Dias melhores virão

Hudson Vieira
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readDec 5, 2023

Apesar de mudanças bruscas e perdas doloridas, dona Mazé se manteve forte para ajudar aqueles que mais precisavam dela

Por Hudson Vieira

Dona Mazé em 2012 / Acervo Pessoal

Maria José da Silva Maciel, conhecida carinhosamente como dona Mazé, nasceu em 23 de dezembro de 1936 na região onde hoje fica a comunidade Moura Brasil, à frente do mar, nas proximidades do hotel Marina Park, em Fortaleza. Viveu por lá grande parte de sua vida, antes de ser forçada a se mudar por conta do avanço do mar no local.

Seu pai, José Mário Maciel, era um pescador do município de Camocim, no litoral do estado, que veio para Fortaleza com a família em busca de melhores oportunidades na grande cidade. Como muitas crianças de sua época, ela teve de abandonar a escola para começar a trabalhar desde cedo para ajudar com as necessidades de casa. Começou como doméstica em casas de famílias na Aldeota, além de vender roupas junto à sua tia pela região do bairro Antônio Bezerra.

Na adolescência, conheceu aquele que se tornaria o seu eterno companheiro, Francisco Maciel, um sapateiro, mais conhecido como Chico. Teve sua primeira filha aos 21 anos, Maria Verônica. Ao todo, Mazé teve nove filhos, mas apenas três conseguiram sobreviver. A perda de seis crianças mudaria qualquer mãe drasticamente, e com dona Mazé não foi diferente, tornou-se uma pessoa mais quieta e fechada em comparação àquela que vivia com sorriso no rosto e amiga de todos, segundo sua filha Verônica.

Em 1970, chegou à Jurema, um bairro da cidade de Caucaia que ainda estava se formando na época, sendo, junto de sua família, uma das primeiras a habitarem a região. A mudança foi complicadíssima, visto que estava se deslocando do lugar onde nasceu, cresceu e construiu muitas memórias durante 34 anos de sua vida para uma região ainda cheia de incertezas.

Sabia, contudo, que não poderia ficar com essas incertezas na cabeça, tendo agora que construir uma nova moradia para viver, quase que do zero. Junto à sua filha, começou a fazer e a vender pratos de comida para os operários que trabalhavam na região, conseguindo gerar uma renda extra para conseguir garantir não só a sobrevivência, mas também proporcionar uma qualidade de vida melhor para sua família.

Família essa que não parava de crescer. Seus três filhos começaram a construir suas próprias e fizeram questão de ficar próximos à mãe, para que a nova geração tivesse a oportunidade de receber os mesmos ensinamentos que obtiveram dela. Sempre fez questão de ensinar a seus filhos, netos e até bisnetos a humildade, a sempre ajudar o próximo quando o visse necessitando de algo, a sempre buscar evoluir e a ser melhor, mas sempre lembrar e valorizar o lugar de onde vieram; e também a continuar sendo forte, apesar das pancadas da vida, sempre acreditando que dias melhores estão por vir.

Em 2013, um ano depois da partida de Chico, seu companheiro de uma vida inteira, dona Mazé, aos 76 anos, partiu desse mundo para se juntar novamente ao amor da sua vida, tranquila e tendo certeza de ter cumprido seu papel como mãe e avó. E cumpriu mesmo. Sua família ainda carrega seu legado e ensinamentos para as novas gerações.

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