Uma Cruella nem tão cruel assim

[OPINIÃO]

Por Ana Vitória Marques

Estella, a jovem e talentosa estilista. Créditos: Reprodução/Disney

Cruella, o mais novo live-action da Disney, foi lançado há poucas semanas e já tem conquistado o gosto dos críticos e dos apaixonados pelas histórias da produtora de Mickey Mouse.

O filme conta a história da conhecida vilã Cruella quando ainda era Estella, interpretada por Emma Stone, uma jovem rebelde, autêntica e com um estilo ímpar que não se encaixa nos padrões da sociedade, sendo criada pela sua doce mãe, que a apoia em suas ideias.

O enredo é construído buscando uma contextualização da trajetória de vida de Cruella De Vil, numa tentativa de explicar o porquê de ela ter se tornado quem é. Em muitos momentos é difícil associar a Estella da história com a terrível vilã que mata dálmatas. É um processo de humanização da personagem que nos faz lembrar o personagem Arthur Fleck de Coringa (2019), brilhantemente interpretado por Joaquin Phoenix, o que nos faz simpatizar com a vilã e torcer por ela, ainda que discordemos de suas atitudes.

Estella perde a mãe de forma trágica quando ainda era pequena e se vê sozinha e òrfã em meio à grande Londres dos anos de 1970. Esse acontecimento deixa profundas marcas nela e vai ser a situação clímax e catalisadora de todo o processo de transformação de Estella em Cruella De Vil. Já na cidade, a menina se encontra com dois pequenos vigaristas, Gaspar (Joel Fry) e Horácio (Paul Walter Hauser), e os três crescem se virando sozinhos como uma família de ladrões.

Com o seu talento para a moda, Estella é descoberta pela baronesa Von Helllman (Emma Thompson), ícone fashionista da época. A relação entre as duas e as descobertas sobre a baronesa e seu passado são o estopim para a transformação da jovem estilista na vingativa vilã. Esse processo é bem desenvolvido durante o enredo, no qual você vê claramente os traços da Cruella surgindo e tomando o espaço da Estella. Emma Stone interpreta com maestria a dualidade divergente de ambas as personalidades.

Cruella, seus cachorros, Horácio e Gaspar; a estética punk dos anos 1970 é muito presente durante todo o filme, seja no estilo das roupas, seja nas cores e trilha sonora / Reprodução/Disney

Apesar de possuir mais de duas horas de duração, o filme flui com naturalidade e de forma instigante. Durante a narrativa, sobretudo nas criações e planos de Estella/Cruella, nos lembra muito a atmosfera das renomadas séries Lupin, baseada nas histórias de Àrsene Lupin, o ladrão cavalheiro, e Sherlock Holmes, derivada da obra de Sir Arthur Conan Doyle, e sua genialidade como detetive.

Como pontos de destaque que fizeram da narrativa um enredo animador, estão a trilha sonora, que conta com hits de bandas como Supertramp, Bee Gees, Queen e The Clash, e as roupas criadas por Estella/Cruella com inspirações do punk londrino dos anos 1970. Essa estética acompanha também toda a sonorização e as cores do filme. Além disso, a presença dos cachorros é constante e importante na trama.

Faltam à trama algumas contextualizações em partes do filme, além de uma participação mais expressiva de alguns personagens. Contudo, isso poderá ser melhor desenvolvido nas próximas produções da franquia. O filme termina com um incrível gosto de “quero mais”, deixando-nos ansiosos pela continuação e pelas próximas aventuras da vilã nem tão má assim, pelo menos nessa primeira produção.

--

--