Declarações de Tabata Amaral contêm informações falsas

Mari Fernandes
EntreFios - tecendo narrativas
5 min readAug 10, 2021

EntreFios checou afirmações feitas pela deputada federal durante entrevista ao canal Flow Podcast, no YouTube

Por Ana Alice Guedes, Jaírlos Marques,
Mariana Fernandes, Millena Araújo e Rogeslâne Nunes

Fonte: Reprodução / Youtube

O site EntreFios checou a veracidade de seis declarações feitas pela deputada federal Tabata Amaral (sem partido-SP), durante entrevista ao Flow Podcast, no YouTube, em 28 de junho.

Entre os assuntos abordados, estiveram a votação da Reforma da Previdência, cotas para maior representatividade feminina na política e pautas aprovadas pela deputada.

Após a checagem, as declarações foram classificadas como “falsas”, “verdadeiras, mas” (quando há ponderações a serem feitas) e “verdadeiras”.

Para a checagem, utilizamos o método de checagem e as etiquetas da agência Lupa, uma agência brasileira de checagem de declarações públicas.

Confira as análises a seguir.

INSUSTENTÁVEL

“Ele (Ciro Gomes) desligou o telefone, eu achando que estava tudo bem. Aí ele sai dando entrevista me xingando, me chamando de ‘vendida’, de ‘traidora’…”

Tabata Amaral declarou que, após seu voto a favor da Reforma da Previdência, em 2019, teria conversado com Ciro Gomes, vice-presidente do PDT, de forma amigável. Entretanto, depois disso ele teria concedido entrevistas chamando-a de “traíra” e “vendida”. Nossas pesquisas não indicaram nenhuma declaração de Ciro em entrevistas utilizando esses termos para se referir à Tabata.

Segundo matérias do Uol e do R7.com, publicadas à época da votação na Câmara dos Deputados, Ciro declarou que estava decepcionado pela atuação da deputada e que ela deveria deixar o PDT, além de afirmar que ele foi quem mais sofreu com a situação da deputada.

Além disso, em entrevista para a rádio Super, de Minas Gerais, Ciro declarou que Tabata “assumiu o protagonismo nacional para defender o indefensável” e que o Partido Democrático Trabalhista tem o legado de Getúlio Vargas, sendo um partido trabalhista.

Em entrevista concedida ao Estadão, poucos dias depois da votação da Reforma, o ex-governador do Ceará declarou que Tabata fez dupla militância. Assim, não há dados concretos que comprovem que Ciro Gomes tenha chamado a deputada de “traidora” ou de “vendida”.

A equipe do EntreFios entrou contato com a assessoria da deputada, mas não obteve explicação sobre o assunto até o momento da publicação deste material.

VERDADEIRO, MAS

“Aí você olha para outros países, na América Latina, México. Lá fora, na França, Ruanda, e você vê que eles conseguiram avançar [quanto à igualdade de gênero no poder legislativo]. Você tem um parlamento que parece mais com o país. Todos eles tiveram algum modelo de cota [para mulheres]”

Tabata afirma na entrevista que os países México, França e Ruanda possuem um determinado modelo de cota em seus parlamentos.

No México, a primeira iniciativa ocorreu em 1990, instituindo que pelo menos 30% dos deputados fossem mulheres. Com o avanço dessa medida, em 2014 foi aprovado um adendo à Constituição Federal Mexicana, impondo a paridade entre homens e mulheres nas listas de candidatos. No dia 23 de maio de 2019, o Congresso mexicano aprovou uma reforma constitucional para instituir a obrigatoriedade de que 50% dos cargos públicos sejam ocupados por mulheres nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, nos órgãos federais, estaduais e municipais, além dos órgãos autônomos.

Na França, não há registros históricos sobre a existência de cotas eleitorais para o parlamento. Contudo, no decorrer dos anos, os incentivos à participação feminina no parlamento aumentaram, principalmente a partir do ano de 1992. Na Constituição francesa, existe um quadro conceitual denominado “mixité” [“misturado”, em tradução livre], que estipula que o poder político deve ser compartilhado “meio a meio” entre homens e mulheres. Esse crescimento obteve seu apogeu com a eleição de Emmanuel Macron em 2017, pois seus cargos ministeriais eram igualmente divididos entre homens e mulheres.

Em Ruanda, existe uma cota de 30% para mulheres elaborada na Constituição do país em 2003. São ao todo 53 assentos e, dessas 53 cadeiras, no mínimo 30% devem ser reservadas para as mulheres.

VERDADEIRO

“[…] Tem até um estudo que mostra que municípios com mais mulher eleita tem uma menor taxa de mortalidade infantil. Cai a mortalidade infantil, por várias razões”

É verdadeira a afirmação de Tabata Amaral em entrevista ao Flow Podcast de que eleger mulheres reduz a mortalidade infantil. Os dados são de um estudo publicado em 7 de julho de 2020 na revista científica “Health Affairs” por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade dos Andes, em Bogotá, e do Banco de Desenvolvimento Interamericano, em Washington.

O estudo foi financiado pelo Projeto de Pesquisa Saúde Urbana na América Latina (Salurbal). O estudo relaciona a presença da mulher — independente do espectro de ideologia política — à queda na mortalidade. A análise dos dados concluiu que a morte de crianças menores de 5 anos no Brasil cai com o aumento da eleição de mulheres nas prefeituras.

VERDADEIRO

“Em São Paulo, eu estou entre as dez [deputadas] que mais economizam [verba pública destinada a parlamentares]”

A partir dos dados fornecidos pelo site da Câmara dos Deputados sobre as despesas relacionadas à Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (Ceap), que custeia gastos com os mandatos, e analisando apenas as deputadas federais eleitas pelo estado de São Paulo, a deputada Tabata Amaral afirma corretamente estar entre as dez que mais economizam.

A candidata eleita ocupa a nona posição quando os dados sobre os gastos das parlamentares são listados em ordem crescente.

FALSO

“Nacionalmente, (estou) entre as 30 que mais economizam. Eu gasto com táxi porque não tenho motorista em Brasília (…)”

Também com base nos dados fornecidos pelo site da Câmara dos Deputados em relação aos gastos parlamentares, em 2021, da Ceap, a declaração da deputada Tabata Amaral é tipificada como falsa, pois fornece informação enganosa, de acordo com os dados antes explicitados, sobre ser uma das 30 deputadas que mais economizam no país.

Tabata Amaral soma, em 2021, gastos em torno de r$ 153.717,96, ocupando, assim, a 51º posição em ordem crescente de gastos pelas deputadas federais em âmbito nacional.

A equipe do EntreFios entrou em contato com a assessoria da Tabata, mas até a publicação não obteve respostas.

VERDADEIRO

“Na pauta das mulheres, a bancada feminina é muito unida. Eu fui coordenadora da bancada nos últimos dois anos, a gente aprovou quase 30 projetos em um ano. Pensa no que são 77 mulheres em um ambiente de 513 deputados aprovarem vinte e poucos projetos, porque a gente se unia […] A gente conseguiu aprovar um projeto para esse tipo de abuso numa audiência pública”

Na declaração, Tabata diz que foram “quase 30 projetos aprovados”. Em um mapeamento, o instituto Vamos Juntas — com direção da própria deputada federal — mostrou que a bancada feminina foi responsável, no ano de 2020, por aprovar ao todo 24 projetos de leis.

Uma das principais propostas sancionadas foi a PL 5091/2020, que propõe o amparo institucional para vítimas prejudicadas e humilhadas em audiências públicas. O texto teve como base o julgamento do caso da blogueira Mari Ferrer.

Mesmo não especificando o ano de tantas aprovações, a equipe do EntreFios por meio de pesquisas, constatou o ano de 2020 como referência para a autora da declaração. Segundo a biografia da deputada federal no site do Congresso Nacional, Tabata Amaral foi a terceira coordenadora adjunta de 10/04/2019 a 15/04/2021.

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