Melhor comprar em brechó

Catarina Varela
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readAug 31, 2021

[CRÔNICA]

Por Catarina Varela

Cada uma das peças compradas na Shein vem em uma sacola individual / Arquivo Pessoal

Nunca entendi muito de moda. Na verdade, eu não entendo de muitas coisas, mas moda nunca foi um dos pontos altos do meu interesse. A falta de dinheiro me acostumou a fazer compras no Casarão do Centro, e, depois de um upgrade, no Centro Fashion de Fortaleza. Mas, mesmo assim, ainda há vezes em que eu recorro à facilidade de comprar nas lojas de departamento do shopping.

Ano passado, minha prima começou a comprar na Shein, e eu até baixei o aplicativo. Passei horas olhando as opções, mas como uma boa “pão-duro”, não comprei nada. Por outro lado, bastava que as sacolinhas individuais da Shein chegassem para que minha prima planejasse a próxima compra, já que agora ela tinha “pontos de desconto”. E eu entendo o apelo, afinal, é realmente mais barato e mais prático do que comprar em lojas físicas.

Sempre gostei de fazer compras online, mas com relação à roupa, eu preferia ver como fica no corpo primeiro, por isso evitei uma aquisição virtual. Só agora, depois de um tempo, estava pensando em adquirir minha primeira peça de roupa diretamente de países asiáticos de terceiro mundo. Falando em países asiáticos de terceiro mundo, costumamos ouvir pessoas falarem sobre marcas de roupas famosas que exploram crianças e pagam quase nada para que elas passem o dia trabalhando. Mas não é irônico que essas mesmas pessoas ainda consumam esses produtos?

Durante as minhas horas de procrastinação rolando os reels do Instagram, vi um vídeo específico que me chamou atenção para um termo que eu não conhecia, o “greenwashing”, que em inglês significa “lavagem verde”, e é utilizado quando pessoas, empresas e organizações se utilizam de um discurso pró-sustentabilidade que não condiz com as verdadeiras ações da instituição. Aparentemente, a Shein se encaixa nesse termo. Como eu disse, nunca fui muito chegada à indústria moda, que, para mim, se resumia a pessoas vestindo roupas esquisitas em passarelas. Mas, depois de alguns minutos de pesquisa e diversos reels com a # modasustentável, concluí que, assim como todas as outras, a indústria da moda é mais sombria do que parece por trás dos holofotes.

Chega a ser irônico esse pensamento de que basta nós, pessoas comuns, sermos sustentáveis, que o aquecimento global vai acabar. Não é bem assim que funciona. Desligar o chuveiro enquanto eu passo sabonete nem se compara à quantidade de água que a indústria gasta para fazer uma calça jeans no Brasil — cerca de 5.196 litros — mas, realmente, quem está destruindo o planeta é a senhora que passou 40 minutos lavando a calçada de sua casa.

Outro termo que aprendi foi o de fast-fashion, que corresponde a um padrão de produção e de consumo com que os produtos são fabricados, consumidos e descartados muito rapidamente, o que, para mim, é absurdo, já que eu uso a mesma roupa centenas de vezes antes de transformá-la em pijama, para depois ser usada mais uma centena de vezes. Um dos maiores impactos do fast-fashion ao meio ambiente é a quantidade exorbitante de lixo que ela produz. Sempre achei legal que cada uma das peças da Shein vem em um saco plástico diferente. Mas, parando pra pensar, CADA UMA DAS PEÇAS vem em um saco plástico diferente. Além disso, essa indústria é a segunda mais poluente do mundo.

Acho que agora só vou comprar em brechó — melhor roupa de gente morta do que roupa de quem mata gente.

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