Conhecimento e raça: uma aproximação necessária

Giovanna carvalho
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readDec 7, 2022

Aos 28 anos, Amon Elpídio reflete sobre sua infância, sua experiência na universidade e seu processo de autoconhecimento e aceitação

Por Giovanna Carvalho

Amon recebendo distinção acadêmica (Magna Cum Laude) da UFC/ Arquivo pessoa.

Nascido em Juazeiro do Norte, no ano de 1994, Amon viveu sua infância no bairro de Novo Juazeiro, junto a sua mãe e seu pai. Apesar de a figura paterna não se fazer inteiramente presente em sua infância, uma vez que seus pais não eram casados civilmente e seu pai seguiu em outras relações, Amon afirma que seu pai sempre foi sua maior referência, tanto em relação ao seu comportamento, como para sua carreira acadêmica.

Relembrando sua infância, Amon relata como se sentira diante do bullying que sofreu por questões raciais. Para ele, a violência que suportou por parte de seus colegas de escola afetou diretamente a visão que ele tinha de si mesmo.

Eu tinha um pensamento de que eu queria fazer alguma coisa pra não ter mais essa cor. Você ouve tantas coisas sobre sua aparência que esse ódio gratuito acaba reverberando em você, e você acaba compactuando com aquela ideia. Ouvir essas coisas o tempo todo faz com que você pense que tem características ruins perante o social.

Ele fala com tranquilidade e resiliência. Não é possível perceber em sua voz alguma vulnerabilidade que aquelas memórias possam desencadear, pelo menos não por meio da tela do monitor. No entanto, consigo notar em sua postura um ar orgulhoso e em sua voz a força de quem sabe que, mesmo que aquilo o tenha afetado, não o define.

Amon destaca que foi o primeiro de seus irmãos a entrar na universidade, feito que ele definiu como a “realização de um sonho”, uma vez que ele sempre teve o propósito de cursar o ensino superior. Ele relata que, nessa época, estava tentando se entender como pessoa preta, e a universidade foi fundamental para ele nesse quesito. “Eu entrei na universidade como cotista, na cota de negros, e eu me senti num lugar feito para pessoas como eu”, declara.

Enquanto relata o quão transformadora foi a experiência de estar na universidade pública e o quão impactante foi perceber o papel que a universidade desempenha na sociedade, tive a impressão que, talvez, quem olhasse em seus olhos naquele momento, seria transportado para a universidade de alguns anos atrás.

Amon em sua graduação no curso de Gestão de Políticas Públicas (UFC) / Arquivo pessoal

Eu sinto o ímpeto de que eu tenho que contribuir e retribuir de alguma forma, porque a formação que eu adquiri foi tão grande que eu não seria quem eu sou se eu não tivesse entrado na universidade. Até meus pensamentos sobre as questões de infância e adolescência estão conectados com a minha vivência enquanto estudante do ensino superior.

Ele cursou Gestão de Políticas Públicas na Universidade Federal do Ceará (UFC), entre 2016 e 2019, um curso que abriu janelas para o mundo, mexeu com sua criticidade sobre a realidade social e lhe fez buscar novas experiências. De modo que, no ano de 2020, concorreu a uma bolsa de mestrado no exterior para cursar Direito Internacional e Europeu. Levou na mala o orgulho dos saberes aprendidos e do próprio eu.

Amon em uma excursão para o Neuschwastein Castle, na Alemanha / Arquivo pessoal.

Destemido, apaixonado por cada nascer do sol e entusiasmado pelo novo, Amon é um aprendiz da vida, vida esta que só tem valor se, dentro dela, estiverem amigos, família e natureza que carrega como água em correnteza, nos rios de sua vida. Amon é raça, é filosofia, é o social, é quem não tem medo de dar um passo à frente. Acima de tudo, Amon é ele mesmo, e é admirável por isso.

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