“Não sei quem eu seria se não fosse ligada à arte”

Pedro Santos
EntreFios - tecendo narrativas
4 min readAug 11, 2022

A empreendedora e estudante de arquitetura Mônica Freitas, de Feira de Santana (BA), encontrou na arte a razão de sua vida

Por Pedro Santos

Mônica Freitas com o rosto pintado em ensaio fotográfico / Arquivo Pessoal

Nascida em Mossoró (RN), Mônica Freitas, de 23 anos, foi para Feira de Santana (BA) com poucos meses de idade. Seus pais já residiam na Bahia antes e haviam ido para o interior potiguar apenas para contar com a ajuda da família materna — que tinha pessoas da área da saúde — no nascimento da caçula.

Nova integrante da família de classe baixa e moradora do Conjunto Renascer, na periferia da cidade, ela tinha apenas 2 anos quando entrou na Comunidade Regina Pacis, uma rede católica do bairro e local no qual sua mãe trabalhava. Mônica não sabia, mas ali teria o primeiro contato com sua parceira de vida: a arte.

Passando boa parte da infância na comunidade, Mônica dividia seu tempo entre conversar com membros italianos de lá, que viajavam em missões, e restaurar imagens religiosas com sua madrinha. Restaurar as imagens e acompanhar as práticas de pintura que aconteciam no local foi o que despertou a primeira faísca de interesse artístico-cultural em Mônica. Mas era de fato somente uma faísca. Apenas anos mais tarde foi que esse interesse se intensificou.

Muito por conta da influência na infância, decidiu começar a desenhar por volta dos seus 12 ou 13 anos. Logo depois, entrou em um projeto social da cidade e passou novamente a conviver com a rotina cercada de manifestações artísticas. Danças, musicais, desenhos, pinturas… Um ambiente completo que reacendeu a tal faísca do interesse.

Mas, dessa vez, ela chegou forte, fazendo fogo, sem dar muitas opções de saída. A cada dia que passava, Mônica se sentia mais parte do universo artístico. Ainda fazendo seus desenhos e cada vez mais conhecendo pessoas que se interessavam pelas mesmas coisas, chegou à conclusão de que queria trabalhar com arte, “mesmo sem saber exatamente como”.

Recebeu o apoio dos pais e, ainda na adolescência, seguiu sua caminhada por projetos frequentando o Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca) da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), onde conheceu mais gente da área, criou contatos, participou de eventos, viajou… Viveu experiências que só foi capaz de viver por conta da arte.

Não muito tempo depois, começou a receber pedidos de amigos para fazer desenhos ou pinturas para eles, e viu nisso uma oportunidade de iniciar seu trabalho com a arte. Primeiro colocava seu material em broches e os vendia, logo veio o desejo de pintar telas (de primeira ignorado pelo alto custo para adquirir o material), que foi substituído por pinturas em tábuas de carne.

O negócio cresceu, virou perfil online e, certo tempo depois, já estava recebendo pedidos do Brasil inteiro. A hoje estudante de arquitetura (pela arte, claro, e por admirar o que os italianos contavam sobre monumentos históricos) e funcionária do governo em um projeto social de arte tornou-se também uma empreendedora.

Os projetos sociais e as manifestações artístico-culturais que Mônica vivenciou, segundo ela, a moldaram como ser humano. E atingir as pessoas por meio de suas obras, como faz hoje (recebendo, inclusive, elogios de artistas como Bráulio Bessa e Paolla Oliveira), é o grande objetivo dela. Hoje é possível ajudar financeiramente em casa enquanto faz o que ama, e, também por isso, ela sabe o impacto da arte em sua vida.

Mônica Freitas com uma de suas obras / Arquivo Pessoal

“Se um dia eu conseguir bastante dinheiro com arte, meu grande sonho é criar um projeto social. No meu bairro, na periferia, com jovens. Queria que tivesse ligação com arte porque é minha vida. Não sei quem eu seria se não fosse ligada à arte. Queria fazer isso, pois sei que as pessoas têm uma imagem errada de lá, acham que não existe nada certo ou que ninguém presta. Eu sei que isso não é verdade, e queria que todos soubessem também”.

Independentemente da fase da vida, Mônica e arte sempre andaram juntas. E no momento em que deram as mãos, o casamento foi automático. Se vão viver felizes para sempre, apenas o tempo dirá, mas, desde a união até aqui, elas têm sido parceiras inseparáveis.

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