Discurso de ódio: acesso liberado

Catarina Varela
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readJul 29, 2021

[ARTIGO]

Por Catarina Varela

Captura de tela do aplicativo no Google Play Store / GETTR

Gettr, a nova rede social criada por Jason Miller, ex-porta-voz do ex-presidente americano Donald Trump, foi lançada 4 de julho e alega ser uma “rede não tendenciosa para pessoas de todo o mundo’’.

Bastante similar ao Twitter, o Gettr traz a promessa de “lutar contra a cultura do cancelamento, promover o senso comum, defender a liberdade de expressão e desafiar monopólios das redes sociais”, permitindo que seus usuários escrevam posts de até 777 caracteres. A questão é: quais os limites entre permitir a liberdade de expressão e permitir o discurso de ódio e a desinformação?

A iniciativa da plataforma nasceu depois de o ex-presidente ser banido de diversas redes sociais após determinados tweets seus terem sido considerados pela plataforma como “prejudiciais”, por terem incitado a invasão de seus apoiadores ao Capitólio, a casa legislativa dos Estados Unidos, na tentativa de impedir a posse do presidente Joe Biden.

Depois do seu exílio virtual, Trump ainda se aventurou na criação de um blog pessoal, mas o site não durou nem um mês por falta de audiência. Esse resultado deixou o político descontente, segundo o que um de seus conselheiros revelou ao The Washington Post. No entanto, com apenas um dia do lançamento do Gettr, a plataforma já teria recebido mais de 500.000 cadastros, contou Miller em um e-mail enviado à agência de notícias Reuters.

A rede social — que em sua maioria é formada por apoiadores do ex-presidente Trump e já foi até adotada pelo presidente Bolsonaro e seus filhos — faz nascer uma expectativa: a possibilidade de reunir uma bolha de pessoas que mantêm um discurso extremista, desinformação e manifestação de ódio contra minorias, ou até contra a democracia, sem que os usuários sofram as consequências por serem protegidos pela plataforma que estão inseridos e com a desculpa de que estão “exercendo sua liberdade de expressão”.

Podemos observar isso pelos primeiros trending topics do Gettr, que incluíram as hashtags “#trump,” “#origemdovirus,” “#anr” e “#armabiologicairrestrita”. Além da intolerância, a plataforma “sem censura” atrai sites associados à publicação de notícias falsas. O Pleno.News, um dos portais apontados por disseminar desinformação, criou um perfil na plataforma assim que ela foi lançada.

Diferentemente do Gettr, que não interfere nas publicações de seus usuários, o Twitter expandiu, em dezembro de 2020, sua política de proibição de discurso de ódio para incluir “linguagem que desumaniza as pessoas com base em raça, etnia e nacionalidade”.

Não que o objetivo aqui seja defender o Twitter, pois essa plataforma também é famosa por ter pessoas e grupos que reproduzem diversas falas prejudiciais e pejorativas, e seus usuários são famosos por praticar a “cultura do cancelamento”, mas a mediação dentro do site é o que mantém seu funcionamento e o que impede a manifestação de “opiniões” radicais e que por vezes ferem os direitos humanos.

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