Entre exageros e verdades, confira as declarações do capitão Bruno Henrique sobre acidentes de trânsito no Ceará
O EntreFios checou quatro declarações feitas pelo oficial de operações do Batalhão de Polícia de Trânsito Urbano e Rodoviário Estadual durante entrevista concedida à TV Ceará, em alusão ao Maio Amarelo
Por Giovanni Scomparin, Israel Vancouver,
Raiza L Souza e Sara Raquel Carvalho
O EntreFios checou as declarações feitas pelo capitão Bruno Henrique, oficial de operações do Batalhão de Polícia de Trânsito Urbano e Rodoviário Estadual (BPRE-CE), durante entrevista ao programa Cena Pública, da TV Ceará, em 3 de maio deste ano.
O capitão fez referência ao Maio Amarelo, um movimento que tem como objetivo conscientizar a sociedade em relação ao alto número de mortes e feridos no trânsito em todo o mundo.
Na ocasião, o convidado apresentou dados relevantes relacionados ao trânsito. Entre eles, destaca-se o índice de mortes anuais no trânsito no país, os custos do Estado em atendimento médico, a ocupação dos leitos do Instituto Doutor José Frota (IJF), em Fortaleza, e o percentual de mortes de motociclistas no trânsito.
Entre as declarações analisadas, uma foi enquadrada como subestimada, uma como exagerada, uma como verdadeira e outra como insustentável.
A checagem do EntreFios segue a metodologia e as etiquetas aplicadas pela Agência Lupa, uma agência nacional especializada em checar informações públicas.
Confira a checagem das declarações a seguir:
SUBESTIMADA
“Há pesquisas que falam que há um custo anual de 30 bilhões que o Estado perde em atendimento médico”.
A afirmação feita pelo capitão Bruno Henrique é subestimada, como comprovado pelos dados divulgados pelo Observatório Nacional de Segurança Viária por meio do Sistema de Observação, Monitoramento e Ação (Soma) sobre o cenário da mortalidade de motociclistas no Brasil. Segundo o levantamento, o custo social dos acidentes é muito elevado para a sociedade, estimando-se que o Brasil perde R$ 56 bilhões anualmente devido a tais eventos, como exibido na tabela:
Além disso, corroboram com essa informação uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) no ano de 2020, com base em dados de 2014, sobre custos dos acidentes de trânsito no Brasil, calculando que R$ 50 bilhões são gastos por ano em ocorrências de trânsito. Isso evidencia que o entrevistado subestimou o valor em pelo menos 20 bilhões de reais.
INSUSTENTÁVEL
“Cerca de 70% dos leitos do IJF, em condições normais [fora do período de pandemia de Covid-19], são ocupados por acidentados do trânsito”.
De fato, há uma declaração de 2014 dada por Osmar Aguiar, antigo diretor do hospital, que menciona o mesmo percentual de leitos ocupados no IJF, como declarou o entrevistado. No entanto, a afirmação já completa 9 anos, não obtendo, assim, dados atuais sustentados por falas institucionais ou fontes públicas referentes ao instituto.
A assessoria de imprensa do Instituto Doutor José Frota (IJF) foi procurada pela equipe do EntreFios, mas, até a publicação deste material (13 de junho de 2023), não obtivemos retorno. A checagem será atualizada caso haja resposta.
VERDADEIRA
“No Brasil, [o acidente de trânsito] é a oitava causa de morte”.
Os últimos dados do Governo Brasileiro sobre a causalidade de mortes no país são de 2016, constando, de fato, os sinistros (acidentes) de trânsito como a oitava causa de morte no país.
Além disso, dados mais recentes (2019) do Institute for Health Metrics and Evaluation demonstram a consistência da informação. Na tabela abaixo, a instituição elencou as dez principais causas do número total de mortes no Brasil em 2019 e a variação percentual de 2009 a 2019.
EXAGERADA
“Praticamente 50% da mortalidade é de motocicletas”.
Em estudo recente do Observatório Nacional de Segurança Viária via Sistema de Observação, Monitoramento e Ação (Soma), sobre o cenário da mortalidade de motociclistas no Brasil, foi obtido o dado de que 11.214 das 31.945 mortes ocorridas no trânsito brasileiro em 2019 foram de motociclistas, como representado no gráfico abaixo:
O número representa, então, 35,1% do total de óbitos.
Contudo, deve-se mencionar que o restante da porcentagem considera qualquer outro modo de locomoção, como transportes públicos, carros particulares ou utilizados por motoristas de aplicativos, bicicletas e, até mesmo, caminhadas, tornando muito alarmante o número de mortes referentes exclusivamente a motociclistas.