O poder de transformar vidas

Giovanafeitosa
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readAug 10, 2022

A professora Marilene Feitosa fala com muito orgulho e emoção de sua trajetória até se encontrar na educação

Por Giovana Feitosa

Marilene na escola em que trabalha como diretora há 12 anos, na cidade de Iguatu / Arquivo Pessoal

Sentada no sofá da sala de sua irmã, em Fortaleza, a mais de 360 km de Iguatu, onde nasceu e até hoje mora, a professora Marilene Feitosa responde às minhas perguntas com um sorriso no rosto.

Quando jovem, em sua cidade natal, Marilene tinha um sonho de trabalhar na área da saúde. Seu pai acreditava que lugar de mulher não era na escola, mas isso não a impediu de persisitir nos estudos. Começou a estudar a 6 km de distância da sua casa. Ia a pé até o colégio e, às vezes, quem sabe, conseguia garantir uma carona de carroça na volta.

Não se contentou em concluir a quinta série, em 1970, queria seguir estudando, mas na cidade não tinha escola pública da sexta à oitava série. Em uma família na qual o pai era pedreiro e sem posses, Marilene se viu um ano sem estudar, até ser inaugurada, em 1972, a Escola Municipal de Iguatu.

Ao chegar ao ensino médio, estudava à noite, pois no turno da manhã trabalhava. A essa altura da vida, já havia deixado de lado o sonho de seguir a área da saúde. Em meio a tantas dificuldades para concluir a escola, seria ainda mais difícil cursar um ensino superior.

Quatro anos depois de concluir o ensino médio, aos 26 anos de idade, veio para Fortaleza realizar o sonho da irmã de trazê-la para a capital. Marilene não gostava da cidade grande, mas ainda sonhava em cursar uma faculdade e talvez fosse mais fácil realizar seu desejo na capital do estado. Infelizmente, deparou-se com o alto custo de vida e percebeu que o sonho era “irreal”. Após três anos na capital, resolveu voltar para o lugar do qual nunca quis sair.

Pouco tempo depois de voltar para o interior, Marilene se casou. Teve dois filhos: Renan, em 1986; e Tamyres, em 1989. Após quase 10 anos longe dos estudos, resolveu voltar a estudar, em busca de melhores condições de vida, visando a uma melhor educação para os filhos.

Foi então que surgiu o interesse pela educação, por meio do desejo de ensinar os filhos. Começou um curso técnico pedagógico no período da noite e, durante o dia, trabalhava. Mesmo com a resistência do marido, que não enxergava com bons olhos mulheres que estudavam à noite, concluiu seu curso pedagógico.

Em 1997, foi aberto um concurso para professores em Iguatu. Ela sorri ao falar que fez a prova por fazer, pois não estava confiante de que iria passar. Em um sábado à tarde, uma conhecida, ao passar por ela, contou a boa nova: o nome de Marilene estava na lista de aprovados. Em 1998, ela assumiu o cargo de professora alfabetizadora, função essa que a emociona ao falar da importância.

Incansável, Marilene queria mais. Começou a estudar para o vestibular, alcançou êxito e iniciou sua graduação em pedagogia. Formou-se em 2005, aos 48 anos. Seu marido não compareceu à formatura, mas lá estavam seus filhos e sua irmã com as duas filhas. Uma dessas sobrinhas, a caçula, um dia entrevistaria sua tia.

Almejando sempre voos maiores, ela se tornou coordenadora pedagógica e, anos depois, também sem muitas expectativas, fez o concurso para se tornar diretora. Surpreendeu-se novamente ao passar, tornando-se diretora da escola onde descobriu sua paixão profissional.

Após doze anos como diretora, na mesma escola onde começou a lecionar, ela se emociona ao falar da sua profissão. “Percebi que estava o tempo inteiro no lugar errado. Eu me encontrei na educação”. Marilene se orgulha de incentivar os familiares a estudar, pois, para ela, “é o único poder abaixo de Deus que pode transformar vidas”.

Agora cada vez mais perto de sua aposentadoria, Marilene continua ensinando. Desta vez, para seu neto amado, orientando-lhe a seguir os caminhos pelos trilhos da educação.

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