Luiz, respeita Januário!

Matheus Falcão
EntreFios - tecendo narrativas
4 min readJul 18, 2022

Apaixonado por música, por Londres e por boas taças de vinhos. Um passeio pela história de Luiz Gusmão, um paraense apaixonado pela vida

Por Matheus Falcão

Luiz Gusmão e seu vinho favorito / Arquivo Pessoal

Em 1950, Luiz Gonzaga, o “rei do baião”, lançava sua música Respeita Januário, na qual relata o desentendimento familiar que o fez fugir de casa. Em 1976, 26 anos depois, em pleno período de festas juninas, marcadas pelas canções de Gonzaga, nascia Luiz Gusmão.

Desde pequeno, sua vida tem relação com a música e com o São João, como relata. “São João é dia 24 [de junho], né, e meu aniversário é 25. Então a gente sempre comemorou com tema junino, com quadrilha, com mingau. Sempre ouvindo essa música [Respeita Januário]”.

Quando cheguei, ele já estava sentado a uma mesa mais reservada ao fundo do restaurante, em Fortaleza, cidade onde mora. Ao me sentar, perguntou se eu queria algo e chamou o garçom para pedir uma taça de vinho, sua bebida favorita. Um vinho tinto chileno e uma água. Estava pronto para a conversa.

Antes de começar a falar, mais uma olhada no cardápio. Estava com fome e desejando uma porção de pastel de camarão.

Belém, cidade das mangueiras, do carimbó, da revolução cabana e da eterna casa de Luiz. Nascido em um conhecido hospital no centro da cidade, sua mãe, Eudileia, sempre lhe relatou como o parto foi tranquilo e rápido.

“Ela sempre conta que nasci lindo, com o olho azul, limpinho e que a enfermeira brincava perguntando se eu não queria dar a criança pra ela”, se diverte ao relembrar da história.

Ao perguntar sobre sua trajetória de vida, ele prefere dividir sua história em períodos, passeando pelas diversas camadas e momentos de sua história.

Começaremos pela sua infância. Diferentemente do que é hoje, era um menino tímido e com alguns problemas de saúde. Sofria com problemas de garganta e, por isso, foi preciso retirar-lhe as amídalas.

A mudança de chave na sua vida vem com o esporte. Aos 7 anos, começou a fazer natação e a melhorar sua qualidade de vida. “Foi um divisor de águas, literalmente. Perdoe pelo trocadilho”, diz rindo em meio a um gole de vinho, “mas foi um divisor de águas. Minha saúde melhorou, virei um atleta”.

Na adolescência, a partir do momento em que entendeu suas atrações, tornou-se um cara namorador e apaixonado. Com o início da vida adulta, largou o esporte e passou a focar mais nos estudos, mas sempre mantendo ao seu lado amigos, diversões, responsabilidades e família.

Dos 14 aos 21 anos, passou por um período de muitas conquistas e realizações, sempre buscando viver intensamente. Em uma dessas “intensidades da vida”, teve seu primeiro casamento, aos 22 anos. E o divórcio veio em seguida, aos 25.

Ao relembrar momentos marcantes de sua vida, falamos sobre seu melhor amigo, Luciano. Entraram juntos na faculdade. Pela proximidade dos nomes, ouviram suas aprovações praticamente ao mesmo tempo — à época, acompanhava-se o listão de aprovados pelo rádio. Passaram em Engenharia Civil, mas para turmas diferentes. Contrariando as expectativas, decidiram não trocar de sala e fizeram um acordo: ser o elo de união entre as turmas.

No segundo ano de faculdade, seu primeiro choque de realidade: seu melhor amigo faleceu em seus braços. Emocionado, ele relembra que, antes do acontecimento, eles estavam brigados, mas resolveram a situação antes de irem para uma aula de capoeira.

“Isso me fez mudar minha vida, eu percebi que não posso deixar nada para amanhã, meu amigo foi na minha casa, perdoei ele… E se eu não tivesse perdoado ele? Eu entendi que não podia deixar para amanhã, tinha que viver minha vida. Hoje eu me vejo com 46 anos, e ele tinha a mesma idade que eu. O que ele teria hoje?”, reflete.

Ao pedir mais uma taça de vinho, explica sobre sua relação com a música e suas viagens pelo mundo. Fã do estilo de vida londrino e de bandas da região, como Joy Division e The Smiths, passou um período na terra da rainha trabalhando como garçom e aprendendo inglês, realiza um dos seus maiores sonhos aos 30 anos, sem falar uma vírgula do idioma.

Nem só de rock vive o homem. Apesar do estilo alternativo e rockeiro, conta que apreciava um bom brega, um bom carnaval e uma boa rodada de bebidas baratas quando era mais novo.

O papo estava excelente, mas a fome tanto do entrevistado como do entrevistador apertou e partimos para o final. Perguntei qual frase poderia definir quem é Luiz Gusmão, o paraense apaixonado pela família, pelos amigos, pelo Paysandu, seu time do coração, pela música e por bons vinhos chilenos.

Em meio a risadas, pastéis e empadas, respondeu: “Minha frase favorita… Hum.. No final, o mocinho sempre ganha [referência a James Bond] — completa com uma bela risada.”

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Matheus Falcão
EntreFios - tecendo narrativas

baiano fazendo jornalismo na UFC e apaixonado pelo esporte clube Vitoria :)