Levando a vida com leveza

Guilherme de Castro
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readFeb 10, 2022

Eugênia Bezerra de Castro, 42 anos, relembra sua infância com os irmãos no bairro Pirambu, em Fortaleza (CE), e também as dificuldades que teve que superar ao decorrer da vida

Por Guilherme Castro

Eugênia Bezerra / Arquivo pessoal

Eugênia nasceu em 1979, em Fortaleza (CE), e passou toda a sua infância morando no bairro Pirambu com seus pais, suas duas irmãs e o irmão. Ela costuma dizer que puxou muito a personalidade de sua mãe, uma senhora bondosa e muito humilde que, mesmo já tendo que cuidar de 4 filhos, nunca fechou as portas de casa para quem precisou. Ela diz que era comum ver a mãe abrigando pessoas do bairro que estivessem passando por dificuldades familiares ou até financeiras.

Teve uma infância muito feliz, vivia na praia e na rua brincando com o irmão e as irmãs, apesar de, na época, o bairro ser conhecido pela violência e criminalidade. Ela diz que era um ótimo lugar com ótimas pessoas e que não poderia ter tido uma infância melhor.

Uma das maiores tristezas de sua vida foi ver o irmão entregue às drogas. Em poucos anos, a vida no Pirambu foi de “muito boa” para “impossível”, pois os moradores iam à casa da mãe dela reclamar dos furtos que o irmão estava cometendo no bairro. Com os olhos ligeiramente marejados, ela lembra o quanto a família inteira sofreu nessa época, especialmente sua mãe. A situação se tornou insustentável até que um dia a família teve que se mudar do bairro.

Eugênia se viu sendo mãe três vezes na vida, apesar de só ter um filho biológico. A primeira foi quando ela se mudou para morar com o namorado, que tinha uma filha pequena do relacionamento anterior. Ela criou a menina com todo o cuidado que uma mãe teria e ainda diz que nunca achou ruim, pois adorava crianças, como ainda faz nos dias de hoje.

Aos 23 anos, Eugênia foi mãe pela segunda vez, agora de um filho biológico. Ela diz que foi muito fácil criar uma criança depois da sua primeira experiência cuidando da enteada. Assim, sua família se tornou maior, mas mal sabia ela que ainda iria aumentar, mesmo que em condições não muito comuns.

Quando o filho já era um rapaz e a enteada uma adulta, ela descobriu que estava sendo traída pelo marido e se separou. Sofreu muito na época, mas, por ser uma pessoa muito resiliente, conseguiu superar o ocorrido. Passou um tempo morando com a mãe, mas não muito, pois o irmão continuava levando problemas para dentro de casa.

Com receio de criar o filho sem o pai, decidiu perdoar o marido e voltar a morar com ele. O que se mostrou não ter sido a melhor escolha, pois, alguns anos depois, ela sonhou que a amante do marido estava grávida dele. Quando foi questionado, ele lhe confirmou o que o sonho havia lhe mostrado. Apesar da traição, ela não chegou a se separar dele, mas, a partir dali, a relação deles se tornou mais fria e continuaram a viver juntos apenas por conveniência.

Quando tinha 2 anos, a filha do marido com a amante começou a frequentar a casa em que Eugênia morava com ele. Ela concordou em ajudar a criar a criança, mas somente se ele ajudasse de verdade na criação dela, como não havia feito com os outros dois filhos. Assim, Eugênia foi mãe pela terceira vez.

Ao ser perguntada sobre o que sentiu quando viu a criança, ela respondeu com um sorriso no rosto: “Eu achei ela muito fofinha”. Hoje, a criança tem 7 anos e, diferentemente da primeira enteada, chama Eugênia de “mãe”, apesar de ainda não entender muito bem o porquê de ter duas mães.

Eugênia e a filha mais nova / Arquivo pessoal

Eugênia é uma pessoa muito simples, que tem gosto por ajudar os outros e não é capaz de guardar rancor de quem quer que seja. Ela faz o máximo para levar a vida com leveza, tentando sempre se manter feliz como ela foi com seus irmãos na infância.

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Guilherme de Castro
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Estudante de jornalismo na Universidade Federal do Ceará (UFC).