A dívida humana e a esperança

[CRÔNICA]

Por Danrley Pascoal

Viver é uma jornada que, sem esperança, nada faz sentido / Reprodução/freepik.com/jcomp

A situação nunca foi fácil: acordar às 4 horas da manhã, tomar banho, escovar os dentes e se arrumar quase que ainda dormindo era torturante. Esses movimentos durante os três últimos anos de sua vida o tornadoram quase que um robô. Já não via a hora de tudo aquilo acabar.

O trágico daquela situação era o simples fato de que aquele trabalho não parecia fazer sentido. Por que se esforçava para fazer algo que não era prazeroso? A realidade era dura e imutável, pelo simples fato de, ao nascermos, não podermos ignorar a força da mão invisível em nossas vidas.

Viver era caro, e ele quase não vivia, o que é irônico, já que vivia para trabalhar, buscando manter uma vida que nunca viveu. Este é o mundo moderno, que desde cedo ensina que é preciso pagar uma conta adquirida por você e nem se sabe como esse débito aconteceu.

A realidade é que, se houvesse algum meio de tudo aquilo acabar e uma nova vida começasse sem dívida a ser paga em parcelas dolorosas de energia humana, ele não pensaria duas vezes. Nem pensaria, mudaria seu endereço para esse local que um dia já existiu. Tempos remotos onde nada mais preocupava ao homem. E se algo o afligia, era o trabalho de dar nomes às coisas e aos bichos.

Pegou-se pensando que viver ainda parece ser algo bom. Apesar de dever pelo que não usou e pagar todo dia com suor e dor, ainda assim acredita que é preciso ter esperança. Mesmo com uma dívida impagável, o ser humano ainda acredita que algo vai mudar, e a vida que só suga e pouco oferece se mostrará valorosa e gloriosa.

Nada é mais ser humano que isso, essa fantástica capacidade de ter esperança, mesmo quando parece tolice. Viver é uma jornada que, sem esperança, nada faz sentido. Ela é a droga lícita que permite ao homem continuar lutando uma luta que parece perdida.