A derrota dos verde-amarelos na Copa América

Danrley Pascoal
EntreFios - tecendo narrativas
5 min readJul 29, 2021

[ARTIGO] Se tiveram vencedores pelo lado do Brasil, mesmo que de forma simbólica, esses triunfantes foram os que lutam pelo resgate da camisa verde-amarela como símbolo exclusivo de uma seleção pentacampeã mundial

Por Danrley Pascoal

Seleção argentina quebrou o tabu de 28 anos sem títulos / Lucas Figueiredo/CBF

A seleção brasileira de futebol passou a ser foco de uma série de críticas e de torcida contra e a favor desde que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aceitou o convite de Rogério Caboclo, agora ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), para sediar a Copa América em substituição à Colômbia e à Argentina, que desistiram por conta de protestos políticos e pelo agravamento da crise sanitária devido a Covid-19, respectivamente.

Levados pela polarização que toma conta do país, os brasileiros se dividiram e passaram a ter opiniões divergentes em relação aos canarinhos, como é chamada carinhosamente nossa seleção.

Antes de expor um pouco da minha visão sobre o desfecho das questões que envolveram a seleção, abro parênteses para colocar algo importante sobre a tal “polarização” vivida no Brasil. Não temos dois extremos, como parte da mídia tenta emplacar. Lula não é o outro extremo do fascismo propagado por Jair Bolsonaro. A polarização tem, de um lado, os que defendem a vida e a democracia, e do outro, os que propagam ódio e discursos antidemocráticos.

Muito se discutiu sobre a realização ou não da Copa América no Brasil, debate esse que parece ter sido feito mais pela mídia que pelos atletas das seleções que entraram em campo. Essas questões desgastaram ainda mais a imagem da seleção. Em algum momento, o silêncio dos jogadores fez o ódio e as críticas de ambos os lados da polarização serem direcionados para os selecionados da CBF. No fim, dado o desgaste desnecessário, da decisão do Brasil de sediar a Copa América até o início das partidas, a seleção viu o placar ficar desfavorável. Na competição precisaria virar o jogo.

O torneio começou sem chamar muita atenção, nem mesmo dos bolsonaristas que defendiam sua realização. O desprestígio da competição devido aos milhares de mortos diários por conta da pandemia e o fato de o certame acontecer quase todo ano, somado às transmissões não estarem acontecendo na TV Globo pela primeira vez em muito tempo, fizeram a Copa América ter baixos índices de audiência. Os jogos dos verde-amarelos não liderou o Ibope em nenhuma das principais praças do país.

Os patriotas que viam na seleção o símbolo do amor à pátria (“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”) se perderam numa identificação que não existe. Temos hoje uma seleção sem identidade e representatividade política. Esta última nunca existiu. Essa expectativa de que jogadores iriam boicotar a Copa América ou mesmo se posicionar a favor do presidente da República veio do imaginário de pessoas que esquecem o fato de, historicamente, atletas não usarem a força da camisa da seleção para suscitar atos políticos.

Jogador clássico dos anos de 1980 e líder do movimento “Democracia Corinthiana”, Sócrates, que atuou pelo Brasil entre 1978 e 1986, tem poucos fatos históricos registrados em que usava politicamente o ambiente da seleção. A verdade é que jogadores entendem que ali é preciso manter uma neutralidade, porque a seleção é de todos os brasileiros, não há espaço para externar suas convicções políticas.

Nível técnico pobre

Com a Copa América acontecendo, o futebol do Brasil dividiu opiniões, de forma geral, o nível técnico do torneio foi bem pobre. Nenhuma seleção mostrou qualidade para ser campeã. A seleção canarinha contou com a organização defensiva habitual e com a qualidade individual de Neymar. Nesse esquema, chegaram à final. Do outro lado, veio a Argentina de Lionel Messi, que não vencia uma competição desde 1993, os albicelestes chegaram pressionados ao torneio. Talvez aqui, no Brasil, fosse a última chance de uma geração que perdeu uma final de Copa do Mundo e duas finais de Copa América quebrar um tabu de quase três décadas.

Todas as expectativas estavam em Messi. O jogador do Barcelona teve no geral um bom desempenho na competição: foram 4 gols e 5 assistências. Na final, o argentino não teve muito destaque. Quase ninguém teve, na verdade. Num jogo pobre e de baixa qualidade, o Brasil dependia de Neymar. Bem marcado pela seleção argentina, o craque da seleção brasileira não teve chances. Para vencer e decretar o fim do tabu, os albicelestes tiveram em Rodrigo Javier De Paul e Ángel Di María os destaques da partida.

Em lançamento da intermediária, o novo meio-campista do Atlético de Madrid encontrou o companheiro de Neymar no Paris Saint-German livre pela direita do ataque. Após falha de Renan Lodi, Di María só teve o trabalho de tocar a bola por cima de Ederson para marcar o gol solitário, que deu o 15° título da Argentina em Copa América.

Balanço final

De forma geral, a Copa América foi bem ruim para a seleção brasileira. Antes do torneio, era quase unânime a disparidade existente entre o Brasil e as outras seleções, mesmo que ainda se colocasse os canarinhos distante das grandes forças europeias.

Após a derrota para a Argentina, com futebol pobre e inoperante, dependente da individualidade de Neymar e cheia de jogadores sem protagonismo em partidas decisivas, a seleção teve sua pior derrota. Um combo, “diga-se de passagem”: falta de identidade com os dois polos do cenário político do país; vários questionamentos em relação à qualidade dos atletas e do futebol apresentado; e muitas incertezas em relação ao trabalho de Tite e do seu potencial para vencer a Copa do Mundo ou mesmo fazer o Brasil jogar bem.

A verdade é que os verde-amarelos sofreram sua principal derrota desde o 7 a 1 contra a Alemanha. Principalmente porque viram a grande rival vencer no Maracanã, templo sagrado do futebol mundial.

Se tiveram vencedores pelo lado do Brasil, mesmo que de forma simbólica, esses triunfantes foram os que lutam pelo resgate da camisa verde-amarela como símbolo exclusivo de uma seleção pentacampeã mundial, e não como marca de um momento histórico fascista e antidemocrático do país.

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Danrley Pascoal
EntreFios - tecendo narrativas

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará. Graduado em Gestão Desportiva e de Lazer pelo Instituto Federal do Ceará.