Mari Lacerda: “A cidade quer outra opção política”

Yuri Gomes
EntreFios - tecendo narrativas
27 min readJun 29, 2023

Em entrevista ao EntreFios, a socióloga filiada ao PT afirma que deverá disputar uma vaga à Câmara Municipal de Fortaleza em 2024; em 2022, ela obteve 15 mil votos para deputada estadual, cerca de 10 mil só na capital

Por Ana Massonila, Ismael Camurça, Helder Sena,
Maria Clara Nascimento, Maurício Izidório e Yuri Gomes

Mari Lacerda no estúdio de TV do curso de Jornalismo da UFC / EntreFios

Desde cedo, Mari Lacerda lutou pelo seu lugar no mundo. Educadora social e militante dos movimentos feminista, antirracista e pró-LGBTQIAP+, ela se formou em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (UFC). A partir da luta coletiva, Mari se candidatou a deputada estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em 2022, um modo de levar seus lugares de pertencimento para o centro do debate político.

Em entrevista concedida à equipe do EntreFios em 22 de junho de 2023, a socióloga conta sobre sua trajetória na política, os desafios que enfrentou na curta corrida eleitoral de 2022 e seus planos para uma candidatura à Câmara Municipal em 2024, além de refletir sobre a importância de compreender-se como sujeito de lutas coletivas históricas, que buscam alterar as estruturas segregadoras da sociedade.

Nascida no bairro Parangaba e criada no Parque Santana, ambos em Fortaleza, Mari percebeu a importância de assumir seus marcadores sociais, na condição de mulher negra e de pessoa LGBTQIAP+, não apenas como constituintes da sua identidade, mas também como bandeiras da luta pela ocupação de territórios dominados por uma hegemonia branca, patriarcal e heteronormativa.

O sonho da graduação, que alimentava desde nova, solidificou-se a partir do seu contato com o movimento estudantil, no qual permaneceu como uma voz ativa e radical durante sua formação dentro do campo das ciências sociais. Sua formação acadêmica passou a complementar a visão de mundo que já vinha construindo desde sua adolescência, atravessada por suas vivências na condição de jovem de periferia.

Sua luta pelos direitos humanos continuou dentro da Marcha Mundial para as Mulheres, do Movimento Negro Unificado e da instituição Sempre Viva. Em 2022, Mari avançou mais um passo em sua trajetória política e social, assim como em sua jornada de ocupação de espaços, candidatando-se a deputada estadual pelo Partido dos Trabalhadores.

Apesar de o tempo ter sido um inimigo, Mari destaca a importância da prática política na conquista dos seus mais de 15 mil votos durante a campanha eleitoral estadual, sendo cerca de 10 mil apenas em Fortaleza. A socióloga fala, ainda, sobre seus planos para uma nova candidatura, em 2024, à Câmara Municipal de Fortaleza.

Sem nunca desistir de continuar fazendo-se presente não somente nos lugares que negam sua existência e a existência dos coletivos que representa, a socióloga relata sua esperança de trazer para esse território político — ainda tão reacionário e pouco diverso — as reivindicações para as quais vem doando sua voz ao longo de sua trajetória.

“Nós acreditamos que podemos ir lá e buscar os 10 mil [votos obtidos na capital cearense] novamente e mostrar para o Brasil, mas mostrar principalmente para Fortaleza, que a cidade quer outra opção política”, afirma.

Confira a entrevista, em vídeo, e acompanhe a transcrição logo abaixo.

Ismael Camurça: Gostaria de trazer à conversa a sua trajetória pessoal. Vimos que, em muitos dos seus discursos, você faz questão de citar a Parangaba e o Parque Santana [dois bairros de Fortaleza], que são os lugares onde você nasceu e se criou, respectivamente. E eu queria saber se você poderia nos falar da importância desses lugares para você e para a sua história.

Mari Lacerda: Eu sempre fiz questão de pontuar esses lugares como meus lugares de pertencimento, dos meus territórios. Primeiro, por se tratarem de lugares na periferia. E aí eu acho que a gente precisa fazer essa disputa social do olhar que se tem sobre as periferias. Então, afirmar que eu sou moradora de periferia, que é neste lugar que eu me realizo, que eu me formo como sujeito político, para mim era muito importante. Fora que a Parangaba, eu acho ela incrivelmente linda, tem uma lagoa linda, um dos mais belos pôr do sol da cidade. E para mim também teve uma coisa, que foi fundamental na minha trajetória, que foi a mudança da Parangaba para o Parque Santana, porque a Parangaba, na frente do Parque Santana, era muito mais desenvolvida. Eu consegui sentir na minha trajetória essa questão de você estar numa determinada periferia e ir para outra periferia mais distante. Então, acionar esses lugares para mim era muito importante. Até porque, falando da Parangaba e do Parque Santana, eu também queria falar de todas as periferias de Fortaleza.

Ana Massonila: Mari, você também costuma citar muito a semelhança entre a sua trajetória e a da sua mãe. O que ela representa para você também como construção desse sujeito social?

Mari Lacerda: Eu acho que é muito importante a gente sempre reconhecer quem veio antes de nós. E a minha mãe antes de ser minha mãe, ela é uma militante social, e a gente tem algumas características comuns. Eu fui catequista da Igreja, ela também foi. Ela é, até hoje, uma grande liderança no bairro. Ela não gosta dessa palavra “liderança”, inclusive porque acha que tem um sentido pejorativo muitas vezes na política tradicional. Mas ela é uma grande mobilizadora social do bairro. Então muitas das coisas que eu aprendi, eu aprendi com ela e vivenciei com ela. Então a gente era da associação, fazendo coisas juntas, eu organizando a juventude, ela organizando outros setores. Então, a gente tem uma trajetória bem compartilhada, e a trajetória dela me inspira.

Maria Clara Nascimento: Mari, na condição de mulher negra, bissexual e periférica, você passou praticamente toda a sua vida inserida nesses espaços socialmente marginalizados. Como é que foi esse processo de se entender como sujeito nesses espaços? E o que significa para você ser, hoje, voz para vários outros jovens que compartilham da mesma história que a sua?

Mari Lacerda: Eu acho que o preconceito, a gente se entender nesse lugar que está à margem, a gente só sente quando atravessa também a linha, né? Então, eu morava na periferia, mas, para mim, era um território em que eu estava feliz com a minha trajetória. Aí, ao vir para outros espaços, para a universidade, tem uma diferença. Ao frequentar um espaço majoritariamente oposto, olha, você sente. Então, você também, ao passo que vai descobrindo o mundo, vai percebendo essas segregações que dizem que se tem. Mas, para mim, todos esses marcadores sociais sempre foram motivo de muita força. Para mim, a afirmação de ser uma mulher negra foi mais uma questão muito interna mesmo, de entender esse processo. E às vezes eu também militava muito na pauta do feminismo, e eu não me aproximava muito da pauta racial, entendendo o quanto é doloroso quando a gente percebe. Só que eu sou uma mulher de periferia. Então, nós só temos uma alternativa: ou a gente luta por melhores condições de vida, ou a gente se resigna e tal. Então essa nunca foi uma opção para mim. Eu gosto, inclusive, quando as pessoas se inspiram e eu sempre falo muito disso: que a gente está numa era em que as pessoas [sofrem] do adoecimento mental, que as pessoas estão fragilizadas por uma série de questões, mas, no lugar de onde a gente vem, da periferia, a gente precisa sobreviver. Então, a gente não pode se permitir a fraquejar. Óbvio que a gente sabe que tem os momentos de fraqueza, que a gente está enfraquecido. Óbvio que tem momentos que são muito duros, que nem em todo momento sou uma mulher forte, mas todo dia tenho que levantar a cabeça e seguir, por mim, pela minha família, pelas pessoas do meu território. Então eu fico muito feliz quando outras pessoas se inspiram e todos esses marcadores eu fui assumindo, inclusive como bandeira de luta. [Fui] entendendo como é assumir esse lugar: “Ah, sou uma mulher, uma jovem adolescente de periferia”. Sou, sim, da periferia e olha o que tem na periferia. Quando eu me assumi bissexual, para mim foi a parte mais fácil. Eu olhei para minha mãe e disse: “Olha, mãe, eu sou bi”. Para mim, isso não era, não marcava uma outra coisa. E aí depois vieram os confrontos. Eu gosto muito da entrevista que a Erika Hilton [deputada federal transexual eleita pelo Psol de São Paulo, além de ter sido a vereadora mais votada do Brasil em 2020] deu, né? Porque ela diz: “Isso [a identidade de gênero] não me define, isso é uma parte do que eu sou”. Mais do que isso, tem um projeto político que eu defendo, minha orientação sexual não é tudo sobre mim, mas ela é uma parte importante, assim como os outros marcadores.

Helder Sena: Mari, durante um discurso no ano passado, você citou que é produto da luta coletiva e que não seria quem você é hoje sem essa vivência de ocupação de territórios, mencionando, inclusive, a Cururu Skate Rap, as Batalhas da Tribo e da Matriz. De onde vem essa sua ligação com o rap e essas batalhas?

Mari Lacerda: Eu tava na Cururu ontem, hein? É, eu gosto muito de afirmar que eu sou produto da luta coletiva, justamente pegando o gancho do que eu falei anteriormente, para entender que eu não sou só identidades. Para além das identidades, tem uma construção que move a luta dessas bandeiras históricas. Então, isso eu afirmo muito: ser sujeito da luta coletiva. Inclusive, fazendo [disso] uma crítica a uma concepção individualizada de uma militância individualizada, sabe? De eu, sujeito de todas as lutas. Ou eu faço aqui minha crítica no Instagram e no Twitter e já, já está ok. Não. Tudo que eu vivenciei para chegar aonde eu cheguei passou por um processo de me reunir com pessoas, conversar com pessoas, formar coletivos sociais, porque essas coisas não são fáceis. Não é fácil você lidar, né? A gente sabe na sala de aula, a gente vê no CA [centro acadêmico], nos espaços que a gente participa. Não é fácil lidar com o pensamento diferente, não é fácil. Todo trabalho que tem que escrever uma ata [de reunião], tem que entregar um ofício, tem que chamar as pessoas para ir para a rua, para mobilizar para determinada pauta, mas de onde eu parto, isso é o que altera as estruturas. Então, afirmar que eu sou sujeito da luta coletiva é também afirmar que essas lutas são fundamentais, que a gente precisa que as pessoas apostem nelas, e na Cururu, na Matriz, na Tribo, na Arena e em várias outras batalhas. A Cururu é do lado da minha casa praticamente, e eu já tinha conhecido indo como assessora da deputada federal Luizianne Lins [PT-CE]. Eu fui lá conhecer porque tinha um articulador que tinha chamado o mandato para conhecer. Eu fui, mas não voltei lá, só fui lá. Achei interessante. Fiquei de fato meio assim, como era uma coisa nova, com um estranhamento, com um estranhamento de tudo: do território, das pessoas, de tudo. E aí depois eu conheci um dos organizadores da Cururu, que é o Peixe, e fiquei trocando ideia com ele: “Cara, chega lá na batalha mesmo, vai ver.” Aí eu fui. Assisti a uma batalha. E fui indo e fui indo. Nisso, fui conhecendo as pessoas, fui me envolvendo. É tanto que… “Mari, você gosta de rap?”. Eu gosto pelas batalhas. E foi por meio das batalhas que eu conheci vários artistas do rap, que eu passei a escutar, que eu passei a acompanhar a cena do rap. Aí fui da Cururu visitando as outras, porque eu conheci a galera. Eles circulam entre eles e, “ah, chega lá”, e eu fui chegando e vendo algumas coisas fundamentais.

Primeiro que, hoje, as batalhas, eu acho que é uma das coisas mais revolucionárias que existe aqui, em Fortaleza. Elas estão — a maior parte delas — na periferia, em pontos muito estratégicos da periferia. Tem uma maioria de jovens negros que performam, que cantam, que se imaginam sendo um grande rapper. Então, para mim, isso muda o imaginário do jovem negro que não tem contato com essa arte. E é um espaço de ocupação do território. Eu sempre digo, quando eu estou na batalha: “Olha, isso aqui é política de vida”. Enquanto tem várias coisas promovendo políticas de morte, as batalhas promovem políticas de vida. Então, eu sempre digo nos eventos em que eu estou com eles ou em qualquer lugar, é uma relação verdadeira. Eu não vou lá para uma relação meramente política, mas também digo que não tenha essa relação, existe também. Porque eu trago isso para onde eu estou, para a política institucional. Mas eu conheço a galera das batalhas, eu frequento, eu sei quem são os MC’s, eu acompanho porque eu acho que isso é a diferença na política. Quando você decide fazer política, a prática define quem você é. Então, para mim, eu tenho uma relação muito profunda com a galera. Eles são queridos.

Maria Clara Nascimento: Você também é socióloga pela UFC. Poderia compartilhar um pouco com a gente como essa decisão pelo estudo da sociologia se encaixou na sua visão, em como ela moldou a sua perspectiva em relação a questões políticas e sociais?

Mari Lacerda: Eu acho que a universidade me deu as chaves teóricas de compreensão do meu mundo. Minha primeira graduação, eu entrei na filosofia. Não me identificava muito, achava muito abstrato. Aí eu fui para as ciências sociais. E, nas ciências sociais, todas as áreas — ciência política, sociologia e a antropologia, que eu ficava mais distante — me davam chaves para compreender teoricamente o mundo que eu já vivia. Então, a questão do feminismo, você estuda muito isso na sociologia. Você vê a questão dos conflitos sociais, todo o processo político que o Brasil viveu. Para mim, isso era uma coisa que me engrandecia. Mas eu sempre via, não da universidade para o meu mundo, mas do meu mundo [para a universidade], como eu pego esse conhecimento aqui que eu tenho [e trago] para a universidade, como eu pego esse arcabouço teórico e também melhoro para até disputar em determinados lugares que a gente costuma não alcançar.

Ana Massonila: Ainda no campo da universidade, retomando a sua fala sobre as práticas, você está militando no movimento estudantil desde 2011 e também foi diretora de direitos humanos da União Nacional dos Estudantes (UNE) e voz ativa contra a nomeação de Cândido Albuquerque como o reitor da UFC. Como começou efetivamente essa sua prática dentro do movimento estudantil?

Mari Lacerda: Olha, para ser bem sincera mesmo, quando eu comecei a militar no movimento estudantil, eu ainda nem era universitária. Eu tinha feito PNV [Projeto Novo Vestibular, ação de extensão mantida pela UFC, destinada a estudantes de ensino médio de escolas públicas], tinha feito cursinho popular e aí eu estava naquela trajetória assim… Sempre trabalhei, trabalhei desde os meus 14 anos, então eu era aquela jovem que tinha terminado os estudos, queria muito ir para a universidade. Prestei vestibular, a primeira vez não deu muito certo. Então eu estava naquela, naquela coisa de seguir no mercado de trabalho e seguir tentando a universidade. E eu conheci o movimento através do feminismo. Eu era militante da Marcha Mundial das Mulheres e aí, num evento, eu conheci, no Festival das Juventudes daqui, de Fortaleza, que foi organizado pela então prefeita Luizianne Lins, conheci todos os outros movimentos, inclusive o movimento estudantil. Aí eu adorei porque eram coisas que eu fazia num bairro, só que de outra maneira, com outras pessoas. Aquilo tudo era muito interessante para mim, então eu comecei a ficar e a colar com a galera toda, no Benfica [bairro que concentra campi universitários, sedes de partidos políticos progressistas e uma cena boêmia], nas calouradas, muita gente bonita e aquilo tudo foi “ah, rapaz, isso aqui é bem legal”. Aí eu me envolvi e disse: “Não, eu vou entrar na universidade agora de todo jeito”. E aí entrei na universidade, comecei a meditar assim, naturalmente, mas, para mim o movimento estudantil no começo era muito estranho, porque, pra mim, primeiro que o movimento estudantil vem duma galera de classe média, né? Quem antes tinha condição de fazer movimento estudantil era muito a galera de classe média e tal, então eu fazia muita reflexão teórica e nas disputas. Pra mim, também ficava umas disputas que não faziam nenhum sentido. Quando eu entrei, e eu acho que esse foi o diferencial para mim ter durado tanto tempo, pra mim ter chegado à UNE hoje, ter respeito de todos os coletivos, eu disse: “Olha, gente, isso aqui é muito legal, mas vamos fazer o que vale a pena e não se desgastar com o que não vale”. E foi uma experiência muito legal. A gente construiu muita coisa do movimento estudantil aqui, na UFC, em vários outros espaços, e eu acho que a luta contra o Cândido tem algumas dimensões muito importantes. Primeiro que ela reconecta a UFC com a sua história, porque já teve um outro momento de luta contra um interventor na UFC. Inclusive a Luizianne [formada em Comunicação Social — Jornalismo pela UFC e hoje professora efetiva do mesmo curso, atualmente licenciada para mandato de deputada federal] era protagonista dessa luta nesse período. E também conecta a universidade com a sociedade, com o que a gente estava vivendo de retrocesso na sociedade. E o que eu achei muito interessante é que a universidade entendeu isso, os estudantes entenderam. Então, o Cândido nunca teve [apoio dos estudantes], podia ter apoio em um e outro, mas ele nunca teve o apoio dos estudantes, e isso, para mim, era muito interessante. Então, quando se iniciou o processo da nomeação do Cândido, a gente fez vigília aqui, acampando todos os dias [na Reitoria da UFC, no bairro Benfica]. A gente fez um ato muito bonito na Bienal do Livro [do Ceará, em novembro de 2022, no Centro de Eventos, em Fortaleza]. Eu lembro que eu dizia para a galera: “Gente, nós precisamos levar o que tá aqui pra sociedade. Ou a sociedade entende a luta que nós estamos fazendo aqui, ou a gente vai ficar isolado dentro dos muros da universidade”. Então foi por isso a escolha, inclusive, de várias das nossas intervenções: Bienal do Livro; a gente fez o escritório do interventor aqui, no cruzamento [da Avenida da Universidade com a Avenida 13 de Maio]; fez cadeiraço, porque era importante comunicar com a sociedade que aquilo representava um retrocesso para a universidade, né? A pessoa, né? Eu sempre acho que o Cândido tem muita cara de pau, né? Não, não foi eleito, não tem nenhum setor que apoiava [na consulta à comunidade acadêmica em 2019 para a Reitoria da UFC, Cândido Albuquerque ficou em terceiro lugar e, mesmo assim, foi escolhido por Jair Bolsonaro para assumir o cargo]. E a pessoa ainda querer representar a universidade que estava ali dizendo que não queria, que era contra, sabe? E acho que os homens brancos, ricos e poderosos têm uma coisa assim, que é só deles mesmo, uma capacidade de não se incomodar com isso, né? Mas foi um momento muito bom, inclusive para reavivar o movimento estudantil, para fazer uma relação mais próxima com o sindicato. Porque a gente, com o sindicato e outros setores da universidade, isso foi muito bacana. Eu sou muito feliz na minha trajetória no movimento estudantil. Seja na UNE, quando eu estive na UNE em 2015, 2017, a gente também protagonizou muitos atos de rua. Era ali, era contra o golpe [refere-se ao impeachment contra Dilma Rousseff, em 2016]. Era ali contra “Uma Ponte para o Futuro” [plataforma de governo] do [ex-presidente Michel] Temer, a ponte do atraso. Então, foi um processo intenso de ocupação das ruas, e ter feito parte disso é muito significante. É muito gratificante.

Maria Clara Nascimento: Mari, você atua na instituição Sempre Viva, organização feminina, desde 2020, na qual busca promover a equidade e autonomia das mulheres nos âmbitos político, cultural e social. Como é que você observa a relação entre o movimento feminista e as políticas institucionais e de que forma esses dois espaços podem se complementar e fortalecer na luta por uma sociedade menos desigual?

Mari Lacerda: Olha, nós que nos entendemos feministas ou que lemos, estudamos sobre gênero no Brasil e no mundo como um todo, a gente sabe que o Estado não foi pensado para as mulheres, então sempre há um processo de tensão na nossa ocupação do Estado. Seja na política, seja na academia, quantas reitoras nós conhecemos? Então, não é só na política, é na política, na família, em todas as esferas, até no campo das empresas privadas, o Estado sempre é pensado para os homens, pelos homens e para os homens. Então, é um processo de muita tensão, sempre. Eu acho que nós já avançamos muito, muito mesmo, mas a gente segue, inclusive, ao passo que a gente avança, você vê como o patriarcado se reorganiza para tentar nos impor retrocessos. Por exemplo, nós temos hoje várias mulheres que foram candidatas e foram eleitas. Nós tivemos, inclusive, o que eu estudei na minha dissertação. Em 2020, a gente teve um boom de candidaturas mulheres. Mas você vê que, ao passo que essas mulheres entram nesse espaço, que elas adentram esse espaço, você vê agora muito em evidência o tema da violência política de gênero. Por quê? Porque é como se aquele espaço ali, político, não fosse feito para as mulheres. Então, a violência política, de gênero, está constituída, ela está dada, né? O espaço é totalmente violento. Se a gente perceber que tem muitos lugares, a própria Câmara, teve essa adaptação da Câmara muito recente para a presença das mulheres, um banheiro feminino no plenário. E você vê que tem várias empresas que seguem essa mesma lógica. Então a gente vive num processo de tensão. E aí conecta com tudo que a gente já falou aqui anteriormente, que não tem como ter avanço se não estivermos organizadas. Se a gente não ocupar as ruas… Inclusive este ano tem uma agenda muito importante no calendário feminista, que é a Marcha das Margaridas. Então, a nossa meta é ter mais de 100 mil mulheres em Brasília, com um conjunto de pautas que nós vamos apresentar para o governo [de Luiz Inácio Lula da Silva], inclusive, um governo que nós elegemos, fomos pra rua eleger, mas temos uma série de reivindicações para melhorar a vida das mulheres, por exemplo, a pauta do cuidado. Hoje esse é um tema central, porque no centro dessa pergunta que ele fez é que eu respondi que o Estado não é pensado para as mulheres e pela lógica da produção e reprodução, de que as mulheres são do campo da reprodução. Ou seja, nós somos responsáveis por todo o cuidado da humanidade, seja com o filho, seja com os doentes, seja com os mais velhos, todas com o trabalho doméstico. Então, esse é um tema central que nós temos trabalhado, seja na esfera da política institucional, seja do movimento social, esse debate do cuidado, porque ele define muitas coisas sobre a nossa trajetória e a ocupação dos espaços, inclusive.

Ana Massonila: Durante a campanha [de 2022 para deputada estadual], você fez muitas ações em conjunto com a ex-prefeita [de Fortaleza, de 2005 a 2012] e agora deputada federal Luizianne Lins. Além disso, você sempre deixou claro que ela é sua inspiração política. Como se deu essa proximidade com Luizianne e o que ela representa na sua trajetória política?

Mari Lacerda: É muito legal porque, como eu falei, eu venho do território, né? E lá no meu bairro, nós organizamos — eu acho que eu tinha 15, 16 anos — para participar do Orçamento Participativo [OP], que era o programa da Prefeitura Municipal de Fortaleza, que tinha como carro-chefe a participação popular. Esse é o meu primeiro contato, participar do OP. Eu era delegada do OP Criança e Adolescente na época, né? E aí fui conselheira e, nesse espaço, a gente tinha, além de formação, debates de discussão sobre a cidade, alguns momentos com a própria Luizianne, que ela ia lá e debatia com os conselheiros do Orçamento Participativo sobre as pautas, sobre as demandas da cidade, sobre os projetos que estavam sendo pensados. Esse foi o primeiro contato que tive com Luizianne. Depois disso, a minha mãe, que é inspiração, ela é louca pela Luizanne, apaixonada. Minha mãe trabalhou na gestão na Secretaria de Assistência Social, coordenando um projeto que era com mulheres que eram atendidas pelo Bolsa Família. E aí é outro elo para a gente se aproximar através desse projeto que, para a gente, era muito importante trabalhar com as mulheres atendidas pelo Bolsa Família. Fui conhecendo pessoas do ciclo. Quando eu fui para o movimento estudantil, fui para o agrupamento, que tem relação com a Luizianne. Então, acho que as coisas da política, essa visão da política, foi nos aproximando. Essa visão da participação, de luta política, de radicalidade, a minha inspiração na Luizianne é porque eu vejo nela uma mulher muito radical, uma mulher que está sempre à frente do seu tempo. Você vê que muitos jovens se conectam com a Luizianne e que não são dessa geração. E eu acho isso sensacional, você chegar a um determinado tempo da sua vida e ter jovens que se conectam com o que você faz na política, com o que você afirma como projeto, eu acho isso muito bacana. E a Luizianne é essa pessoa, ela é irreverente, ela é radical, sabe? Ela é generosa. E aí foi nisso que a gente se conectou, nessa forma de fazer política. A Luizianne é muito verdadeira, e isso eu admiro também bastante. Ela é muito verdadeira e tem uma capacidade de sentir as pessoas, e eu acho que isso é uma coisa que a gente tem em comum: conseguir sentir o povo. Isso é muito importante para qualquer pessoa que está na política. Então todas essas questões me inspiram.

Ismael Camurça: Agora, Mari, entrando de vez no assunto “eleições 2022”. Diante de tudo o que você já falou sobre a inclusão de mulheres e minorias no geral na participação política, como surgiu a ideia de dar esse passo adiante, de se candidatar a deputada estadual?

Mari Lacerda: Bom, como eu disse, eu comecei a militar mais próximo do partido político quando eu, aos 18 anos, entrei no movimento estudantil, entrei na universidade, então já organizava um grupo no movimento estudantil. Aquele grupo lá sempre era muito entusiasta, sempre diziam: “Olha, você vai ser nossa representante”. Mas isso era muito… A gente falando entre nós, brincando, nunca algo de fato sério. E eu sempre estive na política, sempre fui do coletivo da juventude do PT, sou petista, sempre fui do diretório, da executiva. Esses espaços institucionais da política, eu sempre ocupei, mas sempre com mais peso, ocupando esse espaço no movimento. E aí — acho que foi 2018, 2020 — houve essa onda de candidatura, esse pós-Marielle [Franco, vereadora do Rio de Janeiro pelo Psol, assassinada em março de 2018], né? Teve essa questão da Marielle, ela é um marcador para as candidaturas de mulheres negras no Brasil. Se você olhar, o grande marcador é a Marielle, o assassinato da Marielle, ela de fato virou semente. É triste o motivo, mas, de fato, a minha visão é que Marielle virou semente e várias mulheres negras puderam se colocar na política. Então isso ganhou mais força, e a gente já vinha conversando e tal, mas, por sermos um projeto coletivo, a gente não apresentou isso em 2020. E aí fomos, como sempre, construindo essa perspectiva de que é um quadro que está preparado para assumir essa tarefa. Porque eu acho que isso também não é uma perspectiva personalista, “porque a Mariana…”. Não, é porque eu sou um quadro da organização que cumpre determinados critérios que pode, assim como vários outros. Então viram eu conversando isso com mais força e apresentando dentro da nossa organização o desejo de ser também. Justamente por entender que a esquerda precisa apostar na juventude, apostar nas mulheres, apostar nas mulheres negras. Uma coisa que falei muito na campanha é que, em 80 anos, a Assembleia [Legislativa do Ceará] não teve uma deputada negra. Então, qual o papel da esquerda nisso? A direita tem apoio e tem mostrado essas candidaturas. Você vê um Carmelo Neto da vida, uma Priscila Costa [ambos vereadores de Fortaleza pelo PL], você vê várias coisas. Então, isso é também uma provocação para a esquerda enquanto defensora de um determinado programa, colocar esse programa em prática. E foi assim que a gente foi fazendo o debate internamente e surgiu a possibilidade. E aí, nesse caminho, inclusive, Luizianne ligou para mim e disse: “E aí, você vai ser candidata mesmo?”. Naquela hora, com aquela pergunta, que, tipo assim, é um minuto da sua vida para as maiores definições, né? Aí eu pensei: “Eu sempre fiz campanha política. Sempre tive um candidato, terei provavelmente. Então eu vou, serei eu a candidata, porque, se não for eu, farei campanha do mesmo jeito, pois sou de um projeto coletivo. Então serei candidata, toparei a missão”. E assim fui.

Ana Massonila: A campanha eleitoral de 2022 foi uma das mais curtas da história [com apenas 46 dias, a mais curta desde 1994] e você teve pouco tempo para se planejar. Ainda assim, recebeu um número de votos expressivo, 15.453, e terminou como suplente. Quais foram os maiores desafios dentro desses dias agitados da corrida eleitoral?

Mari Lacerda: Acho que o primeiro grande desafio está na pergunta: foi o pouco tempo. Porque a gente já queria ser candidato e a gente retirou [a candidatura] para apoiar outra pessoa, e a pessoa depois voltou, mas não tínhamos comunicado para a sociedade, a gente tinha comunicado entre nós, óbvio, mas a gente ainda não tinha falado com as pessoas, grupos políticos. Então esse é o maior desafio, ter tempo de preparação. O segundo maior desafio foi que nós tínhamos a campanha também do Elmano [de Freitas, eleito governador do Ceará pelo PT em 2022] e da própria Luizianne, que parte dos nossos grandes líderes estavam envolvidos nessa campanha, que eram também muito importantes. Então, nossa… Isso é muito engraçado, eu e toda a equipe, nós éramos jovens fazendo o que a gente já sabia fazer, o que a gente já tinha feito antes, mas com os desafios das grandes decisões e isso é uma virada de chave importante, porque, às vezes, quando a gente está com o povo no coletivo e está participando de algumas campanhas, não somos nós que definimos sobre várias coisas, e nessa que era a nossa campanha, a gente teve que definir sobre recurso — “O recurso vai pra onde?”, “A gente investe em quê?”, “Como a gente investe?” — e a palavra final era nossa. Comunicação: “Qual a estratégia?”, “Qual a melhor estratégia de comunicação?”, “A gente investe nisso”. Então, essas grandes definições eram o mais desafiador. E o tempo, né? Então a gente correu contra o tempo, mas é de fato o resultado. As pessoas brincam muito depois da campanha, eu tenho 32 anos e as pessoas: “Menina, como é que tu conseguiu tanto voto?”. Aí eu peguei e disse assim: “Trabalho”. Uma das justificativas que eu apresentei para colocar meu nome como candidata era que a sociedade gostaria de votar nesse perfil, que a periferia gostaria de votar em uma pessoa da periferia, que as mulheres gostariam de votar em mulheres, que negras e negros gostariam de se ver representados. Então, um dos grandes argumentos era esse, isso foi dado na campanha. Então a resposta dos votos, mesmo com pouco tempo. Primeiro é que a nossa trajetória não começa agora, né? Vem lá do bairro, da associação, então tudo aquilo vem como acúmulo da política. Fiz campanha na rua que eu fui da associação quando eu tinha 14 anos e as pessoas da rua superfelizes com isso, eu fiz campanha no RU [restaurante universitário] da UFC, eu almoço no RU da UFC, então as pessoas do meu curso, do meu departamento me viram e se envolveram na campanha. Então, não é o resultado dessa eleição, mas de um processo também, né? E tem isso, a sociedade estava querendo mudar. A sociedade definiu entre Lula e Bolsonaro, o que mais aproximasse desse programa do Lula que falava sobre mulheres, que falava sobre outra perspectiva para negros e negras, outra perspectiva para LGBT’s, esses setores gostariam de ver esse projeto para além do executivo, como também no legislativo. Então eu acredito que isso é um marco das vitórias e os desafios foram esses, o tempo… Eu até brinco: “Ai, se me dessem mais 15 dias e um dinheirinho, eu tinha conseguido”. Mas o resultado para a gente foi positivo.

Helder Sena: Mari, para encerrar o assunto “eleições 2022”, você obteve uma votação expressiva no Mondubim: foram 743 votos, 7% dos seus votos na capital. E desses, 235 foram justamente da comunidade do Parque Santana. Como você avalia esses números?

Mari Lacerda: Prática política. Acho que isso é o central. E da minha mãe [risos]. Não, não, estou brincando. Eu digo “da minha mãe” porque hoje, ainda hoje, a minha mãe é moradora do Parque Santana. Eu já não [sou]. Então, eu vou, frequento o bairro, visito ela, frequento o salão do bairro, ando no bairro. Mas hoje ela é moradora lá, desenvolve vários projetos. E é essa coisa que eu falei antes, né? Assim, quem me conheceu adolescente do bairro, tipo, ficou feliz com a campanha. Votou. Eu fui catequista, então as mães dos meus catequizandos e acho que tinha até catequizandos que já podiam votar e votou. Eu comecei a trabalhar aos 14 anos. Eu fui auxiliar de professora numa escolinha do bairro, então as mães dos meus alunos, tipo: “Olha aqui ela, que foi tua tia, tá se candidatando”, e votou. E tem essa coisa também da pessoa saber quem é, né? “Não, é minha vizinha.” Isso, para mim, foi também uma parte encantadora, sabe? Ver os meus vizinhos felizes. E olha com todo o assédio que a periferia tem, né? Então, a votação que a gente levou no Parque Santana foi, inclusive, contra grandes máquinas. Porque tinha o presidente da Câmara [Antônio Henrique, ex-presidente da Câmara Municipal de Fortaleza e agora deputado estadual], que tem base nesse território, outros vereadores têm associações com vários projetos. E a gente não tem. Os nossos projetos sociais lá, inclusive, nem site têm. Tem a boa vontade das pessoas, tem as parcerias que a gente constrói, mas não tem essa força nem da máquina, nem da estrutura. Então, são pessoas que olharam, se identificaram com a campanha e foi, que foi se envolvendo, sabe? Quando o Lula ganhou, foi muito legal. Eu tinha que estar aqui, na Avenida da Universidade, para apresentar aqui, mas eu não conseguia sair do meu bairro porque todo mundo foi indo para a casa da minha mãe. E todo mundo chegando, todo mundo chegando, e a gente tinha que fazer uma caminhada, uma carreata, uma motociata, caminhada da vitória. Era todo mundo chegando lá em casa. E essa parte foi muito linda. O pessoal ligava: “Olha, você tem que vir aqui, pro Benfica” [bairro onde se situa a Avenida da Universidade, onde foi comemorada a vitória do Lula em Fortaleza]. “Gente, eu não consigo sair daqui ainda”. Porque eu não ia chegar para as pessoas: “Tchau, gente”. Aí a gente teve toda uma volta no bairro. Isso também é legal, as pessoas entenderem que projeto a gente representa, nos entender como representantes de um determinado projeto, entendeu?

Ana Massonila: Dos mais de 15 mil votos que você fez, 10.578 vieram da capital, um bom resultado aqui em Fortaleza. Já existe algum planejamento para uma candidatura à Câmara Municipal no próximo ano?

Mari Lacerda: Existe! Existe porque… Primeiro que a nossa avaliação é que a Câmara Municipal é muito ruim. Você tem vereadores muito ruins lá que aprovam taxa do lixo, que dão concessão para construir arranha-céu, prédios para gente rica, que não se preocupam com o outro lado da cidade. Então, para a gente, o projeto que apresentamos em 2022 foi vitorioso, e a resposta não está só nos números — está também [nos números], porque isso conta muito para a política. Eu dizia muito na campanha que a gente precisa se levantar, porque, se eu não tivesse tido votos, as pessoas já tinham… Eu dizia sempre assim: “Olha, isso não é definidor e nossa campanha não vai ser marcada pelo sucesso ou pelo fracasso, é o projeto, é o processo, é a construção”. Mas ter muito voto já consolida algumas coisas, então as pessoas já saíram muito: “Ah, vereadora”. E eu até seguro um pouco, porque acho que tudo não é natural assim, eu acho que é construção. Entendo todo mundo já se empolgar para eu ser [candidata a vereadora em 2024], mas tenta entender também que é muito difícil. O que que nós queremos, nós que pensamos na campanha no ano passado? A gente quer construir um grande seminário com todo mundo que somou nesse projeto, com todo mundo que é parceiro, que quer discutir a cidade, porque isso é uma coisa que a gente avaliou a partir da campanha anterior. A gente teve pouco tempo, então a gente apresentou um projeto que era comum, um projeto mínimo comum que a gente já tinha. Só que a gente acha que, para Fortaleza, precisamos apresentar um projeto mais profundo. Então a gente quer chamar todo mundo que esteve com a gente no ano passado para debater a cidade, a Fortaleza que queremos e, a partir daí, ir construindo o nosso projeto, inclusive, de intervenção na cidade. Porque nós não queremos uma candidatura que seja pautada na estrutura dos marcos tradicionais da política, a gente quer uma candidatura que tenha a pauta política e que essas pautas andem na sociedade. Por exemplo, eu fiz várias denúncias sobre a questão da taxa do lixo, fui para a Câmara Municipal, era quase dezembro [de 2022], quase férias, e fui pra Câmara Municipal. A gente acredita que precisamos retomar o ciclo de luta política. Mas a gente vai, sim, disputar as eleições ano que vem [2024]. Convido a todo mundo aí que estiver assistindo, se quiser somar nesse projeto, é muito bem-vindo. A gente ainda não iniciou porque isso também demanda estrutura pessoal, financeira e coletiva. A gente está se organizando, deixando também as coisas se assentarem um pouco para, quando for agora, no início do segundo semestre [de 2023], começar esse processo de debate e reflexão, e aí uma ida mais ofensiva para os lugares em que a gente, como você colocou aqui, em que a gente foi bem votado. Porque é muito mais difícil, digamos… Eu tive mais de 10 mil votos [em Fortaleza para deputada estadual], mas não representa que eu teria essa mesma votação no ano que vem [em 2024, para vereadora]. A gente tem que fazer o cálculo que isso se divide por dois ou três, porque tem muito mais candidatos a vereador, tem menos recursos e uma série de questões, mas nós queremos, nós acreditamos que podemos ir ali e buscar os 10 mil novamente e mostrar para o Brasil, mas mostrar principalmente para Fortaleza, que a cidade quer outra opção política, que a cidade aposta nas suas juventudes. Porque é isso: quando a gente vê esse projeto vitorioso, eu digo assim: “As pessoas querem que a juventude ocupe a política, as pessoas querem que as mulheres ocupem a política, as pessoas querem que as pessoas LGBT’s quebrem todos os armários e estejam nos lugares onde elas querem estar”. Então o nosso projeto representa isso, e a gente acha que Fortaleza merece e vai estar com a gente nisso.

Helder Sena: Para finalizar as perguntas de hoje, o que esperar da Mari Lacerda a partir de primeiro de janeiro de 2025, caso ela seja eleita vereadora?

Mari Lacerda: Eu acho que uma grande festa, primeiro porque eu sou uma pessoa alegre, eu sou pessoa da festa, mas eu acho que é uma festa de celebração de um projeto que não parte de agora, vem das pessoas que vieram antes de mim, um projeto que vai e vai com a periferia… Eita, até me emocionei com a pergunta, mas eu acho que é isso, sabe? Eu sempre digo para as pessoas que a gente precisa celebrar nossas vitórias. Chegando lá, no dia 1º [de janeiro, na Câmara Municipal de Fortaleza], primeiro nós vamos celebrar porque a gente sofre bastante, a gente luta bastante e a gente merece celebrar nossas vitórias. Eu acho que esse é o primeiro grande acontecimento. E o segundo é o compromisso de um mandato, fincado nas bases, mas um mandato muito disposto a crescer bastante e levar para aquela Câmara Municipal as pautas, aí conectando com uma das primeiras perguntas, das margens. Eu acho que esse é o nosso papel da política: expandir essa coisa de margem e centro. Mas a gente sabe como exige pegar tudo aquilo que está na margem e colocar no centro da política e fazer disso o centro do nosso debate político.

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