Partes de uma Mulher

Arthur Paz
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readNov 30, 2023

Mãe, dona de casa, professora e microempresária: Sabrina Araújo se desdobra em várias versões de si para conseguir lidar com a correria cotidiana

Por Arthur Paz

Sabrina Araújo com seus dois filhos/ Arquivo Pessoal

Fraldas, mamadeiras, brinquedos e corações fizeram parte do enxoval da primeira gestação de Sabrina Araújo, marcada principalmente por dor. A dor manifestou-se de várias formas: nos constantes receios que se desenvolveram desde o resultado positivo do teste de farmácia; na falta de apoio da mãe, Fábia Gomes; e no abandono de alguém que prometeu amá-la.

Sabrina nasceu em 3 de julho de 1986, em uma manhã ensolarada na capital cearense. Talvez por isso ela sorri tanto quando assiste ao nascer do sol na praia. Ela ama o sol; para ela, ele renova as energias do corpo e faz a sensação de liberdade correr solta sobre a pele. Ela também sente o mesmo quando escuta Legião Urbana, sua banda favorita, e Guns N’ Roses.

Sorri muito, mas já se sentiu sozinha. “O medo que eu tive nessa fase ainda me atormenta. A gravidez e a maternidade são os momentos mais importantes para uma mulher, pelo menos é o que sempre me disseram, mas esqueceram de falar dos quilos extras, das novas estrias, da dor terrível nas costas e do abandono”, declara Sabrina ao ser questionada sobre os primeiros sentimentos que teve ao saber da notícia.

O abandono que a entrevistada aponta é a mais pura solidão, já que a mãe não quis mais contato com a filha quando ela contou a novidade sem ser oficialmente casada. O namorado afirmou que ela estava mentindo para tê-lo só para ela. As amigas que conheceu na faculdade de pedagogia a chamaram de “vagabunda” e nunca mais a convidaram para curtir, beber e aproveitar. “Eu não sei o que machucava mais, mas acredito que o que me mantinha de pé era a ideia de que eu poderia ser forte para meu filho”, relembra Sabrina com os olhos marejados, pois sua tristeza é notória.

Queria seguir firme o caminho que planejou aos 15 anos. Conseguiu superar as próprias expectativas, porque terminou seu curso com honras na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Com uma mão, segurava seu prêmio, o diploma; com a outra, a barriga com oito meses de gestação.

No mês seguinte, as contrações aumentaram, as lágrimas caíram e gritos intensos foram escutados por qualquer pessoa que passasse perto da sala de parto daquele hospital. Ao meio-dia de um domingo de Páscoa, o primeiro filho de Sabrina nasceu. O menino que ela afirma ter sido alvo de toda sua esperança recebeu um nome que, para ela, significava força: Arthur.

Sabrina e Arthur foram uma dupla durante três anos. Comemoravam juntos ao verem diversos fogos coloridos serem estourados na Beira Mar no Réveillon. Após esse período, outro homem passou pela vida dela. Infelizmente, ele agiu da mesma maneira que o anterior ao saber que a mulher com quem namorava estava grávida de seu filho. “Quando lembro disso, me sinto burra por ter acreditado que com ele seria diferente”, afirma a mãe.

Os nove meses da segunda gestação foram os piores meses da vida de Sabrina. O parto complicado deixou a mulher perdida e com profundas consequências emocionais, cicatrizes e isolada de qualquer apoio por um abismo de tristeza. Ela ainda tentou uma reconciliação com seu segundo namorado, já que não conseguiria sustentar os dois filhos sozinha.

Atualmente, ao relembrar a tormenta psicológica desse período, ela afirma com um sorriso melancólico: “Eu não sou uma boa mãe”. Tal declaração surpreendeu o entrevistador, seu filho, que vê a figura materna desdobrar-se em várias versões de si para conseguir lidar com a correria cotidiana. Sabrina Araújo é mãe, dona de casa, professora e microempresária. Ela é um exemplo para os filhos, Arthur e Clecio. Ela é coragem, força e amor, não só para a família que construiu, mas também para todos com quem ela encontra em sua vida.

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