O eterno medo de engravidar na adolescência

Vitoria Hellen
EntreFios - tecendo narrativas
4 min readSep 2, 2021

[COMENTÁRIO] O tweet da ex-BBB Camilla de Luca, de 26 anos, sobre ainda ter medo de “engravidar na adolescência” reforça o sentimento de apreensão em relação à terceira gravidez da influencer Viviane Noronha

Por Vitoria Hellen

Viviane Noronha e MC Poze com seus dois primeiros filhos / Arte: Vitoria Hellen

Em 23 de agosto, Viviane Noronha e MC Poze anunciaram que terão mais uma menina. Os dois já são pais de Julia, de 2 anos, e Miguel, de nove meses, e vivem em uma mansão de luxo no Recreio, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Viviane tinha apenas 16 anos quando deu à luz sua primeira filha e vive até hoje as dificuldades de ser mãe na adolescência. Apesar de ganhar o seu próprio dinheiro como influencer e ter condições de dar uma boa vida para as crianças, a sua trajetória pode servir como inspiração para outras adolescentes devido à romantização da gravidez, feita por parte da mídia tradicional. É possível que nem a própria influencer imaginasse o que estava por vir na nova tarefa de ser mãe.

De onde vem o desejo de se tornar mãe tão cedo?

Desde pequenas, as mulheres são ensinadas sobre qual seria o papel delas na sociedade ao brincarem de bonecas, fingindo que elas são suas filhas e reproduzindo ações de suas mães no tratamento com elas. Os adultos aplaudem, dizendo “olha, como ela é carinhosa, vai ser uma ótima mãe”. Diversos outros fatores — como a falta de autoestima, a falta de educação sexual, a falta de apoio da família e as condições de vulnerabilidade socioeconômica — também influenciam nessa equação.

O tornar-se mãe não é o problema em questão, mas o quão jovens são essas mães e quais consequências a maternidade traz para as adolescentes. No Brasil, um em cada cinco bebês nasce de uma mãe com idade entre 10 e 19 anos, segundo o Conselho Nacional de Secretários da Saúde, e passar por uma gravidez tão nova pode trazer graves consequências.

No aspecto físico, o corpo da adolescente ainda está em desenvolvimento e, por isso, não se encontra totalmente apto para a concepção, trazendo riscos à saúde da mãe e da criança. Entretanto, as maiores transformações ocorrem no âmbito psicológico e social, afinal a questão da romantização da maternidade afeta de forma mais intensa as adolescentes que podem se sentir mais tristes e sozinhas sem uma rede de apoio e/ou condições financeiras adequadas para cuidar dessa nova vida.

Cadê o pai nessa história?

Para a mulher, é obrigatório assumir o seu filho. Afinal, se o der para a adoção ou optar por um aborto, será massacrada pela sociedade. Já para o pai, essa mesma situação é uma escolha. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), há 5,5 milhões de crianças brasileiras que não possuem o nome do pai na certidão de nascimento. Nesses casos, a jovem mãe tem que lidar com ainda mais adversidades.

No caso de Viviane, de 17 anos, em uma relação com MC Poze, de 20 anos, também há a problemática da disparidade entre idades, que implica em uma posição duas vezes mais hierárquica que o homem assume de superioridade em relação à mulher em um pensamento machista comum na sociedade. Sendo assim, o relacionamento entre o casal pode se tornar tóxico e afetar mãe e filhos.

Todas as questões abordadas levam em conta a vida da jovem mãe Viviane e seus três filhos, mas também acontecem no mundo real. Em periferias e favelas, é comum a gravidez na adolescência e, de início, a presença de uma educação sexual na rede pública de ensino pode ajudar essas meninas a se prevenirem de uma gravidez indesejada.

Separação

Um dia antes da produção desse comentário, MC Poze foi com os amigos a uma casa noturna do Rio de Janeiro e, supostamente, escondeu essa informação de sua namorada, Viviane. Lembrando que a influencer está grávida do terceiro filho e já enfrentava uma situação difícil com os julgamentos que recebia pela internet.

No dia seguinte após esse acontecimento, Poze postou em suas redes sociais que ele e Viviane terminaram o namoro. Ele se utilizou de palavrões e linguagem agressiva ao informar sobre o término, acrescentando que não está ligando para as opiniões alheias.

Deixo aqui o questionamento sobre como será o relacionamento desse pai com seus filhos a partir de agora, visto que é comum que as crianças fiquem sem uma presença paterna nesses casos e a solidão da adolescente grávida (e com filhos) fique ainda maior.

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Vitoria Hellen
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Metida a artista, sensível demais e estudando Jornalismo pra acrescentar "inteligente" a essa lista.