O incêndio na Cinemateca como resultado do descaso do governo

Mateus Macêdo
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readAug 10, 2021

[COMENTÁRIO] Ainda não se sabe qual parte do acervo da Cinemateca Brasileira se perdeu no incêndio da noite de 29 de julho; incidente é sintomático do descaso do governo Bolsonaro com o setor cultural

Por Mateus Macêdo

A Cinemateca Brasileira conta um acervo de 245 mil rolos de filmes e duas salas de projeção. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Na noite de 29 de julho, um incêndio atingiu um depósito da Cinemateca Brasileira, na zona oeste de São Paulo. As chamas chegaram até seis metros de altura, ameaçando o acervo de um dos edifícios da instituição, no bairro da Vila Leopoldina.

A Cinemateca Brasileira é a instituição responsável pela preservação e difusão da produção audiovisual brasileira. Tem o maior acervo da América do Sul, formado por cerca de 250 mil rolos de filmes e mais de 1 milhão de documentos relacionados ao cinema, como fotos, roteiros, cartazes e livros. O acervo da Cinemateca é dividido em dois edifícios, um que se localiza no bairro da Vila Mariana, em São Paulo, que abriga a maior parte dos filmes; e o edifício onde ocorreu o incêndio, no bairro Vila Leopoldina, que abriga equipamentos antigos guardados para a constituição de um museu e de documentos.

Ainda não se sabe qual parte do acervo se perdeu nesse incêndio. No entanto, estima-se que pode ter sido perdida grande parte dos arquivos da Embrafilme, do Instituto Nacional do Cinema (INC) e do Conselho Nacional de Cinema (Concine), parte do acervo da distribuidora Pandora Filmes, de cópias de filmes brasileiros e estrangeiros em 35mm; matrizes e cópias de materiais audiovisuais variados potencialmente únicos, parte do acervo da ECA/USP em 16mm e 35mm e parte do acervo de vídeo do jornalista Goulart de Andrade. Além de equipamentos que comporiam um futuro museu.

Essa não é a primeira vez que isso acontece. Foi o quinto incêndio nessa instituição ao longo de sua história: 1957, 1969, 1982, 2016 e 2021. Além disso, também não é a primeira instituição que passa por isso. Em 2018, um incêndio destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Entre suas mais de 20 milhões de peças, o museu abrigava restos de fósseis, cerâmicas e espécimes raros. Além de perder importantes cantos indígenas ancestrais, de línguas que não existem mais no mundo.

Suspensão de repasses

A Cinemateca foi bastante afetada pela não renovação do contrato com a associação que a administrava em 2020 e a suspensão do repasse dos recursos, o que levou à demissão de quase todos os funcionários. O que motivou, em julho de 2020, uma ação na Justiça contra a União por abandono da Cinemateca feita pelo Ministério Público Federal.

O descaso do governo Bolsonaro com o setor cultural em geral é visível. Esse incêndio no edifício da Cinemateca Brasileira pode ter sido apenas o começo de um problema maior. No galpão localizado na Vila Mariana estão guardadas centenas de milhares de rolos de filme inflamáveis, que estão sem manutenção e supervisão adequadas. Se nada for feito, é apenas questão de tempo para que uma nova tragédia aconteça.

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