Declarações de Guilherme Boulos à revista Veja variam entre verdadeiras e exageradas
A equipe do EntreFios verificou quatro declarações do ativista político durante entrevista realizada pela revista Veja em 8 de novembro
Por Antonio Breno, Bianca Nogueira,
João Victor e João Neto
O EntreFios checou quatro declarações fornecidas por Guilherme Boulos durante entrevista para Amarelas On Air, o canal de entrevistas da Revista Veja, em 8 de novembro. O educador e ativista político filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) falou sobre a atual situação política do país e sobre sua pré-candidatura ao governo de São Paulo. Ele apresentou declarações acerca de pesquisas de intenção de voto na cidade de São Paulo e sobre o envolvimento do ex-juiz Sergio Moro na prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Guilherme Boulos é professor, bacharel em filosofia, ativista político, escritor e membro da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. Concorreu à Presidência da República em 2018, à Prefeitura de São Paulo em 2020 e atualmente é pré-candidato ao Governo de São Paulo nas eleições de 2022.
Entre as declarações analisadas, duas foram classificadas como verdadeiras, uma como insustentável e uma como exagerada. O EntreFios utiliza as etiquetas e o método de checagem da Agência Lupa.
Veja abaixo as declarações investigadas:
INSUSTENTÁVEL
“Em praticamente todas as pesquisas, nós estamos em primeiro lugar na capital [São Paulo]”
O jornalista Diogo Schelp aponta a dificuldade de aliança entre PT e Psol no estado de São Paulo. Além disso, destaca que a resistência no interior em relação ao nome de Guilherme Boulos dificulta a aproximação entre os dois partidos. Em resposta, o político afirma que, na maioria das pesquisas da capital, seu nome aparece com maior porcentagem de intenção de votos para governador. Ele acrescenta que Fernando Haddad, pré-candidato pelo PT, possui taxas de rejeição superiores às suas.
Sobre a declaração de Boulos, nota-se que a pesquisa mais recente sobre intenção de voto para governador de São Paulo foi publicada em 19 de setembro, pelo instituto Datafolha. Nela, a amostragem leva em consideração habitantes da capital e do interior como um único grupo. Assim, o comentário do pré-candidato é considerado insustentável, pois os dados não possibilitam identificar a intenção de votos apenas da capital.
EXAGERADO
“O índice de desemprego no pré-pandemia em 2020 era maior que em 2014, com dívida pública maior em relação ao PIB”
Essa afirmação de Boulos é considerada exagerada, visto que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), noticiados pelo portal G1 Economia, o Brasil encerrou 2014 com a menor taxa de desemprego já registrada e com a média anual em 4,8%. Esse valor é inferior à taxa registrada em fevereiro de 2020, também noticiada pelo G1 Economia, de 11,6%, a qual atingiu 12,3 milhões de brasileiros.
No entanto, a dívida pública de 2014 não ultrapassou o PIB anual de 5,52 trilhões com o crescimento econômico de 0,1%. A dívida pública encerrou 2014 em 2,295 trilhões, segundo os dados divulgados pelo Ministério da Economia em 2015.
VERDADEIRO
“O Psol é o partido que mais cresce no Brasil, em número de filiados”
Quando indagado sobre as dificuldades eleitorais enfrentadas pelo Psol, devido aos ideais de denúncia e transformação, Guilherme Boulos afirmou que isso, pelo contrário, está atraindo um número exponencial de filiados, tornando o Psol o partido que mais cresce no Brasil.
Em matéria publicada no mês de julho deste ano, a Folha de São Paulo divulgou um levantamento realizado por sua equipe com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), destacando que o Psol somou 21,3 mil novos filiados entre dezembro de 2020 e abril deste ano, superando consideravelmente outras legendas.
Esse cenário foi reflexo do desempenho do partido nas disputas eleitorais de 2020 nos grandes centros urbanos. Em comparativo feito pela nossa equipe na aba “Estatística”, no site do TSE, constata-se que metade das novas filiações está concentrada nos estados do Pará e de São Paulo, onde o partido teve votações expressivas.
VERDADEIRO
“A corte suprema [STF] considerou o juiz Sérgio Moro suspeito nas ações que condenaram o Lula”
Segundo matéria do portal do Supremo Tribunal Federal (STF), a Segunda Turma considerou que Sergio Moro atuou com parcialidade no julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em uma das principais operações judiciais da Operação Lava-Jato.
Naquela ocasião, Moro condenou Lula a nove anos e seis meses de prisão na ação penal referente ao “caso do triplex”, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Contudo, após as revelações do portal de notícias Intercept Brasil, foi averiguada a manipulação do ex-juiz, em conjunto com o procurador Deltan Dallagnol, sobre as supostas provas que incriminavam o ex-presidente. Esses novos dados convenceram a maioria do STF a votar contra o ex-ministro da Justiça.
A equipe do EntreFios entrou em contato com Guilherme Boulos para que ele se pronunciasse sobre as declarações etiquetadas como “insustentável” e “exagerado”. O contato se deu por meio do e-mail da assessoria de imprensa, mas não obtivemos resposta até a data de publicação desta checagem.
