Sem manual para a maternidade

David Freire Andrade
EntreFios - tecendo narrativas
2 min readFeb 11, 2022

Gracemia Vasconcelos Picanço não sente os efeitos do tempo. Ao longo de seus 47 anos de vida, ela sempre viveu intensamente e teve que aprender na prática o significado da maternidade

Por David Andrade

Da esquerda para direita: Arthur, Gracemia, Paulo e Victor / Arquivo pessoal

A primeira dos três filhos de dona Graça e seu Zé Maria, Gracemia nasceu em Fortaleza, em 1974. Uma estudante dedicada que, logo que atingiu a maioridade, foi aprovada no vestibular de Odontologia na Universidade Federal do Ceará (UFC), formando-se na turma de 1998.2.

Durante o curso, conheceu quem viria a ser seu companheiro até os dias de hoje, Paulo Picanço. Em 1999, casaram-se e, sete meses depois, veio a descoberta da gestação. Após 35 semanas de uma gravidez normal, descobriu-se que estava desenvolvendo uma pré-eclâmpsia. O bebê precisava nascer. Então, no alvorecer de 2001, nasceu Victor.

Victor teve uma infância como a de qualquer outra criança, mas, conforme ele crescia, ia-se notando que o rapaz tinha algo de “diferente”. Pouco tempo depois veio o diagnóstico: síndrome de Asperger. Para Gracemia, aquilo não foi o início de um problema, mas uma explicação para as muitas características do filho.

Anos depois, em 2007, atendendo a um pedido do filho, que queria ter um irmão, nasceu Arthur. Fora mais uma gravidez tranquila, mas o maior medo de Gracemia eram as comparações que fariam entre Victor e Arthur. Anos mais tarde, o filho caçula recebeu o mesmo diagnóstico do filho mais velho.

Ao contrário do que o senso comum acredita e prega firmemente, a condição dos dois rapazes não os impede de fazer absolutamente nada. Ambos os filhos estudam, têm amigos, vivem como rapazes cada um de sua faixa etária.

Para Gracemia, o fato de ser mãe de dois rapazes portadores de Transtorno do Espectro Autista (TEA) tornou a maternidade, não mais difícil, mas ainda mais rica e ainda mais grandiosa.

“A maternidade é a antítese perfeita: tem simplicidade e complexidade nas mesmas proporções. Não existe nenhum manual de instruções para a maternidade, temos que aprender tudo na prática. Não é como uma faculdade, em que você aprende a teoria e depois parte para a prática. Eu tenho comigo dois vastos universos, cada um com suas particularidades, cada um do seu jeitinho”.

Ao refletir sobre toda a sua vida, Gracemia percebe o quanto é ligada à sua família. Em meio à pandemia de Covid-19 e ao risco iminente de uma fatalidade, os laços familiares se estreitaram ainda mais. Se antes os pequenos momentos familiares eram preteridos em prol do trabalho, hoje eles recebem o devido valor. E os pequenos momentos, as pequenas emoções, tornam-se grandes.

“Se eu posso pedir algo a Deus, é que eles guardem na lembrança todos os nossos momentos de família. Esse é o maior tesouro que podemos deixar para os nossos filhos”.

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