“Eu me sinto uma vitoriosa”

Milenna Murta
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readNov 29, 2023

Maria Cristina Castelo Branco traçou, nos anos 1970, sua jornada em busca de sua formação em nível superior

Por Milenna Murta

Maria Cristina em Morada Nova (CE) / Acervo pessoal

O ano é 1973. A caçula da família está saindo da casa dos pais em Morada Nova, interior do Ceará, rumo à capital. Em sua bagagem, há apenas o ensino pedagógico e o desejo de fazer parte da primeira geração familiar a ser aprovada no nível superior.

Fortaleza não é um ambiente desconhecido. Há parentes espalhados pela cidade, incluindo seus dois irmãos, e se estabelecer na casa do mais velho marca o início de sua estadia na capital cearense.

Os estudos são direcionados apenas para a universidade federal, pois a família não tem condição de pagar uma faculdade particular. Por algum motivo que a própria jovem não consegue identificar, a estadual não lhe chama atenção.

O primeiro ano se passa em simples minutos. Suas tardes são compostas de estudos no primeiro cursinho de sua vida, para medicina veterinária. A jovem não pensa em prestar vestibular para a área da saúde, mas, no momento, é o preparatório que sua prima, graduanda em veterinária, conseguiu encontrar para ela.

O ano é 1974. A caçula da família está voltando definitivamente para o interior. Os motivos não são ditos, e a noite antes da viagem acontece na casa da Tia Lourdes e do Tio Lino. Uma de suas primas passa a ser a responsável pelo desenrolar de seus estudos e, na manhã seguinte, em vez de ir para a rodoviária, a jovem começa a morar na casa dos tios.

Gratidão é o sentimento que habita na mulher de vinte e poucos anos. A tia não a deixa fazer atividades domésticas, e a jovem possui o próprio quarto. O cursinho é trocado, e suas tardes começam a ter a presença de dois outros primos, que também tentam vestibular.

Pelas manhãs, há compromisso também. Com apenas vinte e dois anos, consegue um trabalho no Colégio Juvenal Galeno, onde seus conhecimentos escolares lhe dão a oportunidade de ser professora. Entre o trabalho e o preparatório para o vestibular, as noites são ocupadas com mais estudo.

Sua primeira prova da Universidade Federal do Ceará ocorre no mesmo ano, mas a aprovação não vem. O resultado negativo também a persegue no exame do meio do ano. Com o dinheiro que recebe do trabalho de professora, ela decide trocar de cursinho pela terceira vez.

Gregório Mendel é um preparatório conhecido na capital cearense, sendo considerado de boa qualidade. Mais uma vez, passa a conciliar o trabalho de ensino pedagógico com o aprendizado especializado do cursinho.

O ano é 1975. A caçula da família está na casa dos tios, e o dia não parece relevante. Tio Lino tem a assinatura do jornal impresso, e por dias os moradores da residência buscam os vestibulandos aprovados entre as páginas do informativo.

Pelas folhas do jornal, os nomes dos aprovados, grafados em letras miúdas, finalmente são divulgados. A estudante alcança um total de 2.480 pontos. Dessa vez, seu nome está entre os aprovados. A reação não é expressada externamente, a mulher não sabe descrever o sentimento que lhe surge no momento, e a ficha demora a cair.

Aprovada em Direito, ela pensa que nunca teve esse desejo intenso de prestar o curso, mas parece a opção que faz mais sentido com seus gostos e conhecimentos. A partir desse dia, os estudos serão misturados à gratificação de ser a primeira da família a ingressar na advocacia.

O ano é 1978, e Maria Cristina Castelo Branco está concluindo o curso na Universidade Federal do Ceará.

Formatura na Faculdade de Direito da UFC / Acervo Pessoal

--

--

Milenna Murta
EntreFios - tecendo narrativas

brincando com palavras e rabiscando pensamentos. jornalismo - ufc