Mais um passo na trajetória profissional de Luiz Esteves

Matheus Falcão
EntreFios - tecendo narrativas
22 min readJul 11, 2022

Em entrevista ao EntreFios, o jornalista refletiu desde suas influências para cursar jornalismo até sua mudança da TV Verdes Mares para a TV Cidade, onde apresenta, desde 27 de junho, o programa Balanço Geral

Por Débora Dias, Ikero Antunes, Karizia Marques,
Maria Clara Lima, Matheus Falcão,
Murizete Cavalcante e Ryan dos Santos

Luiz Esteves / Reprodução

Trabalhar com o que se gosta pode ser algo empolgante, principalmente quando o horizonte se abre para oportunidades novas. É embalado nesse sentimento que o jornalista cearense Luiz Esteves relata suas experiências na profissão e suas expectativas quanto à sua mudança da TV Verdes Mares para a TV Cidade, onde apresenta o programa Balanço Geral desde 27 de junho. O programa era comandado por Erlan Bastos, que deixou a emissora para concorrer a deputado federal pelo Republicanos.

Luiz relembra com carinho momentos vividos com os colegas e as escolhas que o levaram até os caminhos do jornalismo. Foram 16 anos de TV Verdes Mares. Agora em um ambiente novo, Esteves espera conseguir trazer sua identidade para o programa e assim continuar “tocando o coração de muitos cearenses”.

Em entrevista ao EntreFios em 10 de junho, “Magão” — como é carinhosamente conhecido — contou um sobre sua trajetória profissional. Foi editor, produtor, âncora e repórter durante os 16 anos em que esteve na TV Verdes Mares, além de ter conquistado o coração e o carinho de milhares de telespectadores do telejornal que apresentou até 3 de junho de 2022, o CETV 1ª edição.

Confira a entrevista na íntegra, em vídeo, e acompanhe alguns trechos transcritos logo abaixo.

Maria Clara Lima: Como já foi dito, o senhor atuou durante muitos anos dentro do Sistema Verdes Mares, e essa sua mudança para a TV Cidade foi um choque para os cearenses que acompanharam a sua trajetória dentro do Sistema Verdes Mares durante tantos anos, o que fez surgir o questionamento do porquê dessa mudança tão súbita de emissora.

Luiz Esteves: A TV Verdes Mares, pra mim, foi muito importante na minha carreira. Eu saio de lá com o coração cheio de gratidão. Sou muito grato. Se hoje sou quem eu sou, sou conhecido da forma que sou, devo muito à TV Verdes Mares. Mas eu entendi que era chegado o momento, o ciclo ali, na TV Verdes Mares, tinha encerrado, e eu sou um profissional inquieto, fico tentando fazer coisas novas, buscar novas formas de linguagens também. Aí surgiu o convite da TV Cidade, e eu aceitei, pra um novo momento de um programa que já existe lá [o Balanço Geral]. Eu devo estrear até o fim do mês [de junho]. Eu tava conversando essa semana com um amigo sobre isso, e, se a gente abre o Linkedin, por exemplo, a gente vê todos os dias, é a dinâmica do mercado. É assim, as coisas acontecem dessa forma: tem gente saindo e tem gente chegando às empresas.

A diferença é que a televisão, por ser um canhão, você tem um alcance gigantesco, chega à casa de milhares de cearenses todos os dias. As pessoas se acostumam, né, se acostumam com você, com a forma como você se comunica, criam uma intimidade, então há esse costume.

Murizete Cavalcante: Luiz, existem várias emissoras de TV aqui no Ceará. Por que exatamente a escolha pela TV Cidade?

Luiz Esteves: Eu recebi um convite, recebi um convite pra apresentar um programa de uma franquia nacional, programa que faz sucesso, incomoda muito, inclusive a TV Globo em várias praças, […] como no Espírito Santo, como em Salvador e aqui no Ceará também. Até eu me senti também desafiado a fazer parte dessa família e produzir um conteúdo com que o cearense também se identifique. É o que eu já vinha fazendo e que a gente quer continuar nesse novo momento.

Débora Dias: Luiz, o CETV é bastante conhecido por ser um programa que possui uma linguagem mais popular e possibilita essa interação com o público. Eu gostaria de saber se a ideia é levar esse perfil, manter esse perfil no próximo programa em que você irá atuar.

Luiz Esteves: Se a gente for analisar, historicamente, a TV Cidade sempre teve uma comunicação mais popular, mais próxima do povo, das classes menos favorecidas, as classes C, D e E […] Então, quando eu cheguei à TV Cidade, uma das coisas que me foi dita, que eu realmente concordei, passei a reproduzir, é que eu já fazia em outra emissora muito da linguagem que era própria da TV Cidade. Na verdade, eu tô chegando num ambiente, num local de trabalho em que isso é extremamente comum, isso não foi algo recente, experimentando há alguns anos. Então eu vou, imagino, me sentir até mais à vontade pra tocar esse jeito de me comunicar de forma mais popular.

“Acho que a TV Cidade sempre comunicou mais, de forma mais eficiente nesse público, e a gente, nos últimos anos, vinha tentando aproveitar exatamente essa pegada mais popular, né, essa linguagem mais popular.”

Karizia Marques: Como é que estão suas expectativas de agora em diante na sua carreira?

Luiz Esteves: Eu tô doido pra trabalhar, a voltar a fazer o que eu amo fazer, cheio de expectativa. A gente tá aos poucos começando a conversar pra pensar o conteúdo desse programa que, como eu disse, já existe. Ele hoje tem um formato, é a cara do apresentador que hoje está lá apresentando. Eu imagino que, daqui pra frente, a ideia é fazer com que esse mesmo programa tenha um conteúdo que se pareça mais com a minha cara. Vai ser uma nova fase, porque cada comunicador, cada apresentador tem um jeito de ser, tem um jeito de se portar, um jeito de se comunicar, e eu tenho o meu. Vocês estão me pegando aqui numa semana… Nem comecei a trabalhar ainda, né, assim, de fato. Eu fui apresentado lá, mas eu ainda não comecei a trabalhar de fato, então ainda vai, ainda tá formatando o conteúdo desse programa. Mas a ideia é que ele continue a ser como eu fazia recentemente em outra emissora e eu continue tocando o coração de muitos cearenses, de fazer essa comunicação direta.

Maria Clara Lima: Como o senhor já informou no seu Instagram, foram 16 anos de atuação dentro da Verdes Mares, ocupando diversas funções: âncora, editor e produtor, que o senhor, acredito, exercia ao mesmo tempo. E também teve um tempo em que o senhor também atuou como repórter, embora não atuasse mais até o momento presente. O senhor tinha predileção por alguma dessas funções?

Luiz Esteves: Bom, são duas coisas distintas, mas elas se complementam. Eu vou explicar aqui um pouco mais… Eu entrei na Verdes Mares como estagiário, e aí a gente começa a visualizar como é aquela empresa, como é o comportamento dos colegas. A partir dai, a gente vai construindo nossa forma de trabalhar […] E durante um tempo, já entre a minha transição da reportagem para a apresentação, eu fazia muita reportagem de comportamento, que era exatamente ouvir as pessoas. […] Eu gostava muito, me identificava, tanto que, logo quando eu comecei a apresentar oficialmente, eu era meio apresentador e meio repórter. A ideia, lá em 2009, quando o CETV estreou… O diretor de jornalismo na época estava atrás de uma pessoa exatamente assim, que pudesse ser apresentador e repórter ao mesmo tempo. E por quê? Porque um dia estava no estúdio, no outro dia eu tava na rua fazendo o quadro Meu Bairro na TV. Até hoje as pessoas têm essa memória afetiva. Eu contava história de bairros e dava voz às pessoas. […] E o interessante foi poder ver um pouco dessa minha observação da rua, o diálogo com as pessoas pra dentro do estúdio. Então eu passei a fazer uma apresentação mais conversada, e acho que isso também gerou mais identificação com o público.

“Na reportagem eu me descobri uma pessoa que gosta muito de ouvir, que gosta muito de gente, que gostava de escutar as pessoas, conversar com as pessoas e contar a história das pessoas.”

Murizete Cavalcante: Luiz, o que fez você escolher o campo do jornalismo e a querer entrar nesse ramo da comunicação?

Luiz Esteves: Eu caí de paraquedas no jornalismo, é o que eu sempre falo. Até o segundo ano [do ensino médio], eu não sabia o que queria. Fiz um teste vocacional na minha escola e deu Comunicação Rádio-TV. […] Naquele momento, eu tinha muito a ideia de trabalhar com rádio, sempre achei minha voz bonita, achava que dava certo, poderia dar certo e, inclusive, meu primeiro estágio foi até aqui, na Rádio Universitária, da UFC. Durante sete meses, eu vivi aqui, ajudando o pessoal da assessoria de marketing a produzir o Jornal da Educação. Durante um tempo, eu cheguei a apresentar, inclusive. Foi uma experiência muito interessante. Enquanto eu estava aqui, na Rádio Universitária, apareceu um convite para eu fazer o teste da TV universitária que estava sendo criada pela Unifor, e eu passei no teste, aí eu entrei na televisão. Mas, até então, eu não tinha interesse em trabalhar na TV, não na frente das câmeras, talvez por trás, mas meu objetivo primeiro era trabalhar com rádio, e nunca acreditei que fosse dar certo. Mas deu [risadas]. E, desde então, quando eu passei nesse teste pra fazer parte da TV universitária, nunca mais saí da TV. Foi da TV Unifor para a Verdes Mares. Da Verdes Mares, uma rápida passagem pela RedeTV, para a Verdes Mares de novo e agora na TV Cidade.

“Fiz vestibular para Publicidade. Fiz um semestre, não gostei e migrei pro jornalismo. Foi quando me encontrei.”

Maria Clara Lima: O senhor falou que caiu de paraquedas no jornalismo, mas às vezes a gente recebe uma influência para determinada área e a gente não percebe. O senhor acha que teve alguém na sua vida pessoal que acabou influenciando meio que indiretamente essa ida para o jornalismo?

Luiz Esteves: Sim, meu avô. [A casa do] meu avô foi a casa em que vivi a partir dos dez anos. Meu avô Jocélio, que Deus o tenha. Ele tinha o hábito curioso, até comum de pessoas da idade dele, pessoas mais velhas, que é passar o dia com o rádio; na época, AM. Passava o dia com o radinho de pilha AM ligado, porque o rádio AM sempre teve essa vertente de ser um radiozinho mais informativo, um rádio mais pensado, um rádio com mais dinamismo. Agora se tem rádios FM com 100% de notícia, mas na época não se pensava nisso, era na AM que se ouvia radio jornalismo. Então eu tenho uma coisa muito clara: foi no dia da morte dos Mamonas Assassinas, do acidente aéreo na serra da Cantareira, em que eles morreram, no auge. E a primeira informação que eu tive foi ao acordar, o vovô tava ouvindo, no rádio, a notícia. Depois que eu fui pra televisão ver o que tava acontecendo. Tenho isso muito claro na minha cabeça. E eu acho que… “Eu acho” não, tenho certeza que o vovô me influenciou nisso.

“Vovô não chegou nem a me ver formado, e eu tava durante o processo de formação e, inclusive, recebi a notícia da morte dele num estúdio de rádio da universidade. Eu tava no curso, tava na disciplina de rádio e recebi a notícia de que ele havia falecido. Olha que coincidência… E, com certeza, devo ter ido fazer jornalismo e tentado essa área por conta dele… Com certeza.”

Debora Dias: Luiz, você citou que caiu de paraquedas [na profissão], só que em algum momento você também citou que se encontrou no jornalismo. Mas eu gostaria de saber se teve algum momento, já sendo jornalista, já depois de formado, em que você pensou: “Ah, não quero isso aqui pra minha vida, vou fazer outra coisa”?

Luiz Esteves: Em momento algum, em momento algum. Até nos momentos de mais dificuldade. A gente pensa um pouco na falta de valorização, dos baixos salários, toda a dificuldade de plantão, que é bem complicado. Você estar numa família, por exemplo, e descobrir que seus parentes todos estão planejando uma viagem pra um feriadão, e você não pode se planejar porque sabe que vai estar trabalhando. É muito complicado. Mas, em momento algum, assim, obviamente a gente fica ali salientando e tal, mas em momento algum eu pensei em desistir, mudar de área, porque eu gosto muito do que eu faço.

Karizia Marques: Então, Luiz, você falou da influência do seu avô na sua decisão e tudo o mais. Mas e a sua família apoiou na decisão de ser jornalista?

Luiz Esteves: Não. No primeiro momento, não. Vovó dizia assim: “Cê vai ser liso pro resto da vida”. [risadas] Ela queria que eu fosse advogado. É, sempre tem, né. Na família, sempre tem as pessoas que querem se meter em carreira, na sua profissão. Eu digo muito: o que eu não queria ser era um frustrado, sabe. “Ah, não, você vai ser servidor público”. “Ah, será? Acho que não”. Então eu super respeito a profissão de todas as pessoas. Mas eu acho que é preciso ter o mínimo de vocação e vontade, desejo, necessidade e amor pelo que se faz. Porque, no fim das contas, é… Agora, na pandemia, a gente trabalhou muito mais, trabalhando com os riscos. Porque a gente saía de casa todos os dias. Não vou me comparar nunca ao médico, a uma enfermeira, a alguém que trabalha num hospital. Nunca. Mas eu digo assim, gente: trabalho, no fim das contas, não dava pra trabalhar remotamente. A gente tinha que se expor, todo dia estar na rua e com notícias difíceis, que misturavam um pouco do pessoal com o que a gente tava vendo. Quer dizer, eu recebi a notícia de que um tio da minha esposa havia falecido de covid e, naquele mesmo dia, a gente teve que dar a notícia de outras pessoas que haviam falecido. Então, mexendo com o emocional e tudo o mais, mas ainda assim ali. Porque acho que, se eu não gostasse, talvez eu tivesse desistido há algum tempo. Dá até mais fluidez, dá mais…, se trabalha com mais vontade, mais tesão, não sei se pode falar isso aqui. Com mais vontade mesmo, com mais, sabe, ânimo, apesar das dificuldades.

Murizete Cavalcante: Luiz, na sua opinião, há algo que lhe desagrade na maneira atual de se fazer jornalismo?

Luiz Esteves: Eu acho que a gente tem que se permitir, mas dentro dos limites éticos. Eu acho que, dentro do que diz a nossa legislação, sabe. É, não gosto, não acho correto, por exemplo, apresentadores populares que ocupam espaços, conseguem de muitas pessoas, com discursos que não condiz com o nosso código penal, por exemplo. Acho perigoso, um pouco daquela história de “bandido bom é bandido morto”, sabe. Preciso ter cuidado, muita responsabilidade, ainda mais quando a gente tá falando com pessoas que, infelizmente, por algum motivo, elas não tiveram acesso à educação, enfim, foram impedidas de terem conhecimento […] Durante muito tempo, eu assistia ao Jornal Nacional [da TV Globo] com a minha avó, e vó chegou só à terceira série do ensino fundamental. Eu assistia, acompanhava o jornal com ela e, ao fim da reportagem, eu olhava pra ela e perguntava: “Vó, o que é que a senhora entendeu?”. E ela muitas vezes dizia: “Eu não entendi nada”. Então, com o tempo, eu passei a entender: dependendo do assunto, a gente pra algumas pessoas precisa mesmo entregar a informação muito mastigada. Pra uns vai soar estranho, vai soar [como se estivesse] simplificando muito, mas, pra outras pessoas, aquilo é extremamente importante. Em algumas situações, a gente chegava a dar a informação, colocava um telefone e, segundos depois, tinha alguém ligando pra redação porque não tinha entendido o que [a gente] tinha acabado de falar. Isso é comum, a gente precisa ter também isso muito claro, na nossa cabeça, a gente precisa se utilizar de recursos pra fazer uma comunicação mais popular. Mas o objetivo é fazer com que a informação chegue às pessoas, que elas tenham acesso a ela. E sem contar que a gente tá num estado em que as pessoas pouco leem, né. Tem que pensar nisso.

“Então… eu acredito muito, muito mesmo, na comunicação popular, é uma forma de democratizar o acesso à informação.”

Debora Dias: Quem trabalha no ramo da comunicação ou qualquer outra área sempre tem alguma memória relacionada a essa área ou sobre a vida profissional. Com certeza você tem, não tem? Eu gostaria de perguntar se você quer destacar alguns desses momentos, alguma memória relacionada à sua trajetória profissional.

Luiz Esteves: Pegaram no meu ponto fraco, que é a memória [risadas altas]. Eu tinha que documentar num diário — “hoje fiz isso”, “hoje fiz aquilo”, “hoje não sei o quê” — pra lembrar. Ah, meu Deus, eu tenho boas lembranças de um conjunto, de um trabalho, do qual eu fiz parte, que eu acho que me ajudou também a entender um pouco do Ceará, sabe. Tem uma coisa que, às vezes, quando a gente chega à redação, que a gente não conhece, a gente não conhece nem a cidade em que a gente vive, nem o estado em que a gente mora. Eu era um pouco assim. Eu tinha, frente a alguns colegas, digamos, a vantagem de, como eu morava em Maranguape, eu todo dia fazia um percurso muito longo, 33 km, 30 km. Então eu passava por muitas áreas, eu passava por bairros da periferia de Fortaleza que colegas nunca tinham ido antes de começar na reportagem. Eu tinha uma noção das chamadas “várias fortalezas” que existem dentro de Fortaleza. E eu tinha um pouco dessa vivência do interior. Teve um projeto dentro da TV Verdes Mares que foi o projeto da caravana, em que eu visitei todas as regiões do estado do Ceará, todas elas. Eu visitava os cinco maiores municípios, respeitando a população, tá. Os cinco maiores municípios de cada região, e isso me ajudou a entender um pouco mais do Ceará. Eu lembro, eu nunca tinha ido à Serra da Ibiapaba, nunca tinha ido à Serra Grande. Até aquele momento. E eu acordando pra fazer o Bom Dia [Ceará, telejornal da TV Verdes Mares], às 5 horas da manhã, eu acho mais ou menos, às 5:30 mais ou menos por aí. E vendo na pousada em que a gente tava, aquele nevoeiro. “Meu Deus, eu estou no Ceará?”. Até então eu tinha ideia do Ceará, o quê, quente, não sei o quê, praia, blá-blá-blá. Então, pra mim, aquilo foi um choque. “Meu deus, eu não conheço meu estado”. Uma parte do estado do Ceará que de manhã é frio mesmo, as pessoas saem de casaco, e tem um nevoeiro entrando dentro de casa. Eu fiquei muito contente porque eu passei a enxergar, a perceber o estado do Ceará de uma outra forma.

Karizia Marques: Bom, então, tem algumas situações em que a gente passa por alguns vexames e que precisam de um certo “jogo de cintura” pra passar por elas. Qualquer jornalista, repórter no “ao vivo”, principalmente, isso acontece sempre. Como o senhor se lembra dessas situações?

Luiz Esteves: Ah! tem alguns, claramente, tem alguns, sim. Tem um de 2009 que ano a ano ele volta, ele ressurge, alguém publica e aí ele volta, aí outras pessoas acabam descobrindo a foto. É a foto em que eu tô preso pelo blazer que tá todo pregueado com broche, acinturado com broche, que foi numa época de transição, a gente tava do “sentado na bancada” ao “em pé”. A gente tava no processo de transição, então a gente sentava e levantava, sentava e levantava em alguns momentos, e, até aquele momento ali, era muito comum na televisão o uso de fita gomada, os broches e esse tipo de coisa, ajuste era normal, até porque quase sempre ou muitas vezes as roupas são emprestadas, elas não são do apresentador. Naquele caso específico não. Como eu tenho um corpo estranho, eu sou muito alto e meus membros são grandes, a roupa não dá pra pegar emprestado. No caso do blazer, tem que ajustar, a camisa tem que ajustar, mas era meu aquele blazer, mesmo. Só que ele é um pouquinho maiorzinho, e eu tava mais magro. Aí foi preciso, eu precisei ajustar. Aí que ninguém lembrou, nem eu mesmo, nem cinegrafista, ninguém. E eu acabei me virando e, nessa história, bateram uma foto, e a foto vez por outra ganha o mundo. Tem outro episódio também, que eu vou fazer a defesa, inclusive, que eu vou fazer aqui, na verdade, o esclarecimento do que de fato aconteceu, que virou meme também, que é a história dos periquitos. Não sei se vocês já viram esse vídeo, mas tem o vídeo dos periquitos, em que a gente tá apresentando o jornal e tal, e a minha colega começa a falar da apreensão de pássaros silvestres. Aí tinha uns periquitos lá, e a gente começa a achar graça e não consegue mais seguir. Precisa, inclusive, chamar a repórter rapidamente porque a gente estava numa crise de riso sem tamanho. Até hoje, as pessoas acham que é algo com relação ao órgão sexual feminino, mas não é [enfatiza], não tem nada a ver com isso, não tem nada a ver. No intervalo, a gente tava vendo a repórter que estava no alagamento e a gente achava que aquela notícia tinha mais relevância que os passarinhos que tinham sido apreendidos e que toda semana tinha uma nota, praticamente igual dizendo que a Polícia Militar Ambiental havia apreendido “tantos pássaros”, com a gente dando as espécies dos pássaros. E a gente estava no intervalo dizendo: “Quer ver, lá vem nota, é a mesma nota de sempre, vai ter “não sei o quê”, vai ter “num sei o quê”. E nós conversamos sobre isso. E, quando começou a minha colega, que é filha de cearense, mas que morou durante um tempo no Paraná, começou a falar as espécies uns nomes que também não dominava, quando chegou na golinha, ela se engasgou na golinha. Em seguida, veio o periquito, e ela não conseguiu mais seguir. Como a gente tava com aquela história na cabeça e a revolta por causa do alagamento, da área alagada, que era muito mais urgente a gente mostrar, acabou virando esse meme horroroso [risos].

Maria Clara Lima: Durante todos esses anos de jornalismo, até se tornar uma referência, o senhor trabalhou com muitos outros jornalistas e figuras da área da comunicação. Com quem, exatamente, o senhor pode dizer que teve o prazer de trabalhar?

Luiz Esteves: Eu tive uma mãezona dentro da redação que foi a Rita Teixeira, que foi chefe de redação, chefe de produção e editora do até então Jornal do 10. Ela foi muito paciente comigo, de pegar na mão e “senta aqui, vamos conversar”, mostrar os caminhos. Ela foi gigante assim. O Perdigão, Alberto Perdigão, que era apresentador e chefe do Bom Dia CE, na época em que eu era estagiário. Me ensinou muito. Uma jornalista que fazia o Meu Bairro na TV [quadro do telejornal CETV], que foi minha madrinha de casamento em igreja. Ela tinha o texto — ela tem o texto, perdão, porque ela continua –, ela tem o texto belíssimo e também me ensinou a levar um pouco de poesia, tentar enxergar as coisas nas imagens e levar poesia pro texto. Eu tenho um paizão também no jornalismo que foi o Paulo Nobre, que hoje é chefe da minha esposa — as coincidência, né, o mundo vai dando voltas e a gente vai se reencontrando –, ele foi um paizão pra mim. Eu lembro que, quando eu entrei na Verdes Mares, eu fui contratado pra uma vaga de Sobral, aí eu comecei a trabalhar e a trabalhar e algumas pessoas foram saindo da Verdes Mares daqui, de Fortaleza, e todo dia eu perguntava pra ele: “Paulo, cara, quando é que eu vou pra Sobral, eu preciso ir pra lá um tempinho, eu preciso me instalar lá, eu nunca morei só, eu nunca morei longe da minha família e tal, eu preciso me instalar”. E ele disse: “Vá trabalhar, vai trabalhando e vai trabalhando”. Até que um dia ele se “emputou” e disse: “Eu já não disse a você que vá trabalhar? Não me pergunte mais isso” [risos]. E eu acabei ficando em Fortaleza. São essas pessoas por quem eu tenho um carinho gigante, por todos os colegas, e eu acho que a gente constrói a história juntos. E agora, quando eu saí da Verdes Mares, no dia do desligamento, eu passei três horas e meia me despedindo das pessoas porque eu fui em todos os setores, todos, porque eu acabei fazendo amizade com todos. Então eu fui na Engenharia, no Marketing, no Administrativo […] E todo mundo tem um objetivo muito claro, que é dar o melhor para o melhor produto, um melhor resultado do produto. Vixe, eu tô falando demais… O trabalho que vocês vão ter pra editar…

“E eu acredito muito que, pra fazer comunicação hoje em dia, é até mais fácil como a gente vê com o blogueiro e o youtuber que consegue fazer só, mas quem trabalha com televisão, você não consegue trabalhar só, não. Você, realmente, tem que ter compromisso e trabalhar de forma harmoniosa.”

Karizia Marques: Eu vi que, no seu Instagram, tem mais de 200 mil seguidores e que o conteúdo varia entre o dia a dia no trabalho até momentos com a família. Como é essa relação entre ser jornalista e, de certo modo, influenciador digital?

Luiz Esteves: Ô, mulher, eu acho isso tão… [risadas]. Éééééé… Quando eu entrei nessa rede social específica, e depois nas outras, eu sempre tive muito claro na minha cabeça que eu não queria ser o jornalista lá. Eu deixava o jornalista na televisão, e eu ia ser Luiz, 100% ser humano, digamos assim. É o que namora, o que tem esposa, tem a filha, que se apaixona, que tem um time do coração, que torce por ele, que tem suas dificuldades, que tem suas conquistas. Eu sempre levei para esse lado as minhas redes sociais, e acho que isso gera identificação nas pessoas, de alguma forma. Tem gente que às vezes duvida, né? Chega de uma vez e fala: “Estou num aperto financeiro”. Elas acham que quem trabalha na televisão nada em dinheiro. Mas não é, não. E aí eu acho que acaba criando, de fato, essa identificação. Eu não faço questão de levar… Assim… Obviamente, quando tem alguma coisa, um caso mais específico, de grande repercussão, eu acabo — principalmente no Twitter, que dá a oportunidade de escrever –, eu levo um pouco da discussão. Mas, pouco, eu quero, nas redes sociais, ser o Luiz — digamos — offline, embora no online.

Maria Clara Lima: Bom, como já foi dito o senhor é muito ativo nas redes sociais. A gente sabe que esse ambiente virtual propicia um maior contato com os fãs e admiradores, mas também a gente sabe que não necessariamente quem segue é um fã ou admirador. Muitas vezes, são haters. Eu gostaria de saber como que o senhor lida com esses haters e as críticas que vem através do meio online.

Luiz Esteves: Quando eu não fresco, eu me calo. Eu acho que a gente tem que, no fim das contas, respeitar. Eu não gosto disso, quando parte, para o desrespeito. Eu nunca bloqueei ninguém não. As pessoas são até que muito respeitosas, sabe? […] Eu recebo as críticas, leio, gosto de ler, até para também fazer uma análise, depurar sobre o que as pessoas estão comentando. Pode ser pertinente, inclusive. Então, estou sempre disposto a ouvir e a ler as críticas, acho que elas são importantes. Mas eu fiquei surpreso com essa minha nova fase profissional, a quantidade de mensagens de carinho, mensagens de elogio que eu recebi. Não consegui dar conta, acho que nem de 50% das mensagens — isso ainda é muito, acho que nem isso. Foram muitas mensagens. Eu sabia que teria murmurinhos, que as pessoas iriam comentar, mas desse tamanho, nessa proporção?

Maria Clara Lima: Depois que o senhor saiu da Verdes Mares e oficializou a sua entrada na TV Cidade, o senhor observou grandes ataques a respeito dessa escolha?

Luiz Esteves: Não, não. De uma forma geral, assim, eu acho que o que eu vi de muito comentário foram essas pessoas surpresas, e as pessoas saudosas, é, “ah, vou sentir saudades de você”, coisa do tipo. Mas ataques mesmo, não. Não cheguei a receber isso, confesso que não. Recebi mensagens mais afetuosas.

Karizia Marques: Todo jornalista quer deixar sua marca de alguma forma, e bordões são uma forma de alcançar isso. Como surgiu o bordão “piscou, perdeu”?

Luiz Esteves: Você acredita que foi por acaso? “Piscou, perdeu” foi assim: eu não gosto de me repetir, certo? Era o contrário do bordão. Na verdade, eu estava em busca sempre de fazer alguma coisa diferente para chamar o intervalo. E, um dia, o Cadu estava no estúdio conosco, e aí eu fui chamar o intervalo e veio essa história: “piscou, perdeu”, “fica aí, não saia daí” e tal. Aí foi para o intervalo, e ele olhou para mim: “Que legal esse seu bordão”. Aí eu fiquei olhando para ele e disse: “Bordão? Mas não é bordão”. E ele disse: “Pois use! Achei muito legal”. Eu fiquei com aquilo na cabeça. Aí, desde então, eu passei a usar. Uma vez a gente estava assistindo o Tiago Leifert apresentando o Globo Esporte para São Paulo, que só passava para São Paulo. Aí ele começava o Globo Esporte dizendo: “Booooa tarde”. Aí eu disse: “Poxa vida”. Aí eu lembrei da história, aí eu lembrei do Tiago Leifert dando “boa tarde” alongado e disse: por que não o “Gloooobo Esporte”? Aí foi. Mas teve um momento também da minha carreira que eu fui proibido de falar, porque achavam — os diretores assim, as pessoas que estavam no comando — que não se adequava. Vixe, Maria. As pessoas que já estavam acostumadas ficaram muito chateadas e começaram a perguntar: “Por que você não faz mais o ‘Glooooobo’?”. E achavam que a culpa era minha.

Maria Clara Lima: Bem, um fato é que não são todos os cearenses que te chamam pelo nome Luiz Esteves [Luiz ri], geralmente costumam te chamar mais pelo apelido, Magão…

Luiz Esteves: Foi outra coincidência na minha vida.

Maria Clara Lima: Dá para inferir um pouco, né, do porquê do “Magão”. Mas de onde exatamente surgiu, quem foi a pessoa que te deu esse apelido?

Luiz Esteves: Foi de um outro episódio que virou meme. Eu nunca me chamei de “Magão”. Para os meus amigos de infância, eu era o “poste”, eu era outras coisas, mas Magão não, e até porque, durante uma parte da minha vida, eu era até gordinho, eu tinha uma papadinha. Aí veio o bendito áudio da história lá do cara me ameaçar, que ganhou o mundo, reproduziu à exaustão na internet, e ele começava o áudio dele no WhatsApp assim: “Eu pegava esse Magão e dava uma surra de pimba de boi”. Pronto, passou né?! Ok, me chamou de Magão, ok, vamos para a frente. Eu ando muito a pé, eu moro próximo de onde fica as TVs, eu ando muito a pé ali, na região da Aldeota, e aí passavam as pessoas de carro, de moto e até motoristas de caminhão e “não sei o quê”, buzinavam, [gritavam] “Magão! Magão!”. Aí um dia eu fui apresentar um evento dentro da empresa, e o presidente da empresa me chamou de Magão. Aí eu disse: “Não tenho mais para onde correr, vou assumir o apelido, está todo mundo falando”. Aí eu botei na rede social e passei a me chamar, e pegou, e pegou. Mas foi uma coisa das pessoas para mim, não foi algo que eu tenha criado, né. Não foi nada planejado.

“Surgiu, apareceu, foi criado pelo povo, e eu assumi, assumi. E acho divertido. Dizem que, no Ceará, quando a gente chama as pessoas pelo apelido, é porque gosta. Eu me sinto assim, querido.”

Murizete Cavalcante: Luiz, olhando suas redes sociais, em especial no Twitter, dá pra perceber que seu time é o Fortaleza Esporte Club. Eu queria saber de onde é que surgiu esse carinho pelo Fortaleza.

Luiz Esteves: Cara, eu acho que muito da história do futebol se confunde com as nossas raízes, com as nossas tradições. Eu sou Fortaleza porque meu pai é Fortaleza, e, durante o sofrimento da série C, a gente chegou a várias vezes ir ao estádio. Várias vezes não, tô exagerando. Foram algumas vezes ao estádio. E meu pai é esquizofrênico, sabe […] Depois, quando ele — pausa, o Fortaleza subiu. Vou já chorar, peraí — exclama Luiz. Quando o Fortaleza subiu — pausa longa. O meu pai, ele — mais uma pausa longa. Desculpa, gente — respira profundamente e pensa um pouco antes de continuar. Meu pai precisou ser internado e ele não tá mais em condição de vida socialmente — com lágrimas nos olhos, mais uma longa pausa. Eu não pude mais ir ao estádio com ele — enfatiza. E foi muito difícil pra mim, sabe. O engraçado é que, lá em casa só eu sou Fortaleza, dos filhos. […] Então, pra mim foi um momento muito difícil, por que minha referência era ele. […] Meu avô era Ceará, meus tios são Ceará, e então meio que eu sou a pessoa da família mais ajuizada para escolher […] e eu tô muito feliz com essa fase do leão de aço, mas uma pena que eu não consiga ta comemorando com papai.

Murizete Cavalcante: Bom, agora para encerrar a entrevista, gostaria de pedir para que os senhor definisse um pouco quem é Luiz Esteves, além do jornalista e dessa figura pública que já conhecemos.

Luiz Esteves: Ééé… É um morador da capital que não esquece sua raízes no interior, uma pessoa que quer ter uma vida simples, um sujeito profissionalmente inquieto, criativo, que confia nas pessoas até que elas provem que são mau caráter. É… que tem muita esperança, mas ao mesmo tempo é muito realista, sabe das dificuldades e que sonha com um mundo menos desigual e mais justo. Acho que é isso.

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Matheus Falcão
EntreFios - tecendo narrativas

baiano fazendo jornalismo na UFC e apaixonado pelo esporte clube Vitoria :)