Encontros (virtuais) Universitários: programação online tem tido aderência da comunidade acadêmica?

Giovanna Falconeri
EntreFios - tecendo narrativas
4 min readDec 21, 2022

Estudantes e servidores da UFC avaliam o atual formato do tradicional evento, que tem sido realizado de modo remoto desde o início da pandemia de covid-19, em 2020

Por Euziane Bastos

Desde 2020, os Encontros Universitários (EU), tradicional evento de extensão da Universidade Federal do Ceará (UFC), acontecem de forma remota. A medida é uma, entre tantas outras, que foi tomada pela instituição para evitar aglomerações e a disseminação do coronavírus, que acometeu parte da população brasileira e levou à morte mais de 600 mil pessoas somente no país. Apesar da justificativa, o início do ano de 2022 trouxe ares de esperança com a volta das aulas presenciais na Universidade, retorno que não valeu para os EU.

Com o tema “Educação reinventa futuros”, os Encontros Universitários 2022 foram realizados mais uma vez no formato remoto, entre os dias 23 a 25 de novembro. Ao todo, 4.591 trabalhos foram submetidos, sendo 4.585 aceitos e apresentados em duas modalidades: cartaz e slides com apresentação oral.

Para entender um pouco sobre o que alunos e membros da organização do evento pensam sobre a manutenção de sua modalidade virtual, coletamos dados qualitativos e quantitativos sobre a participação da comunidade acadêmica e entrevistamos essas pessoas. A primeira conclusão sobre essa participação é uma queda considerável de trabalhos deferidos nos EU entre os anos de 2019 e 2020, ano em que a pandemia surgiu.

Segundo os dados presentes no próprio site dos Encontros, os anos de 2018 e 2019 mantinham um número estável de trabalhos, com cerca de 5 mil produções. Já em 2020, esse número caiu para 4 mil, seguindo essa média nos anos seguintes. Apesar do aumento nos anos seguintes ao ano em que a pandemia de covid-19 começou, nenhum deles chegou a alcançar o período pré-pandemia.

Trabalhos deferidos nos Encontros Universitários

Para a estudante do curso de publicidade e propaganda da UFC Pâmela Rocha (20), é importante ocupar os espaços da universidade e, tendo as condições sanitárias adequadas, isso deve ser retomado. “Sinto que a gente se desconecta um pouco quando os eventos são virtuais e espero que ainda tenha a chance de vivenciar um EU presencial”, afirma.

Pâmela ainda cita que a experiência presencial poderia estimular ainda mais a vontade de fazer ciência ou de participar de projetos em muitos alunos que ainda não o fazem. As limitações das apresentações que acontecem via plataforma de videochamadas Google Meet e a quase ausência de interação no caso das palestras por YouTube, segundo a estudante, acaba limitando a participação nos Encontros Universitários. “Falta fazer a informação circular. É importante lembrar, no entanto, que isso é efeito também da desestruturação sistêmica dos fundos das universidades também se reflete nisso” , conclui.

Cecília Vidal (21), estudante de arquitetura e urbanismo, também nunca teve a oportunidade de vivenciar uma participação presencial nos EU; e em sua apresentação deste ano, relatou o acontecimento de muitos problemas técnicos com o site do evento. “Foi extremamente estressante, considerando a limitação de horário de avaliação da modalidade pôster”, apontou.

Mesmo com os problemas, ela acredita que o formato virtual se torna mais acessível e possui potencial para crescimento por permitir uma divulgação mais extensa e uma maior praticidade. “Na verdade, acho que muitos estudantes até preferem o formato virtual, seja pela facilidade em se divulgar a apresentação ou mesmo por questões de timidez”, diz.

Obrigatoriedade para bolsistas

Para o estudante de psicologia, Abner Oliveira (21), apresentar trabalho nos EU é algo visto quase como uma obrigação de bolsistas da UFC: “Não se tem uma cultura de ir aos EU por vontade própria e nem de ter contato com outros trabalhos que não sejam os seus por interesse no tema”.

O estudante também levantou questionamentos a respeito da aderência da sociedade em geral aos encontros: “No máximo, as pessoas vêem outros trabalhos por conhecerem e gostarem de quem está apresentando. De certa forma ainda é uma forma de intercâmbio, mas não por interesse no tema definitivamente”, justifica.

Sob a perspectiva de Abner, a diminuição de submissões ao longo dos anos após 2020 seria ainda mais justificável, pois o fator pandemia somado à falta de estímulo presencial às atividades de extensão influenciaram os estudantes a não focar 100% de seus esforços nisso durante o período remoto da universidade.

Quando questionada sobre essas dificuldades em manter o interesse da comunidade acadêmica nos EU, Marlene Oliveira, uma das responsáveis pela organização do evento neste ano, respondeu de forma breve que a falta de recursos e manutenção da infra-estrutura foram os principais fatores que impediram a volta presencial do evento.

Já em relação a principal diferença entre as modalidades, a gestora apontou a logística e a falta de compromisso na avaliação dos trabalhos como pontos a serem repensados para um melhor aproveitamento. Em questão de rendimento nas apresentações on-line, Oliveira exemplifica que a oral ficou mais viável (pelo fato do aluno poder apresentar sem aparecer), porém para pôsteres, a plataforma instável dificultou o contato com o avaliador.

Quando questionada sobre essas questões, a Prograd (Pró-reitoria de Graduação), responsável pela organização do evento neste ano, direcionou as perguntas à Marlene Oliveira.

Edição: Giovanna Falconeri

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