aí um “Bruxas do Sertão”, aí não a gente tem que fazer nessa temática ainda da aridez do sertão, ligada a natureza, o ambiente e tal, vamos fazer a desertificação já que a gente falou dos mares, aí a gente passou a fazer o “Desertos do Sertão”, foi na sequência a gente emendou o projeto, o jornal comprou a ideia acho que na semana, a gente ajustou a viagem e já foi para a estrada de novo, rodou as áreas desertificadas produziu, cobriu seminário de desertificação, entrevistou gente importante, pesquisador, e nasceu o “Desertos do Sertão” e quando saiu o “Desertos do Sertão” que foi o segundo capítulo, a gente já saiu com a ideia do “Chuvas do Sertão”; Mares, Desertos e Chuvas do Sertão é uma trilogia, e essa trilogia ela foi muito reconhecida em prêmios, em nove, dez prêmios sei lá quantos foram, nacional e internacional, SIP acho que você citou também, concorreu a prêmio Esso, ganhou o prêmio Esso, ganhou “trocentos” aí. E aí, a gente fez o Desertos e Chuvas do Sertão, a gente passou então do Mares ao Chuvas a gente cruzou um ano a gente pegou o Chuvas a gente ia mostrar como é que era a recarga dos açudes justamente naquele ano de 2009 houve uma grande enchente no Ceará, destruidora, destruiu Jaguaribe destruiu a região do Curu, destruiu a região de Crateús, o rio Poti que vai para o Piauí alagou tudo, inundou, o Ceará foi ficou debaixo d’água realmente, você não tinha como cruzar a estrada, BRs, estradas rasgadas por rios, rios que cobriram cidades, foi um negócio muito destruidor. E nós fomos cobrir, então, saiu a demanda de cobrir a enchente e fazer o projeto da chuva. Porque tinha regiões que estavam ainda preservadas de chuva. E que tinha exatamente essa ressignificação do sertão. O sertão tinha se renovado, tinha ficado verde, tinha ficado bonito de novo, tinha ficado cheiroso, tinha ficado sorridente, o sertão sorri quando chove, o sertanejo reza e sorri quando chove e a gente viu isso no meio de uma cobertura de tragédia. Então para gente esse foi um grande aprendizado, eu ainda me lembro muito assim na pele eu tô aqui realmente sentindo a memória no meu braço aqui. Quando a gente viajou para cobrir isso e cobrindo criança chorando, mãe que perdeu casa, mãe que perdeu filho, gente que perdeu familiar, perdeu tudo, tava morando em abrigo, que tava dentro de escola, dentro de ginásio, o estado tava sem poder ser cruzado, a gente tinha uma equipe de Jaguaribe, uma equipe na zona norte é mais alagada geralmente, sempre é, a gente tava lá, a gente passou doze dias viajando por chuva e por ressignificação do sertão. Então por tragédia e pelo simbolismo do novo sertão. Eu, Demitri, Rafael, Luiz Henrique, a Fátima como coordenadora, não lembro se Ana Meire já tava nesses especiais, os fotógrafos que foram. Toda noite, um projeto desse, toda noite você passa de seis da manhã até dez da noite trabalhando e vai sair para comer alguma coisa e lá faz uma reunião de trabalho. Essa reunião de trabalho que aconteceu todo dia, tinha hora que era tensa, mas era muito importante e ela também ela liderava tudo e era um trabalho profissional muito forte, eu lembro que essa do, foi o Dário Gabriel, fotógrafo, e o Valdir que era motorista; e assim essa equipe tinha uma sintonia, tinha uma facilidade, nós tínhamos uma facilidade de trabalho e tivemos momentos de dificuldade também, sabe? E isso foi importante. Eu acho que essa ideia do glamour, da beleza, da coisa bacana, isso não existe. Não queiram ser jornalistas pelo glamour, pelo menos eu fiz isso, minha bandeira é essa, mas podem ser. Mas esse glamour não é nessa cobertura da factualidade, desse hard news, não é isso, a gente vai começar dessa, a gente vai suar, vai sofrer, vai penar e vai ter o prazer de uma aferição e de uma publicação bem feita, com fotos legais, com fotos importantes, com a história bem contada, com apuração, os personagens que a gente tentou fazer e não conseguiu, mas a gente consegue inserir alguma informação daquilo, foi bastante bom, me empolgo de falar, me desculpem [risos].

Wendel Souza: Cláudio, no ano de 2011, você, junto com Ciro Câmara, Rafael Luiz e Thiago Cafardo, participaram de um projeto de desenvolvimento do livro sobre o PV [estádio Presidente Vargas, em Fortaleza], [intitulado] PV: Biografia de uma Paixão, Corpo, Alma e Coração do Estádio Presidente Vargas. Como foi o desenvolvimento do projeto e como foi sua participação [na apuração e na escrita]?

Cláudio Ribeiro: Esse foi um projeto realmente com Ciro, Thiago, Rafael, [também] tinha mais uma equipe de pesquisador, de fotógrafo, de um grande elenco, e a gente participou da coordenação, foi um projeto muito legal de fazer; nessa época o PV tava fazendo 70 anos, foi um projeto que a gente participou a convite do próprio jornal O POVO, projeto ligado também comercialmente a prefeitura de Fortaleza, um projeto que a gente contaria a história do PV e do futebol cearense, e o PV foi o grande palco do futebol cearense por muito tempo, né? As grandes histórias antigas, as primeiras histórias de mobilização de torcida aconteceram no PV. Os campos pequenos, mais amadores, tinha um campo na praça do passeio público, tinha um campo pequenininho na região da Varjota, foram campos ainda rudimentares digamos assim, e o PV começou a ser o grande palco era um estádio, um campo que tinha ao lado, onde hoje é a escola técnica que é o IFCE que foi escola técnica, virou IFCE, e o PV acabou assimilando o terreno e criando corpo e arquibancadas de madeira foram virando arquibancadas de concreto, e ele foi criando história, foi para o campeonato cearense, foi criando história, times como Maguari, Calouros do Ar, Ferroviário no auge, América, Ceará, não vou lembrar aqui de outros times que existiram antes de Fortaleza e Ceará, como hoje grandes do futebol cearense, vivenciaram essa história, essa era de ouro, essa era do futebol narrado no rádio, do futebol testemunhado por torcedor e não por pacotes de torcidas, por sócio torcedor eram testemunhas de uma história que estava acontecendo ali também. E esses primeiros torcedores do futebol cearense, foram existiram no PV, viveram o PV, e o PV depois foi também criando um corpo, uma história, foi criando uma alma e a gente foi transformando isso numa estrutura do livro, Corpo, Alma e Coração, biografia de uma paixão do estádio Presidente Vargas, que é um estádio e a gente contou essas várias histórias, os jogadores, os seus apelidos estranhos, esquisitos, jogadores das primeiras grandes histórias do futebol cearense, o Pelé jogou aqui, o Garrincha jogou aqui; então a gente foi contando essas histórias, teve show de strip-tease dentro do PV, teve tourada dentro do PV, teve bingo, teve assim uma série de situações que você nem imagina que aconteceram aquilo em um palco do futebol cearense ou então o maior palco do futebol cearense até a chegada do Castelão em 1974. E quando o PV completou 70 anos, um dos marcos importantes foi a publicação desse livro feito com Ciro, Tiago, Rafael e mais uma equipe também por trás com estrutura de pesquisa, fizemos na época o projeto teve uma exposição dentro do PV, o PV tinha sido recém reformado pela Prefeitura Municipal, então ele tinha sido repaginado, tinha recebido um banho de revitalização, ganhou estruturas novas, ganhou um novo desenho arquitetônico, isso também foi importante como marco para este momento do estádio.

Léo Victor: Referente aos assassinatos dos soldados na Base Aérea [de Fortaleza], em 2004, você, junto de Demitri Túlio, entrevistaram e deram voz às mães dos dois rapazes que perderam a vida naquele fatídico dia. Elas trouxeram à tona acusações graves e perturbadoras que se estendiam à Aeronáutica e a seus funcionários. Foi necessária muita coragem para publicar a matéria e ir de encontro com a Força Aérea Brasileira? Como foi esse processo?

Cláudio Ribeiro: Essa cobertura dos assassinatos dentro da base aérea, eu lembro do dia da morte dos dois meninos, Cleoman Fontenele Filho e o Robson Mendonça Cunha, os dois soldados se chamavam assim; a gente começou a investigar o caso dois anos depois, quando o caso aconteceu em 10 de setembro de 2004, dia da morte, foi aquele burburinho, era fim de tarde, houve cobertura factual, tentamos levantar o caso, tentamos chegar a informações, fizemos um levantamento de na época de fatos da perícia, buscamos mostrar informações conflitantes o caso, por exemplo, teve uma versão inicial de homicídio seguido de suicídio, como se um dos rapazes matou o outro e se matou, e nós conseguimos levantar a história e foi constatado que havia sido um assassinato. Nós estamos em 2023, até hoje esses dois assassinatos não tiveram autoria conhecida. Os casos foram investigados e nunca se descobriu quem matou dois soldados da Força Aérea dentro da base aérea de Fortaleza. É um caso que chama muita atenção; não é um crime no meio da rua, não é um crime num ambiente aberto, é uma estrutura militar, fechada, com muro, com vigilância, eles estavam no posto de sentinela, era um horário cedo, não era fim de semana, não era madrugada, era fim de tarde, então isso tudo foi muito estranho e até hoje não se descobriu quem matou esses dois rapazes, eram dois jovens de dezenove e dezoito anos de idade. A gente tenta levantar histórias, assim, até pouco tempo, voltei a contar a história com a Fátima, eu tentei saber algumas coisas no bastidor, fontes, para tentar levantar algum fato novo, e o caso está arquivado. Judicialmente a família ainda briga para reaver indenizações, para ter indenizações, não reaver, para ter indenizações. Na época o caso teve muita repercussão por ter como suspeito o então capelão da base, nós só lançamos o nome dele quando ele passou a constar como suspeito do caso, como investigado do caso, desculpa é que é um termo diferente de suspeito, passou a ser investigado, constar em inquérito policial, na Polícia Federal, em seu ambiente federal e o então capelão da base aérea foi investigado, nós trabalhamos com esse caso durante algum tempo sem poder citar esse nome, porque ele não era oficialmente investigado, havia uma suspeição por conta de situações que o colocavam aparentemente na cena do crime ou no ambiente, e ele não conseguia responder a três versões, e por conta de várias situações; e era um caso, tinha tudo para ser muito delicado, era muito delicado, mas para ser derrubado moralmente, para ser questionado, nós tivemos uma cobertura ao longo de um ano, nós tivemos uma carta de alguém questionando a cobertura moralmente, achando que a gente tava perseguindo moralmente uma pessoa e isso não foi de fato o que aconteceu; esse foi um projeto que foi finalista do Prêmio Esso, eu lembro do dia que a gente foi descrever o assunto, envolvia o capelão que desviava do dinheiro, que usava dinheiro para programas sexuais, que era suspeito de dois assassinatos, que tinha uma série de irregularidades, ele acabou depois respondendo na justiça, foi absolvido na justiça militar por falta de elementos mais contundentes, mas foi condenado pelo desvio de dinheiro, e teve que repor os cofres públicos com valores bem significativos; mas mostrou que a própria investigação do assassinato era muito frágil, a gente conseguia dar informações que avançavam além do que a apuração militar, a apuração da própria polícia andava, a gente conseguia sempre tá com algumas casas na frente, a gente conseguia entrevistar personagens, conseguia entrevistar coisas ligadas ao caso que avançava muito mais, a gente conseguiu, por exemplo, escrever que a perícia usou uma máquina fotográfica que o filme só foi entregue muito depois né? Por que não tinha foto com celular; o local do crime foi alterado, o que mais? Tô tentando lembrar aqui das situações, mas assim, a gente conseguia avançar nesse caso bastante, foi um ano de cobertura desse caso, assim, muito trabalhosa para usar aquela situação que contei antes dessa questão dos detalhes, e eu e o Demitri nós ficamos mergulhados nesse caso de fato, a gente trabalhava dia de folga, final de semana, dobrava, voltava com informação nova, eu nunca contei quantas matérias nós publicamos, mas um dia eu vou fazer esse levantamento para contar e foi bastante coisa e realmente assim, se há uma coisa que eu queria que tivesse um desdobramento jornalístico era saber quem foi que matou; até o próprio comandante da base aérea chegou a ser apontado como possível envolvido, mas foi descartada. Eram ambientes muito complicados, sempre foram, sempre serão, e que nós estávamos assim numa transição, fazia dez anos, quinze anos que a havia ditadura no país, e a gente conseguia entrar em ambientes que deram bem difíceis de entrar, e a gente conseguia informações que mostravam que aquilo não era um ambiente imaculado, não era um ambiente que não cometia erros, os militares não cometem erros, os militares cometem erros, cometem crimes, não todos, mas cometem, cometem crimes, erros, e devem responder por isso, a gente mostrava que havia distorções dentro do ambiente militar que não deveriam acontecer, assassinatos, desvio de pneu, um acidente que deveria ter sido contado no dia e não foi.

Léo Victor: No dia 5 de setembro de 2023, o senhor redigiu uma matéria que falava sobre a redução da pena de Antônio Jussivan Alves dos Santos, o Alemão, que foi um dos mandantes do assalto ao Banco Central, e cita esse como, ainda hoje, o maior furto que já aconteceu no Brasil. O senhor participou da apuração desse caso na época. Como foi a condição inicial desse caso?

Cláudio Ribeiro: O furto ao Banco Central é uma cobertura muito grande, uma das maiores que o jornal já fez de aprofundamento, de relevância. A redação inteira trabalhou nesse caso. Na fase inicial, foi um assunto que dominou o noticiário local e nacional por muito tempo e que se você contar essa história hoje, ainda tem repercussão e interesse de leitura. Tem um personagem que chamou muita atenção, o Alemão, ele está preso, ele teve uma redução de pena mas ainda responde por outros crimes. Em relação ao próprio furto ele já está preso há bastante tempo, desde 2007. Ele vive em transferências entre penitenciárias federais, porque ele tem uma periculosidade descrita pela justiça como muito alta, e isso é perfil que o mantém lá. Em penitenciárias federais de Catanduvas, Rio Grande do Norte, Roraima, Brasília, já passou por algumas. O furto ao Banco Central é um caso muito grande, que envolve muito dinheiro, cento e sessenta e cinco milhões, envolve um plano muito bem tramado de cavar um túnel por debaixo de uma avenida, de uma caixa forte até então inviolável, um grupo com quinze, vinte escavadores, que depois acabou sendo um dinheiro que foi para vários caminhos e alimentou outros crimes, e parte do dinheiro não foi encontrado o que também alimenta várias versões de que ainda tem dinheiro enterrado ou que tem gente que tá vivendo disso. A corrupção policial e o crime dentro do crime acabou, também, matando gente, sequestrando gente da própria quadrilha, acabaram acontecendo vários crimes dentro da história do furto ao Banco Central, na cobiça pelo dinheiro que já virou documentário, já virou filme, já virou entrevista, teve gente que já se aposentou, que já foi solto, que já cumpriu pena por outros crimes, que foi preso denovo, muitos foram mortos. É uma história que vai ser difícil de acabar pelo imaginário na época que a cidade viveu de todo mundo achar que havia dinheiro ali perto, acabou se criando uma imagem de um crime perfeito que enganou a polícia e que depois teve um trabalho de investigação muito exitoso, que prendeu muita gente sem dar tiro, a investigação policial teve muito planejamento, e eu falo isso porque a gente conheceu bastidores, gente que trabalhou, entrevistamos o delegado várias vezes e virou uma fonte de informação, criou um canal de contato muito sincero, nós perturbávamos muito como jornalistas, mas nós tentávamos sempre chegar atrás dele com informações, não só com especulações. Isso também credibilizava a cobertura, o jornal inteiro. Então quando, no dia 8, se descobriu que havia um túnel e que haviam levado 3 toneladas e meia de cédulas de cinquenta reais não rastreáveis, se viu que era um plano muito bem feito, até então muito exitoso. Depois eles foram pregando, a gente conseguiu áudios, dez anos depois nós escutamos a história com imagens da caixa, nunca havia sido mostrado, então nós mostramos, gravações dos bastidores nunca tinham sido mostradas, o cara pedindo no telefone “vai ali e compra um quilo de liga para amarrar cédulas e mais cédulas de dinheiro levado”. Eles escutando doidos pra gastar o dinheiro, nós conseguimos contar essas histórias em material inédito dez anos depois. Quinze anos depois nós contamos mais histórias inéditas. Dezoito anos depois você me relembrou de uma matéria do Alemão que ainda tá com pena sendo reduzida. Então é um caso que ainda está em aberto, é um caso que vocês talvez contem essa história nas redações quando vocês estiverem lá.

Léo Victor: A gente sabe da influência que a imprensa teve na captura dos criminosos, pela constante divulgação de informações sobre os assaltantes e seu modus operandi. Por conta dessa cobertura midiática intensa sobre o caso, você sentiu que, em algum momento, sua segurança poderia estar correndo risco?

Cláudio Ribeiro: Não, eu até discordo de que a influência tenha sido muito da imprensa, eu acho que teve um trabalho crucial, que foi relevante, que foi bem feito, e eu acho que a cobertura era necessária, ela era lógica de acontecer porque foi um caso que teve um interesse muito grande e a segurança nunca me passou pela cabeça em relação a esse caso de correr risco, em outras situações talvez, mas não por essa história. A gente rodava em locais atrás de histórias que não estavam sendo contadas. Isso era um perfil que a gente tentava buscar. A gente fez nessa cobertura do furto ao Banco Central, por exemplo, a gente mostrou como as quadrilhas se organizavam no Nordeste para cometer crimes de grande monto como esse. Era uma operação toda compartimentada, havia o pessoal que fornecia arma, que financiava o crime, que faria a lavagem de dinheiro, pessoal que trabalharia no operacional do próprio furto, da escavação, e como é que essas quadrilhas se encontravam, se conectavam, como os personagens faziam os seus elos. Então as quadrilhas fazem isso o tempo todo, elas vendem serviços. A gente contou um pouco disso nessa série na época, foi um aprofundamento, uma fundamentação do crime organizado para um episódio de assalto. O furto qualificado é um crime de pena muito branda em relação a um homicídio, a um sequestro, a um crime de maior gravidade. Furto qualificado é um plano para tirar o dinheiro de alguém sem ser visto. Furto qualificado tem um planejamento maior, mas ele é mais pensado, mais elaborado, mas se precisar, o cara tá armado. A imprensa não tava no alvo deles, acho que eles estavam ali interagindo entre eles, estavam sequestrando eles mesmos, a polícia que estava sequestrando eles, eles estavam escondendo dinheiro, estavam fugindo de extorsões. Isso que aconteceu. O crime teve esse perfil. Então virou um redemoinho dentro da própria quadrilha. Os familiares foram ameaçados, foram sequestrados, a gente se escondeu, dinheiro escondido, eles tinham medo de, por estarem com aquele dinheiro, pelo tamanho… Então talvez, corrigindo o que você falou, a influência tenha sido porque ganhou esse imaginário de um crime perfeito, que não foi, tanto que 130 pessoas, mais ou menos, chegaram a ser presas e condenadas. Havia um burburinho de que semanas antes haveria um grande crime em Fortaleza, a Polícia Civil do Ceará sabia disso, mas não se sabia onde. Se dizia que o planejamento era que o furto acontecesse na semana do Fortal, pois a polícia estava mobilizada para fazer a segurança do evento, onde estava a multidão. Enquanto a multidão estava ali, os criminosos estavam aqui atrás escavando o túnel e tirando dinheiro. Houve um atraso porque a rede de tubulação de água e esgoto debaixo dessa avenida, eles tiveram que fazer um desvio de túnel. Então isso aumentou o tempo, acabou aumentando o trabalho deles e conseguiram adiar exatamente por uma semana após o Fortal que houve o furto. Eles queriam ter feito no Fortal, porque aí teria menos polícia mirando aquela ação deles. Mas tem personagens específicos que não apareceram, essas histórias talvez não apareçam. “Como é que eles tiveram acesso a planta todinha do Banco Central?”, tem umas histórias que já foram contadas, não todas. Então isso o jornalismo ainda vai conseguir contar.

Lyssa Santos: Atualmente, como é a sua rotina como repórter especial e colunista do jornal?

Cláudio Ribeiro: Eu trabalho de manhã e à tarde, geralmente. Tenho minhas rotinas pessoais, correr, academia, tomar uma cerveja, mas na minha rotina profissional, eu costumo entrar às 8:30/9:00 no jornal e fico até 17:00/18:00. Eu costumo trabalhar em pautas de investigação e aprofundamento, em histórias, em casos. Geralmente eu trabalho mais de uma história ao mesmo tempo, sempre procurando duas, três, quatro coisas ao mesmo tempo. Conto histórias que chegam durante uma apuração e, eventualmente, factualidades. Eu apuro a coluna paralelamente, eu tenho histórias já pré-amarradas, contatos feitos, e a minha coluna conta histórias, eu não só interpreto um caso, eu faço uma apuração, eu vou a locais, eu converso com pessoas, eu demando com a apuração, não é uma coisa que eu vou, faço contato telefônico e escrevo, não é uma coluna de notas, é uma coluna de apuração. O perfil da coluna é esse. Então eu trabalho reportagem, trabalho a coluna e trabalho a boa factualidade, recebo informação, recebo um contato, recebi uma sugestão, alimento a editoria. Hoje eu sou ligado a editoria de cidades, eu era repórter de qualquer editoria, poderia fazer uma matéria de cultura, de economia, de cidades, de investigação ou projeto especial, ainda estou ligado a projetos especiais, fazer coberturas que demandam viagens, mas hoje eu estou na demanda da editoria de cidades, sou repórter especial da editoria de cidades, podendo ser puxado para alguma cobertura eventual se necessário.

Camila Maia: Cláudio, após mais de 30 anos de produção e mais de 40 prêmios recebidos, há algo a mais que você deseja alcançar? O que esperar de Cláudio Ribeiro do futuro?

Cláudio Ribeiro: Acho que assim, a gente tem uma vida muito bonita, tem coisas que a gente quer fazer, tenho vários projetos que eu já quis fazer e não pude, eu não tenho um Mestrado, eu tenho uma Graduação, eu não tenho Doutorado, eu tenho uma Graduação, eu tenho vontade de fazer Mestrado e Doutorado e a possibilidade de ficar um tempo desligado da profissão ou não me dedicar ao Mestrado e ao Doutorado, eu prefiro não iniciar, prefiro fazer me dedicando a eles. São projetos pessoais, eu quero fazer um livro, eu tenho esses projetos, tenho vontade de fazer uma longa viagem jornalística. Tenho ideias, não tenho dinheiro para bancar essas ideias, mas espero que venha aparecer. Acho que todo jornalista meio que transita por esses projetos de futuro. O passado é muito interessante, o presente é muito envolvente, em alguns momentos, e o futuro pode ser revelador. Eu ainda quero ter essa revelação do que vai ser o projeto, se for no jornal, se for fora do jornal. Falo aqui abertamente sem nenhuma margem em relação a isso, mas eu tenho, claro, tenho um tempo de redação bom, queria explorar outras possibilidades. Eu aprendo muito na redação com uma faixa etária muito mais nova. Aprendo demais, de verdade. Essa interação me motiva muito ainda, e queria ainda a permanência de gente experiente na redação para ainda reavivar o fazer jornalismo, porque eu acho que tem que ter a mescla da experiência com o novo olhar jovem. Essa interação é muito boa, as redações vivem disso e essa permanência na redação é cada vez mais rápida, muito cíclica, a presença e eu queria que fosse mais ativada a permanência de jornalistas que pudessem fazer reportagens. A reportagem é muito presente no jornal e ela precisa ser ainda mais. Eu queria descobrir, aprender algumas novas linguagens, algumas coisas que eu estou vendo, eu queria vivenciar, talvez seja essa a palavra. Isso ainda me faz querer estar sendo jornalista, fazer jornalismo, apurar, descobrir, contar a letrinha miúda, a minúcia de uma história, eu quero ainda contar, encontrar personagens, dar voz e espaço para essas pessoas. Eu acho que um jornalista tem que fazer isso, ele tem que encontrar direitos nos outros, direitos coletivos, direitos individuais, ele tem que contar histórias de grupos ou de pessoas, ele tem que encontrar anônimos e pessoas públicas sobre suas responsabilidades que devem ser cumpridas como gestores, os papéis que cada um exerce. Eu acho que o jornalista tem que transitar nessas searas e eu ainda me motivo a fazer isso. Talvez vocês sejam colegas de redação da gente, vai haver uma interação como jornalista com vocês chegando na redação. Eu já cheguei na redação e também me motivei com um novato e eu ainda me sinto interessado em interagir com isso, ainda quero muito fazer isso. E se for em uma redação meu projeto acontecer, a viagem, a descoberta, contar a grande história, percorrer o sertão com outro olhar. Nós percorremos o sertão várias vezes, fizemos um livro sobre a cobertura do sertão pelo jornal OPovo. Contamos personagens, os lugares, as histórias do sertão, a mística, a formação cultural, a formação religiosa, contamos a natureza do sertão, épocas do sertão, a literatura do Quinze da Rachel de Queiroz, nós revisitamos cem anos depois Quinze da Rachel de Queiroz. Nós queremos contar histórias assim, como é que é esse semiárido de hoje que é diferente. Eu não sei qual é o meu futuro, o que é bom e me dá possibilidades maiores até do que eu só mirar em uma coisa.

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