Lula faz declarações sobre as condições políticas de seu atual governo.

Lorena Alves
6 min readJul 31, 2024

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A equipe de checagem do EntreFios analisou declarações que o Presidente da República fez em entrevista ao Jornal da Record, em 16 de Julho.

Por Amanda Leal, Lorena Alves, Leticia Brandão, Icaro Santiago, Eduarda Cordeiro

Lula em entrevista ao Jornal da Record. Reprodução/Youtube.

Luiz Inácio Lula da Silva, atual presidente do Brasil, concedeu uma entrevista à jornalista Renata Varandas do Jornal da Record, em 16 de Julho. O principal assunto abordado na entrevista foi a comparação entre as condições políticas em 1 ano de 7 meses de governo com os números de 2022/2023.

O presidente afirmou que o governo seguirá as regras do arcabouço fiscal e que revisará os gastos públicos para que o governo consiga cumprir a meta fiscal neste ano. Lula disse ainda que muitas tensões políticas atuais, especialmente as que têm origem em questões econômicas, poderiam ser apaziguadas se o combate à fome e à pobreza fosse um foco maior nos governos estrangeiros.

O método e as etiquetas utilizadas para as checagens são os mesmos utilizados pela Agência Lupa, agência brasileira destinada à checagem de informações públicas por meio do fact-checking.

Confira a checagem das declarações a seguir:

VERDADEIRO

“Quando deixei a presidência, esse país crescia 7,5%, o varejo crescia a 13% e o PIB crescia a 7,5% com a inflação controlada”

No acumulado no ano de 2010, em relação ao mesmo período de 2009, o PIB variou 7,5%, resultado do crescimento de 6,7% no valor adicionado e 12,5% nos impostos.

De acordo com pesquisa feita pelo IBGE, o comércio varejista em 2010 atingiu a marca de 10,9%.

Tornando o discurso do presidente verdadeiro, tais números ficaram marcados em seu governo como a maior alta no PIB desde 1986. Houve crescimento do emprego e da massa salarial e, no início do ano, os incentivos sobre automóveis. Isso tudo dá um impacto sobre o consumo e o aumento da indústria, houve também produção recorde no ano.

Para medir esse desempenho, o IBGE analisa as taxas de crescimento da agropecuária, da indústria e dos serviços. Por setores, o crescimento no ano foi o seguinte: agropecuária (6,5%), indústria (10,1%) e serviços (5,4%).

VERDADEIRO

“Nós estamos crescendo mais que a previsão do mercado, o mercado previa 0,8%, nós crescemos 3%, o mercado previa inflação descontrolada, a inflação está totalmente controlada.”

Segundo a projeção do FGV IBRE, Instituto Brasileiro de Economia, o país teria uma projeção de alta de 0,8% em relação ao PIB de 2023 no total.

Contudo, segundo a Agência de Notícias do IBGE, o PIB cresceu 2,9%, dado bem próximo do qual o presidente comentou.

O crescimento do mercado se caracteriza como um aumento na demanda do mercado por um produto ou serviço. Normalmente, esse crescimento ocorre durante o período de expansão de uma empresa. As empresas visam melhorar o apelo do produto promovendo recursos e, ocasionalmente, oferecendo preços competitivos para aumentar as vendas.

Alguns indicadores de crescimento do mercado são: Demanda (desejo por um produto ou serviço por um consumidor no mercado), Supply (quando a oferta aumenta, o preço da mercadoria diminui; mas, quando a oferta diminui, o preço do mesmo produto aumenta drasticamente), Oferta Especial (se uma mercadoria tiver um preço premium, o preço padrão pode mudar)… Esses são alguns dos pontos vitais que não se deve ignorar para calcular o crescimento do mercado.

SUBESTIMADO

“A única coisa que não está controlada é a taxa de juros (…). O Brasil está gerando 2.550.000 empregos em 1 ano e 7 meses, a massa salarial crescendo 11.7%, o salário mínimo reajustado 2 vezes acima da inflação.”

De acordo com o Novo CAGED, geração das estatísticas do emprego formal por meio de informações captadas dos sistemas eSocial, Caged e Empregador Web, o número de empregos gerados é ainda maior ao que foi declarado por Lula, com o total de 2.758.062, já que o saldo de empregos gerados de 2023 foi de 1.458.018, e o saldo dos seis primeiros meses de 2024 é de 1.300.044. Os dados de julho ainda não foram divulgados.

Já sobre a massa salarial, a taxa de participação ainda é inferior aos níveis de 2019, mas tem se recuperado nos últimos anos, em grande parte pelo influxo de imigrantes e pela normalização das condições econômicas pós-pandemia. Os salários nominais continuam crescendo a taxas altas, embora a inflação ainda elevada mitigue seus efeitos sobre os salários reais (4,1% a.a. em termos nominais e 0,8% a.a. em termos reais em maio).

Embora os salários nominais estejam crescendo, a inflação elevada corrói o poder de compra dos trabalhadores, fazendo com que os salários reais (ajustados pela inflação) cresçam a um ritmo mais lento.

EXAGERADO

“Quando eu deixei a presidência em 2010, esse país vendia 3.800.000 carros por ano, quando voltei em 2022/2023 esse país vendia só 1.800.000 carros por ano”

Dados fornecidos pelo anuário do ano de 2010 da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) o Brasil chegou a marca de 3.328.252 automóveis vendidos no ano. O país ficou em 4° lugar no ranking mundial entre os países que mais venderam veículos, e ficou em 10° lugar no ranking de evolução em vendas comparado ao ano anterior, com o crescimento de 10,60%.

Já no anuário de 2023 da Fenabrave, o país vendeu 1.957.663 novos veículos no ano de 2022, e no ano seguinte houve um aumento de 11,19%, quando atingiu 2.176.645 de vendas no setor automobilístico. A pesquisa mostra que os dados citados pelo Presidente Lula foram exagerados, visto que o número de vendas não ficou estagnado dois anos seguidos, na realidade, houve uma evolução considerável de um ano para o outro.

EXAGERADO

“É por isso que em 2005 eu chamei o FMI e falei pro FMI ‘Eu quero pagar vocês’(…). Pagamos os 30 bilhões que devíamos e ainda emprestamos 15 bilhões de dólares pro FMI, depois da crise de 2008.”

Lula fala sobre a dívida com o FMI, referindo-se ao débito de 30 milhões contraído pelo Brasil durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995–2002), quitado em 2005. Em Junho de 2009, o Brasil anunciou o empréstimo ao Fundo Monetário Internacional (FMI) no valor de 10 bilhões de dólares, diferente do que foi dito pelo atual presidente.

Os 30 bilhões de dólares citados foram parte de um pacote de socorro liberado pelo FMI ao país em agosto de 2002, último ano do governo de Fernando Henrique Cardoso. Eleito pela primeira vez no mesmo ano, Lula herdou a dívida ao assumir a presidência em 2003.

Em 2009, pela primeira vez na história, o Brasil emprestou dinheiro ao Fundo: 10 bilhões de dólares para ajudar países emergentes em meio à crise internacional. Dentro do FMI, os países membros são classificados em um sistema de cotas que analisa indicadores econômicos — como, por exemplo, o PIB — levando em consideração a sua posição na economia mundial.

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