Da beira do rio ao sucesso

Aline Barbosa Neri
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readJul 18, 2022

Nascida e criada aos berços do rio Madeira, no Amazonas, Arlene da Costa Barbosa nos leva numa viagem no tempo pela sua trajetória de vida até a cidade grande

Por Aline Barbosa Neri

Arlene Barbosa em 2022 / Arquivo pessoal

Caçula de oito filhos, Arlene da Costa Barbosa nasceu em Humaitá, no Amazonas, em 1964. Criada no sítio, perto do rio, com muito amor e sem luxo, ela teve que aprender a ser forte muito cedo quando perdeu a mãe, aos 7 anos. Esse evento criou as raízes da resiliência da qual a então menina faria muito uso quando mulher.

Arlene conta, com muita clareza, as memórias de quando trabalhava em frente ao Banco Bradesco na sua cidade natal. “Via as mulheres indo trabalhar de saia e salto, muito arrumadas e bonitas, e eu queria trabalhar assim também”.

Determinada, ela então foi pedir emprego ali. Naquela época, não existiam os grandes concursos para ingressar nos bancos e, assim, ela conseguiu seu segundo emprego, que lhe traria muitas felicidades.

Após conseguir a tão sonhada vaga, percebeu que sua cidade tinha ficado muito pequena para os seus sonhos e decidiu pedir transferência para Porto Velho, em Rondônia. Ali, então, ela fez morada. Comprou seu primeiro carro, financiou um apartamento, casou e teve seus filhos.

“Estava sempre com um objetivo em mente, comprava um carro usado, terminava de pagar e já vendia pra poder comprar um melhor, até que, eventualmente, eu consegui comprar um carro zero”, relembra.

Muitos sacrifícios foram feitos pelo caminho. Com dois filhos para criar, a entrevistada diz que se arrepende de não poder ter passado mais tempo com eles, pois estava trabalhando para poder lhes oferecer a melhor vida possível. Dessa forma, ela disse e fez. Seus filhos estudaram em colégios particulares, fizeram cursos de inglês e tiveram (ela diz: quase) tudo. Olhando dessa forma, não parece muito, mas seus irmãos e irmãs continuavam na sua cidade natal, sem muitas oportunidades de mudança e vivendo a mesma vida.

Um dos maiores desafios de sua vida foi deixar Porto Velho. A pedido do marido, iriam se mudar para o Nordeste, a fim de ficarem mais próximos de sua sogra, que mora no Piauí. A ideia de ficar longe de todos os seus amigos e familiares não foi muito convidativa de início, porém ela pensou em seus filhos, em como poderiam ter mais oportunidades lá e, assim, ela aceitou a mudança.

Morou em Campina Grande, na Paraíba, por oito anos. Ela narra com um sorriso no rosto que foram os seus anos mais tranquilos no banco. “Trabalhava sozinha e ninguém me enchia o saco”.

Até que se mudou para Fortaleza em 2015 e, em 2017, após 33 anos de banco, aceitou um plano de demissão voluntária que lhe daria mais segurança do que esperar a reforma previdenciária. E se aposentou.

Aos 53 anos, com um filho de 21 anos e uma filha de 15, ela então decidiu lhes dedicar o tempo que não pôde quando eles eram crianças.

Ela expõe, de forma saudosa, que sente muita falta do trabalho. “Não gosto de ficar sem fazer nada, sabe? Parece até que, quando eu trabalhava, eu conseguia me organizar melhor e fazer mais coisas. Agora, não trabalho e parece que não tenho tempo para nada”, desabafa.

Apesar disso, ela aprecia muito o tempo que passou e passa com os filhos. Teve a oportunidade de apoiar sua filha durante um período de depressão e se tornar mais próxima de seu primogênito.

“O meu trabalho no banco foi que proporcionou muitas coisas boas pros meus filhos. Quando aceitei o acordo para sair, ganhei um bônus e tive a oportunidade de levá-los ao Lollapalooza, foi um momento muito especial para eles”.

A história de Arlene se destaca em meio a tantas outras por sua perseverança e força. Ouvi-la contar sua história deixou claro que ela sempre teve em mente onde queria estar e chegou. Mulher, nascida no interior e com o ensino superior incompleto, Arlene superou todas as adversidades e obstáculos no seu caminho.

Hoje, tem sua casa própria, seu carro e mora em um dos bairros nobres da cidade de Fortaleza. Seu objetivo agora é viajar e conhecer Jerusalém, para poder afirmar sua fé e agradecer a Deus pelo caminho traçado até aqui.

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