Não permitiremos viadagem em sala de aula

Mateus Macêdo
EntreFios - tecendo narrativas
2 min readAug 31, 2021

[CRÔNICA]

Por Mateus Macêdo

Foto: Pixabay

Acordei em mais uma quarta-feira e logo fui ler as notícias. Deparei-me com a informação de que um professor chegou para ministrar sua aula de Artes a uma turma de nono ano da Escola Municipal Pascoal Meller, no bairro Santa Augusta, em Criciúma. Era pra ser só mais uma aula pela manhã, mas tudo mudou quando o professor decidiu apresentar o clipe da música “Etérea”, do cantor Criolo.

O clipe em questão tem 1,2 milhão de visualizações no YouTube e, em 2019, a música foi indicada ao Grammy Latino na categoria Melhor Canção em Língua Portuguesa. Na letra, o cantor defende a liberdade, o “jeito de amar” e “amores aceitos sem imposições”.

O professor só queria abrir discussões, reconhecer e celebrar a diversidade e também provocar reflexões a respeito das discriminações sofridas por homossexuais, que fazem do Brasil o país que mais mata gays no mundo.

No entanto, tudo saiu do controle. Para os pais dos alunos, isso foi um ataque direto. Afinal, onde já se viu ficar mostrando esses vídeos “erotizados” para seus filhos. Eles podem virar um deles.

Poucas horas depois, um vídeo chegou a uma advogada, que não acreditou na tal aula de “lacração” que estava sendo ministrada. Então, sem pensar duas vezes, ela encaminhou o vídeo para o vice-prefeito Ricardo Fabris (PSD), para o secretário municipal de Educação, Miri Dagostim, e para alguns vereadores de Criciúma.

O prefeito de Criciúma logo tomou medidas severas. Não poderia deixar esse professor continuar espalhando “viadagem” para os jovens estudantes. “Nas escolas do município, enquanto eu estiver aqui de plantão, isso não vai acontecer, esse tipo de atitude, essa ‘viadagem’ na sala de aula, nós não concordamos. E, se os pais souberem de algo parecido que foi exposto para os seus filhos, por favor, entrem em contato com o município”, disse ele.

O professor foi então demitido sob a justificativa de que o conteúdo do clipe não faz parte do plano de ensino, e que se trata de “conteúdo inapropriado”.

Depois de ler isso tudo, perguntei-me por quanto tempo mais vamos ser considerados “conteúdo impróprio”, por quanto tempo vamos ter que ler notícias como essa e vamos sentir medo da repressão apenas por sermos quem somos.

Cansado de tudo isso e sem ânimo, decidi tirar o dia para descansar e não pensar mais no quanto essa sociedade quer nos silenciar. No dia seguinte, ainda não conseguia parar de pensar sobre isso, por isso, resolvi fazer o que estava ao meu alcance. Então, escrevi.

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