O reflexo da nova década em uma narrativa de excessos

[RESENHA] O que muda e o que permanece no reboot de Gossip Girl

Por Camila Fontenele Garcia

Versão de Gossip Girl produzida pela HBO aposta na inclusão social / Reprodução/HBO

Desde que a série original de Gossip Girl terminou sua exibição original pelo canal de televisão por assinatura americano The CW, existia uma lacuna entre as séries, no formato de uma produção que representasse os estereótipos da elite americana e todos os seus respectivos excessos em quatro adolescentes, com cartões de crédito sem limites e muita sede de vingança em mãos.

Em 2020, o canal fechado HBO anunciou que, no ano seguinte, seria lançada uma nova versão da série, com uma visão renovada sobre a juventude nova-iorquina. É nítido como os dez anos transcorridos entre o fim da primeira edição e o lançamento da segunda transparecem na sociedade retratada pela série.

A mais clara disparidade é a inclusão social presente na produção da HBO. A protagonista, Julien Calloway, assim como a heroína Zoya Lott e a anti-heroína Monet DeHaan são mulheres negras. Os relacionamentos afetivos são diversos, com uma tensão sexual disseminada entre todos os personagens, independentemente de sexo ou gênero — ou relacionamentos prévios.

O único tema que permanece o mesmo entre as duas versões é o esnobismo. Os estudantes do colégio particular Constance Billard-St. Jude’s — junção de duas escolas de educação singular localizadas no Upper East Side, a área mais rica de Nova York — continuam a exibir as quantidades insanas de dinheiro às quais têm acesso.

Mesmo que a falácia meritocrática do “dinheiro conquistado” não seja cabível em qualquer cenário de riquezas extremas, na série Gossip Girl — tanto na original, como no reboot — a superexposição de adolescentes a um mundo intensamente materialista, que os permite basear suas personalidades no poder aquisitivo que herdaram dos pais, cria uma imagem idealizada de abundâncias e excessos.

Gossip Girl é o tipo de série que se assiste com amigos ou sozinho, em momentos de descontração, na procura de entretenimento fácil. Ambas as versões não possuem o mesmo teor de seriedade no roteiro que os outros megassucessos da HBO, como “Game of Thrones” e “The Sopranos”. Isso não quer dizer que as imagens retratadas pelas interações sociais entre ricos e pobres, negros e brancos, cis-héteros e LGBTs não sejam fiéis às mudanças que testemunhamos na vida real.

A repaginada que a HBO dá em Gossip Girl é interessante especialmente para quem ainda está na faixa dos 18 aos 29 anos, que viu a série original sem se identificar com as poucas partes do roteiro que tinham a intenção de serem relevantes a um público global. No geral, as atuações dos professores são superficiais e, as das protagonistas, convincentes.

O cenário ficou mais luxuoso e exclusivo, e os estereótipos menos definidos. Funciona bem como um revisiting do gênero, e não só uma cópia ou continuação.

A temporada terá oito episódios, três dos quais já foram lançados, e uma segunda temporada já foi confirmada.

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camila fontenele garcia
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