Narciso Júnior: uma voz que clama por igualdade e respeito

Jefersonfalcao
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readOct 28, 2020

O atual coordenador Especial de Políticas Públicas para LGBT do Governo do Estado do Ceará luta por um país mais justo desde sua infância

Por Jeferson Falcão

Narciso Júnior na Parada pela Diversidade Sexual de Fortaleza / Arquivo pessoal

Nascido em 12 de março de 1984, Francisco Narciso Silva de Oliveira Júnior já teve que enfrentar a separação de seus pais com poucos anos de vida.

Por volta de seus 5 anos, o filho de Maria Inês e Francisco Narciso sofreu mais uma perda: sua mãe precisou sair de sua cidade natal, Maracanaú, sem levá-lo com ela, por conta de uma vaga de emprego em Brasília. Já seu pai estabeleceu novos laços conjugais e se manteve no Ceará. Narciso permaneceu, então, sob os cuidados da avó.

Enquanto morava com a avó, recebeu a notícia de que sua mãe viria lhe buscar para levá-lo para morar com ela no Distrito Federal. Animado, arrumou sua mala e partiu para essa nova fase em sua vida.

Com 9 anos, durante uma aula, ele avistou o rosto de sua mãe aos prantos na porta da sala. Seu pai acabara de ser assassinado brutalmente a facadas em Maracanaú. Rapidamente voltaram para participar do velório e decidiram voltar a morar na cidade novamente.

Na escola, Narciso passou a enfrentar os desafios de ser LGBT em nosso país. “Pei, pei, pei, matei um gay!”, ouviu, certa vez, de colegas da escola sobre sua orientação sexual e seus trejeitos aflorados. Isso fazia com que ele ficasse altamente constrangido, mas permanecia de cabeça erguida.

Após sofrer bastante com essa violência psicológica, decidiu durante a sua adolescência ser a voz para as pessoas que também passavam por essa situação. Ao participar do jornal da escola, ganhou conhecimento para a produção de pautas de conscientização sobre assunto e, com isso, adquiriu um grande engajamento.

Participou de uma ONG sobre comunicação e cultura e lá recebeu formação sobre seus direitos e formas de prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). A partir disso, ele rompeu as barreiras em busca de mais ONGs que oferecessem essa formação tanto para ele, quanto para seus amigos LGBTs.

Nessa busca, encontrou o Grupo de Resistência Asa Branca (GRAB), que iniciava, naquele momento, o projeto Somos, responsável por formar militantes LGBTs. Após formado, fundou o GAP Grupo de Amor e Prevenção Pela Vida. A iniciativa buscava conscientizar a população por meio de cartilhas, oficinas e distribuição de preservativos.

À frente desse projeto e buscando fazer algo que mobilizasse seu município para a causa, em 2005, ele criou, com o apoio de mulheres influentes da sociedade, a 1ª Parada pela Diversidade Sexual de Maracanaú, que reuniu mais de 5 mil pessoas em sua primeira edição.

Logo após, recebeu o convite para coordenar as políticas públicas LGBTs do município, levando seu conhecimento para escolas e empresas e compartilhando seus anos de estudo com os maracanauenses.

Em abril de 2015, recebeu o convite do governador Camilo Santana para compor uma coordenadoria ligada diretamente ao seu gabinete, passando a atuar com as mesmas causas municipais, mas agora em nível estadual.

“O Narciso Júnior hoje coordenador Especial de Políticas Públicas para LGBT do Governo do Estado do Ceará diria para o Narciso Junior criança que valeu a pena cada lágrima, cada noite mal dormida, cada risada dada pelas pessoas como ironia pelo trabalho feito lá no início, feito para a luta, para a compreensão das diferenças. Valeu a pena não desistir quando alguns faziam daquilo uma chacota”, avalia.

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