Diretamente do divã cearense

vanessa alves
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readApr 14, 2021

Balançando-se em sua rede, a psicóloga e assistente social Ana Cláudia Oliveira se desloca para a condição de “paciente” e reflete sobre sua trajetória como mãe, profissional e cidadã

Por Vanessa Alves

Cláudia em entrevista sobre trabalho infantil para a TV Terra do Sol / Arquivo pessoal

Ana Cláudia. Ana para os íntimos. Cláudia para os menos próximos ou para fins profissionais. Ela é a sexta filha dos oito de Antídio e Maria Lêda. Não chegou a conhecer um de seus irmãos, mas brincou bastante com os outros seis.

Teve uma infância sem luxo e, nas férias, sempre visitava a família em Juazeiro do Norte, pois seus pais eram umas das poucas pessoas da família que vieram morar na capital alencarina. Cláudia conta que chegava a ir a pé da casa de um avô para a do outro no interior.

Ela estudou na turma de 1986 do Colégio Cearense Sagrado Coração. Ainda conserva amigos dessa época, com quem compartilhou muitas risadas, hoje mediadas por uma tela de celular.

No mesmo colégio, Cláudia se destacava em redação desde criança, e esse talento para a escrita a ajudou a ser aprovada para uma turma de Serviço Social na Universidade Estadual do Ceará (Uece) e para uma de Psicologia na Universidade de Fortaleza (Unifor). Embora tenha concluído os dois cursos, Cláudia, admiradora da psicanálise de Sigmund Freud, optou por seguir, atualmente, a carreira de psicóloga.

Ana Cláudia parece, à primeira vista, uma pessoa tranquila. Bem-humorada, não perde a chance de rir de um meme. Quando mostro algum a ela, ouço um “eu já vi”, acompanhado de um riso.

Seus grandes olhos cor de mel e sua voz serena dão essa impressão de calmaria. Mas é isso: uma impressão. Após alguns episódios traumáticos, como a perda do pai no sétimo mês da primeira gravidez e o quase sequestro do filho, ela se tornou uma pessoa extremamente ansiosa. É possível perceber isso ao relatar-lhe qualquer dor. Ela se preocupa muito e faz várias perguntas com frequência quando os filhos adoecem. Depois, desculpa-se pelo incômodo.

Quando perguntada sobre o setor em que mais gosta de trabalhar, ela responde sem hesitar, deitada na rede, o divã cearense: “Não me imagino em uma área que não lide diretamente com o social”. Essa preferência pode ser observada quando são analisadas as experiências profissionais de Ana Cláudia. Ela atuou como assistente social no Projeto Sentinela, atual Rede Aquarela, atendendo crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. Como psicóloga, Cláudia trabalhou no Núcleo de Prevenção e Redução de Danos, em que dava formações sobre uso de drogas nas comunidades e realizava atendimentos sociais junto à população de rua.

Ana Cláudia tem dois filhos crescidos, uma adulta e outro quase. Está feliz trabalhando como psicóloga na CeGeSUAS. Entretanto, precisa diariamente lutar contra o mito de que um psicólogo consegue superar facilmente qualquer dificuldade, sem sofrimento e sem ansiedade. Pouco a pouco, ela assiste a essa falsa crença se esvair como fumaça.

Dedicou-se e ainda se dedica muito aos seus filhos e ao seu trabalho, mas Cláudia está começando a entender e a aceitar que não consegue e não precisa fingir sempre que está tudo bem mesmo sem estar. No processo de elaboração desse perfil, parece que os papéis mudaram: senti-me uma psicóloga enquanto entrevistava minha mãe em seu divã particular, sua amada rede.

--

--