Mais uma notificação
[CRÔNICA]
Por Leticia Maia
O aplicativo de imagens do celular me notificou com “Relembre esse dia há 2 anos atrás” logo pela manhã, então mostrou um conjunto de fotos tiradas na mesma data, porém em uma época totalmente diferente.
Acho que é isso que sentimos agora vivendo em meio a uma pandemia, que dois anos atrás é uma época quase que muito distante. A sensação é que os dias durante a pandemia passam mais devagar ou que vivemos mais dias durante o mês. Não importa. No fim, a sensação é a mesma: a de viver um ano a cada mês. Talvez o motivo seja a mudança, porque tudo mudou. Trabalhar mudou, estudar mudou, ir ao supermercado mudou, fazer exercícios mudou… Chega a ser exaustivo só de lembrar o começo de tudo isso.
O outro motivo para essa sensação pode ser as repetições, o número de casos aumentando, as notícias ruins aumentando, protocolos de segurança aumentando. A cada dia, mais e mais informações sobre o assunto. Porém nada parece dar uma expectativa de fim, de conclusão, finalmente o surgimento de algo que vai tirar todos desses ciclos que parecem manter todos ainda no meio da história de um livro. Acho que já falei que fico exausta só de lembrar do começo, quando ainda nem tínhamos uma vacina.
É, sinto que a pandemia trouxe, sim, essa mudança de época e é até possível sentir um pouco de orgulho dos que conseguiram se adaptar. Vamos admitir que conseguir contornar todas essas mudanças não é fácil. Alguns se adaptaram muito bem, já outros nem tanto. Mas o que foi bom ou ruim vai depender da experiência de cada um.
Vendo as fotos de dois anos atrás, vejo-me como uma pessoa diferente. Não acho que seja possível enfrentar uma pandemia e continuar sendo a mesma pessoa. Principalmente levando em consideração que todos vivenciaram situações e sentimentos jamais imaginados. Ou pior: jamais previstos.
Todos, de repente, viram-se presos a uma pandemia. Então, qual o melhor jeito de enfrentar essa situação? Confesso que passar o dia vendo notificações no celular não é o melhor.
