Nunca é tarde para aprender algo novo

Adriele Ribeiro
EntreFios - tecendo narrativas
5 min readMay 20, 2021

De Fortaleza para o mundo, Gabriela Martins Peixoto, mais conhecida como @ilustragabs, encontrou nas suas ilustrações a sua realização pessoal e profissional

Por Adriele Ribeiro

Gabriela Martins Peixoto é ilustradora / Reprodução - Instagram

Em uma chamada de vídeo, apresentava-se na tela do celular uma figura conhecida por seu trabalho na internet com a arte, mas ainda tendo sua trajetória de vida como uma incógnita. As diversas ilustrações no cenário já acusavam quem eu estava prestes a entrevistar. Tratava-se de Gabriela Martins Peixoto, de 28 anos.

Com seus óculos redondos, seu cabelo colorido e sua boa vontade de contar um pouco da sua história, Gabriela afirma que hoje não vive sem o desenho, que passou a ser um elemento central na sua vida, tanto pessoal quanto profissional. Confessou outras paixões como cozinhar, assistir a uma boa série ou filme, músicas nostálgicas que acompanham Gabriela por muito tempo e sem esquecer das pessoas que fazem parte da sua vida. Quando questionada sobre o que não suporta, ela afirma ser aqueles que não respeitam seu momento consigo mesma e também o atual presidente brasileiro.

Nascida e criada na capital cearense, Gabriela teve uma longa jornada até chegar à sua profissão atual como ilustradora. Já passou pelas faculdades de Engenharia de Alimentos, de Moda e acabou se formando em Marketing. Nunca passou pela sua cabeça trabalhar com o que faz hoje, mesmo na infância, em que somos mais próximos da arte.

Ela conta que, feito qualquer outra criança, começou a ter contato com desenho nessa fase, já que é uma das primeiras formas de a criança se expressar. Porém, chegou um momento em que as aulas de artes saíram de cena e foram substituídas por aquelas que são estabelecidas pela sociedade como as mais necessárias para as pessoas. Essa falta de incentivo afastou a arte da vida da Gabriela, que cresceu vendo e admirando amigos próximos que continuavam desenhando, mas era porque, segundo ela, eles tinham um dom que ela não possuía. Então pensava: “Quem sabe na próxima vida eu venha sabendo”, lembra a artista sobre seu antigo pensamento.

Sem acreditar muito em astrologia, mas indo de acordo com alguns conhecimentos sobre o assunto, Gabriela culpa seu signo de peixes pelo seu amor pela criatividade. Sempre deu um jeito de criar de alguma forma, seja manuseando uma massa de biscuit ou fazendo seus próprios acessórios. Foi então, que em uma fase ruim da sua vida, ela decidiu recolocar o desenho na sua trajetória novamente como um hobby. Fez um curso, que conta ter sido o responsável por abrir sua cabeça nos estudos de ilustração e que desde lá não parou mais. Ela afirma que nunca devemos parar de estudar, pois seria uma forma de parar de evoluir.

Enquanto se afastava da antiga profissão, Gabriela se aproximava cada vez mais do mundo da arte. Aprendeu a desenhar com seus 24 anos como um hobby. Começou pela arte tradicional no primeiro curso, mas depois foi migrando para a arte digital, já que ela se identifica muito mais e vê nessa técnica um arsenal de possibilidades, por sua facilidade e agilidade. Para ela, a arte digital é mais acessível e até ajudou no seu processo de aprendizagem, pois não tinha tanto medo de errar no digital quanto tinha de um papel em branco.

Para participar de um desafio de lettering e para ter um espaço em que pudesse acompanhar sua evolução no desenho, a garota criou um perfil no Instagram. Foi então que a Gabriela se tornou também @ilustragabs, sem pretensões e sem imaginar o que vinha pela frente. Já de início, ela conta que foi uma ótima experiência criar esse perfil, pois teve mais contato com o mundo da arte e também conheceu diversas outras ilustradoras que ela tanto admira e que se fazem presentes na sua vida até hoje como grande influências e como verdadeiras amigas.

Ilustração feita por @ilustragabs / Reprodução - Instagram

Gabs, assim conhecida pelos seus aproximados 425 mil seguidores na rede social, afirma que suas ilustrações representam fases da sua vida e que é uma forma de dar conselhos aos outros, mas também para si mesma. Também gosta de ilustrar algo mais engraçado ou que seja do seu cotidiano, principalmente no período de pandemia, em que ela está sempre em casa. Seus conteúdos são muito lembrados por passar mensagens otimistas. Porém, ela afirma que não quer passar uma positividade tóxica nos seus desenhos, por isso tem diminuído esses conteúdos, por não estar tão bem assim com o contexto da pandemia. Ela diz que é muito importante se manter alinhada com o que está sentido em suas ilustrações e que, por enquanto, está difícil ser otimista no Brasil. Sobre a repercussão no mundo do seu conteúdo, ela conta o quanto a internet proporciona experiências inesperadas e que tenta naturalizar os compartilhamentos de figuras públicas , lembrando que é sobre o seu trabalho e não sobre ela, o que não deixa de ser incrível, afirma a artista.

Ilustração de Gabriela Peixoto / Reprodução - Instagram

A ilustradora cearense lembra que, quando nosso passatempo se torna nossa profissão, é preciso encontrar um novo hobby. Porém, ela admite que o desenho ainda é um refúgio para ela e que consegue separar quando está desenhando sob demanda e quando é para ela mesma. Gosta de ilustrar, criar personagens e é feliz por ter a autonomia que conseguiu conquistar.

Gabriela criou um curso de arte digital que acredita ser um espaço de acolhimento para compartilhar conhecimento, trocar experiências e apresentar o mundo de possibilidades da arte, sem prender os seus alunos na sua própria história, já que acredita que cada um tem sua própria trajetória. “Eu não sou parâmetro para se levar como regra, eu sou exceção”. A ideia principal que deseja repassar é que, feito ela, é possível aprender a desenhar em qualquer idade ou independente de qualquer limite que você coloque no seu próprio caminho.

Quando perguntei o que a arte significa para Gabriela, ela afirma que quase tudo. Foi através da arte que ela conseguiu se realizar profissionalmente, pois, de acordo com ela, ninguém é feliz tendo boleto atrasado para pagar. Mas, acima de tudo, a realização pessoal por conta da arte é muito mais proveitosa.

Hoje ela sabe que criou uma barreira lá atrás que não precisava existir e que, quando a retirou do caminho, pode ver um mundo de possibilidades. Só de ter criado a mentalidade de que é capaz de aprender algo, independentemente da sua idade, “seja um instrumento ou andar pela primeira vez de long aos 28 anos”, já considera uma grande realização. Não se limitar por ser uma adulta. “Será que eu consigo aprender? Será que dá tempo ainda? Hoje eu sei que dá”, finaliza a ilustradora.

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