Do luto ao milagre

Arine Figueiredo
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readFeb 11, 2022

Feliz por falar abertamente de algo que um dia a deixou sem sair, comer ou comunicar-se, Rita, de 38 anos, senta-se em seu sofá e começa a relembrar momentos marcantes

Por Arine Figueiredo

Rita posa com seu filho no aniversário de 3 anos. Foto: arquivo pessoal

Rita nasceu em casa, num quarto que hoje é a cozinha em que faz receitas com seu filho de 7 anos. Esse quarto fica na casa da família que, por sua vez, está localizada num sítio chamado Ipueiras, pertencente ao município de Jaguaribe, no interior do Ceará.

Um evento traumático mudaria a vida calma e feliz que ela tinha em casa. Após descobrir um câncer avançado no estômago, a mãe de Rita foi levada para Fortaleza e consigo levou sua filha para acompanhá-la. Rita ainda lembra do dia em que não pode se despedir.

“Eu saí para descansar e, quando voltei, ela já tinha morrido. Eu gritava que queria minha mãe o mais alto que podia. Nisso já me doparam e, desde então, eu nunca mais parei de tomar [remédio] controlado”.

Rita estudou até o 1º ano do ensino médio. Após a morte da pessoa que mais amava, ela entrou em luto profundo e parou de frequentar a escola. Adquiriu um quadro de depressão e de ansiedade generalizadas e conta que não lidou bem com esse diagnóstico nos primeiros anos. Passou a ter um histórico de crises severas por parar — sem que ninguém soubesse — de tomar os medicamentos.

Mesmo assim, havia um traço nela que nem os remédios e o diagnóstico conseguiram apagar: sua vontade de formar uma família. Ela expõe, com muitas risadas e olhares tímidos, que namorava muito quando não estava em crise.

Entre tantos namoros, e após um médico falar que ela não conseguiria engravidar por ter a síndrome do ovário policístico, ela se casou com aquele que hoje é pai de seus filhos. Apesar de não estarem mais juntos no presente, Rita relembra a história de amor com encontros e desencontros desde a escola até casarem, com seus quase 30 anos de idade.

Agora mais quieta e apenas com a voz embargada, ela narra sua primeira gravidez, entre a felicidade de ter seu filho e a agonia de não ter conseguido salvá-lo. Com um parto prematuro e de volta aos hospitais de Fortaleza, ela perdeu novamente a pessoa que mais amava. Seu primeiro filho morria, com um mês de vida, por uma má formação dos órgãos.

Ela conta o quanto isso a lembrou sobre a perda da sua mãe quando mais nova, sendo necessário muito esforço para não ter outra crise.

Já desacreditada, ela seguiu a vida e tentou lidar melhor com a perda dessa vez. Rita foi católica a vida inteira, mas começou a assistir a cultos evangélicos na televisão. Em um desses dias de culto, descobriu uma nova gravidez.

Durante os nove meses de gestação, ela não tomou nenhum medicamento e, após muita oração e cuidado, ela teve — com parto normal e bem-sucedido — seu bebê.

“Rafael significa ‘Deus cura’. E ele tem me curado desde quando estava dentro de mim. Ter ele foi um milagre que se tornou realidade”.

Atualmente, Rita faz o tratamento com os remédios para as suas condições, pois acredita que, além da fé, é preciso ter compreensão do que é necessário. Ela vive o seu milagre como mãe solo e como alguém que, agora, se propõe a sempre seguir em frente.

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Arine Figueiredo
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Estudante de jornalismo, amante da cultura Geek e atraída por debates políticos.