“De bem com a vida”

Mulher de fé, Terezinha Matos acredita que o segredo para uma vida plena está na compreensão de que tudo é passageiro — tanto os momentos bons quanto os ruins

Por Gabriel Matos

Terezinha Matos / Arquivo pessoal

“Eu tenho algo interessante a dizer?”, questiona Terezinha diante do convite para ter sua vida perfilada. Respondo afirmativamente, afinal, caso não tivesse, ela não teria sequer sido cogitada como “objeto” deste texto. Reticente, pergunta se precisa tirar foto, pois acha que os cabelos não estão arrumados, ainda que estejam. “Todo mundo tem uma história, né?”, diz, enfim, aquiescendo com a entrevista.

O sotaque, marcado por um chiado forte, chama atenção. Terezinha é natural de Belém. No entanto, tendo morado por mais da metade de sua vida em Fortaleza, sente-se cearense de coração. Afinal, foi na Terra do Sol que construiu sua identidade: encontrou carreira, matrimônio e maternidade.

A criança que um dia sonhou em ser engenheira mudou de ideia e se formou assistente social. Por circunstâncias da vida, foi obrigada a mudar de área aos quase quarenta anos de idade. A transição foi difícil: à reorientação profissional somou-se a instabilidade financeira. Frente às adversidades, Terezinha manteve-se firme e encarou tudo como uma oportunidade de fortalecimento da fé. Espírita, encontrou consolo e esperança na doutrina que já conhecia desde pequena por influência dos pais. Hoje, depois da tempestade, relembra daquela época com calmaria: “Tudo na vida tem jeito e mesmo as situações mais difíceis passam”.

As turbulências se tornam menos sofríveis quando enfrentadas em boa companhia. É o que Terezinha encontra em Antônio, com quem divide a vida há 40 anos, do namoro ao casamento. A união frutificou em vários amores, entre filhos, netas e animais de estimação.

Quando instigada a se descrever, Terezinha diz ser “uma pequenina grande mulher” e, entre risos, acrescenta ser feliz com tudo que Deus a deu. Aos 66 anos, curte a aposentadoria e se sente “de bem com a vida”: gosta de fazer artesanato, maratonar novelas turcas, cuidar de suas plantas, viajar.

Todos têm uma história a contar, e Terezinha não é exceção. Talvez, por ser uma ótima ouvinte, sinta dificuldade de falar de si mesma. Uma conversa mais aprofundada, contudo, revela que sua vida é um testemunho de dedicação aos que ama, resiliência frente às atribulações e fé inabalável nos planos do Criador.

Em seu semblante se vislumbram a sabedoria e a serenidade que somente o tempo é capaz de proporcionar. Se em terra de cego, quem tem um olho é rei, Terezinha, ao tentar ver o lado bom de tudo, é rainha em um mundo que nos dá tantos motivos para lastimar. Em resposta ao seu questionamento inicial, portanto, fica a lição: pessoas que carregam em si a paciência e a bondade como virtudes sempre têm algo interessante a dizer.

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