Entre exageros e verdades, confira as declarações do capitão Bruno Henrique sobre acidentes de trânsito no Ceará

Giovanni Scomparin
EntreFios - tecendo narrativas
4 min readMay 25, 2023

O EntreFios checou quatro declarações feitas pelo oficial de operações do Batalhão de Polícia de Trânsito Urbano e Rodoviário Estadual durante entrevista concedida à TV Ceará, em alusão ao Maio Amarelo

Por Giovanni Scomparin, Israel Vancouver,
Raiza L Souza e Sara Raquel Carvalho

Capitão Bruno Henrique em entrevista ao Cena Pública; da TV Ceará / Reprodução/YouTube

O EntreFios checou as declarações feitas pelo capitão Bruno Henrique, oficial de operações do Batalhão de Polícia de Trânsito Urbano e Rodoviário Estadual (BPRE-CE), durante entrevista ao programa Cena Pública, da TV Ceará, em 3 de maio deste ano.

O capitão fez referência ao Maio Amarelo, um movimento que tem como objetivo conscientizar a sociedade em relação ao alto número de mortes e feridos no trânsito em todo o mundo.

Na ocasião, o convidado apresentou dados relevantes relacionados ao trânsito. Entre eles, destaca-se o índice de mortes anuais no trânsito no país, os custos do Estado em atendimento médico, a ocupação dos leitos do Instituto Doutor José Frota (IJF), em Fortaleza, e o percentual de mortes de motociclistas no trânsito.

Entre as declarações analisadas, uma foi enquadrada como subestimada, uma como exagerada, uma como verdadeira e outra como insustentável.

A checagem do EntreFios segue a metodologia e as etiquetas aplicadas pela Agência Lupa, uma agência nacional especializada em checar informações públicas.

Confira a checagem das declarações a seguir:

SUBESTIMADA

“Há pesquisas que falam que há um custo anual de 30 bilhões que o Estado perde em atendimento médico”.

A afirmação feita pelo capitão Bruno Henrique é subestimada, como comprovado pelos dados divulgados pelo Observatório Nacional de Segurança Viária por meio do Sistema de Observação, Monitoramento e Ação (Soma) sobre o cenário da mortalidade de motociclistas no Brasil. Segundo o levantamento, o custo social dos acidentes é muito elevado para a sociedade, estimando-se que o Brasil perde R$ 56 bilhões anualmente devido a tais eventos, como exibido na tabela:

Pesquisa “Cenário da mortalidade de motociclistas no Brasil” (página 16), do Observatório Nacional de Segurança Viária via Soma

Além disso, corroboram com essa informação uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) no ano de 2020, com base em dados de 2014, sobre custos dos acidentes de trânsito no Brasil, calculando que R$ 50 bilhões são gastos por ano em ocorrências de trânsito. Isso evidencia que o entrevistado subestimou o valor em pelo menos 20 bilhões de reais.

INSUSTENTÁVEL

“Cerca de 70% dos leitos do IJF, em condições normais [fora do período de pandemia de Covid-19], são ocupados por acidentados do trânsito”.

De fato, há uma declaração de 2014 dada por Osmar Aguiar, antigo diretor do hospital, que menciona o mesmo percentual de leitos ocupados no IJF, como declarou o entrevistado. No entanto, a afirmação já completa 9 anos, não obtendo, assim, dados atuais sustentados por falas institucionais ou fontes públicas referentes ao instituto.

A assessoria de imprensa do Instituto Doutor José Frota (IJF) foi procurada pela equipe do EntreFios, mas, até a publicação deste material (13 de junho de 2023), não obtivemos retorno. A checagem será atualizada caso haja resposta.

VERDADEIRA

“No Brasil, [o acidente de trânsito] é a oitava causa de morte”.

Os últimos dados do Governo Brasileiro sobre a causalidade de mortes no país são de 2016, constando, de fato, os sinistros (acidentes) de trânsito como a oitava causa de morte no país.

Além disso, dados mais recentes (2019) do Institute for Health Metrics and Evaluation demonstram a consistência da informação. Na tabela abaixo, a instituição elencou as dez principais causas do número total de mortes no Brasil em 2019 e a variação percentual de 2009 a 2019.

Fonte: Institute for Health Metrics and Evaluation

EXAGERADA

“Praticamente 50% da mortalidade é de motocicletas”.

Em estudo recente do Observatório Nacional de Segurança Viária via Sistema de Observação, Monitoramento e Ação (Soma), sobre o cenário da mortalidade de motociclistas no Brasil, foi obtido o dado de que 11.214 das 31.945 mortes ocorridas no trânsito brasileiro em 2019 foram de motociclistas, como representado no gráfico abaixo:

Pesquisa “Cenário da mortalidade de motociclistas no Brasil” (página 5), do Observatório Nacional de Segurança Viária (via Soma) e do Ministério da Saúde (via DATASUS)

O número representa, então, 35,1% do total de óbitos.

Contudo, deve-se mencionar que o restante da porcentagem considera qualquer outro modo de locomoção, como transportes públicos, carros particulares ou utilizados por motoristas de aplicativos, bicicletas e, até mesmo, caminhadas, tornando muito alarmante o número de mortes referentes exclusivamente a motociclistas.

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