Instagram está tentando demais se manter relevante

Raissa Oliveira
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readJul 19, 2021

OPINIÃO

Por Raissa Oliveira

Instagram está entre as redes mais acessadas do mundo / Freepik

No dia 1º de julho, o diretor do Instagram, Adam Mosseri, afirmou que a plataforma não será mais uma rede social apenas de fotos: agora vão se voltar principalmente para a produção de vídeos e de entretenimento. Por coincidência, semelhante a outra rede social, o Tik Tok. Essa, contudo, não é a primeira grande mudança altamente “inspirada” que a plataforma traz.

Desde que surgiu, em 2010, o Instagram já adaptou suas ferramentas e conteúdos de diversas formas, teoricamente para caber nos gostos e nas novas necessidades do público. Desde o fim da exibição do número de curtidas, em 2019, ou as medidas de combate às fake news, a rede social se mostra em constante atualização.

A questão é se essas mudanças realmente levam em consideração seus usuários ou apenas o lucro que seu acesso constante pode trazer. Algumas dessas atualizações acontecem, claramente, para prender o público unicamente à plataforma e, assim, combater a sua concorrência. Isso, somado às polêmicas quanto ao funcionamento de seus algoritmos, pode acabar mais afastando do que atraindo os usuários potenciais.

Como exemplo, uma das “novidades” de maior sucesso da rede foram os stories, em 2016. Na época do lançamento da ferramenta, o CEO do Instagram, Kevin Systrom, creditou a rede Snapchat como uma “inspiração” para os stories, em entrevista ao Techcrunch. Ele também afirma que “todas as companhias [do Vale do Silício] olham ao redor e adotam o melhor dos melhores formatos e do ‘estado da arte’ da tecnologia”.

Os stories realmente conseguiram desbancar o Snapchat — o crescimento do número de novos usuários e das ações na bolsa da rede diminuíram consideravelmente desde 2016 — , e é justamente pensando nisso que o Instagram lançou, em 2019, o reels, que possibilita a criação de vídeos curtos, tal qual na plataforma Tik Tok, famosa entre os jovens e uma de suas principais concorrências no momento.

Mas por que o aplicativo de dancinhas?

De acordo com relatório Digital 2021 Brazil da We Are Social e Hootsuite, o Instagram é a quarta rede social com mais usuários ativos no Brasil, perdendo apenas para o YouTube, WhatsApp e Facebook. Os brasileiros passam cerca de 14 horas por mês na plataforma. Já o Tik Tok encontra-se em sétimo lugar no ranking, tendo, porém, as mesmas 14h de uso por mês.

O que surpreende no crescimento do aplicativo chinês é que a rede social surgiu, oficialmente, apenas em 2017 e, ainda assim, é uma das principais redes sociais do momento, tendo sido o aplicativo mais baixado no mundo em 2020. Esse crescimento alerta todas as outras companhias para o fenômeno que a rede tem se tornado.

A fim de não perder a relevância, e o lucro, é compreensível que as grandes redes sociais tentem chamar atenção do público de forma semelhante ao exemplo de sucesso do Tik Tok, mas a linha que o Instagram insiste em ultrapassar é o limite entre o “semelhante” e a “cópia”.

Tudo bem que, no meio digital, as discussões sobre o que é originalidade, o que é plágio e o que é inspiração se confundiram muito mais nos últimos anos, como a fala de Kevin Systrom demonstra. Mas as escolhas recentes feitas pelo Instagram deixam não apenas a ética de lado, mas também seu público. Tanto quem produz conteúdo, como quem consome na plataforma são afetados por essas mudanças.

É justamente ao tentar demais manter os usuários que o Instagram marca seu caminho para a irrelevância.

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Raissa Oliveira
EntreFios - tecendo narrativas

Feminista. Apaixonada pelo universo, por músicas e por doces. Acredita que (quase) tudo pode ser relativo. Escrevendo para aliviar e alimentar a alma.