Na parede da memória

Ryanandre
EntreFios - tecendo narrativas
4 min readJul 18, 2022

Mirna Assunção traz em sua história a garra, o sorriso no rosto e, principalmente, o formidável passado, que não volta

Por Ryan André

Mirna Assunção Marrocos dos Santos / Arquivo pessoal

Mirna Assunção Marrocos dos Santos é uma mulher de fibra e resignada em relação àquilo que almeja. Nascida em Fortaleza, em 7 de abril de 1964, Mirna se recorda do período de sua juventude, no qual o tempo parecia que não iria passar nunca, e o horizonte se mostrava sempre promissor.

Ela fala de tudo e, às vezes, parece não ter papas na língua. A sobralense de coração é apaixonada pelo seu passado e costuma dizer que ele diz muito sobre o que ela é. Agora, fazendo um paralelo entre passado e presente, a nostalgia toma conta de seu espírito e a faz retornar aos tempos de ouro por meio de suas valorosas lembranças.

Apesar de ter nascido em Fortaleza, fala de Sobral com uma paixão no olhar, tal qual alguém que se lembra de um grande amor do passado, mas que ainda se encontra ali, em sua mente e em seu coração, por mais que a distância e o tempo se mostrem implacáveis.

“Lembro de cada detalhe de Sobral, por volta dos anos 80, cada local especial, as músicas que tocavam naquele tempo, os amigos, enfim, a energia da cidade era única”, rememora.

Mirna afirma que, feito ela, a maioria de seus amigos fizeram a própria vida: casamento, filhos… E aquele tempo da juventude, que se mascarava como infindo, cuidou em se apressar tanto que tudo o que ocorreu mais se assemelha a um furacão que passou, modificando a vida de todos.

Ainda assim, por mais que o tempo tenha levado para longe cada uma das pessoas especiais que passaram por sua vida, uma amizade se manteve: Maria do Livramento. A amiga foi a grande parceira de Mirna nas memoráveis festas de carnaval.

As duas sempre foram carne e unha, desde os momentos felizes até os mais difíceis. Ainda se falam por telefone com uma periodicidade não muito grande, todavia, sempre que se falam, dizem tudo o que querem e, claro, mais uma vez, viajam no tempo. “É, o tempo costuma afastar as pessoas. Acho que alguém já escreveu isso. Senão, deveria”.

Mirna, tal qual a maioria das mulheres, cuida de mil e uma coisas ao mesmo tempo. Sem se dar conta, passa a maior parte do tempo pensando mais nos outros do que em si mesma.

A rotina é sempre agitada, mas ela, feito malabarista, dá conta, inclusive, de achar tempo para responder umas tantas perguntas sobre sua vida para seu filho curioso, que cursa Jornalismo.

Mirna adora sair; desde ir à praia “tomar um sol”, como ela mesma costuma dizer, até ir para a missa aos domingos. Como ela própria afirma, sair faz bem e ajuda a esquecer os problemas.

É impossível falar de Mirna sem falar do carnaval. A festa é a sua cara. Noites de música e alegria que melhor seriam se seu fim não fosse já anunciado na quarta-feira de cinzas, na qual todos parecem estar em um sonho bom do qual não querem ser acordados. “O carnaval faz parte da minha vida desde a adolescência. Me recordo de quando Moraes Moreira subia em cima do trio e cantava, animando a todos”, relembra.

Ela diz que tudo de mais importante que aprendeu nesta vida deve ao seu saudoso pai, que já faleceu há cerca de uma década. Mirna reitera que o pai, Orion, é sua cara-metade e nem se quisesse conseguiria esquecê-lo por um dia sequer.

Com a voz embargada, ela relembra sua infância, em que seu pai estava ali para qualquer situação, pronto para ajudá-la. “Papai sempre foi assim em relação a tudo e a todos […]. A saudade que sinto do teu avô não tem fim”, revela.

Certas músicas são tão a cara de Orion que Mirna se emociona na hora em que o primeiro acorde sai do violão. “Naquela mesa”, de Nelson Gonçalves, é uma dessas que tanto a emocionam.

Fala que a casa sem ele nunca mais foi a mesma. Suas histórias, conselhos e bondade fazem falta, são lacunas que ninguém preencherá. Mirna é uma mulher de personalidade, traz em sua história, apesar de tantos percalços que encontrou em sua vida, a garra, o sorriso no rosto e, principalmente, o formidável passado, que não volta.

Todavia, também está longe de ser esquecido, pois forma quem ela é. Na parede da memória, tudo o que Mirna viveu permanece gravado.

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