O alinhave de cinco pontos

Yasmin Louise
EntreFios - tecendo narrativas
4 min readDec 2, 2023

Na condição de habilidosa costureira da vida, Edianne Rodrigues dedica-se a tecer um futuro estável para os filhos

Por Yasmin Louise

Edianne Rodrigues é dona da Nanne Criações / Acervo pessoal

Edianne Christine Rodrigues Moura nasceu em 1986, no Conjunto Beira Rio, em Fortaleza. Seu nome é a fusão dos de sua mãe, Ana, e seu pai, Edmilson, que se fez presente apenas nos registros. Desde o tempo de escola, assina como “Nanne” — uma alcunha que ressoa em casa, nas ruas e até mesmo no ambiente de trabalho. É reconhecida por todos como a “Nanne dos cinco filhos”.

Passou a infância entre idas e vindas ao interior da matriarca da família, sua avó Maria. Lá, Edianne e seus primos faziam tudo que uma criança fazia: andar a pé na areia, brincar de correr, subir em árvores. A cidade de São Gonçalo do Amarante foi pano de fundo para muitos anos cheios de regionalidades culinárias e artesanato. A presença marcante da arte na família se revelava na avó costureira, habilidade logo repassada adiante.

Aos oito anos de idade, com agulhas e linhas coloridas, ela descobria o encanto de criar algo com suas próprias mãos. No entrelaçar dos fios, não nasciam apenas roupas de bonecas, mas também laços indestrutíveis entre ela e sua avó.

Edianne Rodrigues e sua avó, Maria de Almeida / Acervo Pessoal

Em algum momento incerto, Edianne foi presenteada por seu tio com uma máquina de costura para crianças, logo deixada de lado por ser muito “bestinha”. O brinquedo não dava conta das criações idealizadas na cabeça da pequena Nanne e a brincadeira se fazia muito mais interessante em cima das máquinas industriais.

A adolescência trouxe mudanças marcantes, desde amizades duradouras no antigo Colégio Irmã Maria Montenegro, até a transição para o Ari de Sá em busca da aprovação em Medicina. A pressão da primeira aplicação do Enem e as complicações financeiras desafiaram seu percurso. O que antes era uma vida de conforto virou uma rotina de angústia. Em busca de uma solução, conquistou bolsa integral em duas escolas: o antigo Evolutivo e o Lourenço Filho. Dedicou-se a ambas, organizando seu tempo entre os dois turnos de aulas.

Nesse momento, ela descobre sua gravidez e perde a segunda fase do vestibular.

A gestação precoce interrompeu os planos acadêmicos, marcando sua entrada abrupta na vida adulta aos 18 anos. Um ano e oito meses depois, nasce Davi, o segundo filho. A falta de apoio do genitor complicou a maternidade, levando-a a morar com os avós paternos das crianças.

Em 2 de novembro de 2006, a avó Maria veio a falecer. Edianne se despede de uma das suas figuras maternas, aquela que a criou, transmitiu valores e foi seu alicerce em tempos difíceis. A partir desse dia, passou a contemplar a maternidade com outro olhar. As visitas ao interior se tornaram um capítulo encerrado, dando espaço para a construção de uma nova vida.

Edianne oficializa os laços com seu novo companheiro, Diego, embarcando na busca por um lar, mais do que uma simples residência onde responsabilidades são compartilhadas. Dessa união, surgem mais três filhos: Cauã, Lucas e uma menina. As gestações foram experiências contrastantes, desde a expectativa da primeira até os desafios da depressão pós-parto na segunda, culminando nas escassas lembranças em flashes da terceira.

A mais inesperada veio quando Edianne já tinha um DIU implantado. Mesmo assim, a caçula insistiu em nascer. Nanne, pela primeira vez, escolheu o nome de um filho seu, uma tarefa antes terceirizada a outros familiares. A menina se chama Maria, em homenagem àquela que se foi antes de conhecê-la.

A vocação para o artesanato sempre marcou os aniversários das crianças, desde os convites até as lembrancinhas de biscuit feitas à mão.

Enquanto trabalhava em lojas de departamento, ela dedicava suas horas vagas a confeccionar enxovais para casamentos, evoluindo para mimos de festas infantis. Nanne diversificou, abrindo um Espaço Herbalife ao mesmo tempo em que vendia blusas estampadas e chinelas decoradas na feira do Lago Jacarey.

Essa alternativa para um “dinheirinho a mais” foi evoluindo. Do autônomo, para associações. Da feirinha para quiosques em shoppings. De uma prensa térmica no quintal dos pais do Diego para um ateliê próprio com uma equipe de 10 artesãs. Edianne agora trabalha com aquilo que sempre se fez presente em sua vida: a maternidade e a materialização de ideias.

Atualmente, Edianne enfrenta a adolescência dos filhos, consolidando uma vida familiar estável e superando os desafios que marcaram sua trajetória. O artesanato, que começou como uma brincadeira, se tornou uma parte essencial de sua história. Com o sustento de sua empresa, ela é capaz de construir para os filhos a vida confortável que ela perdeu na adolescência.

Edianne reflete.

“A Yasmin está com a idade de quando tudo começou, né? 18, 19 anos”

Diferente da mãe, a primogênita conseguiu prestar vestibular e está finalizando seu primeiro ano na faculdade. Edianne sempre pediu para os filhos agarrarem os estudos com toda a força que pudessem. Assim como um alfinete que segura o tecido para que a costura não saia do alinhamento, ela se dedica para que os cinco vivam todas as etapas da vida com tranquilidade e amor.

Edianne Rodrigues e família / Acervo pessoal

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