Paternidade além dos laços sanguíneos

Olivia Rodrigues
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readAug 10, 2022

O psicólogo e escritor Diego Farias Costa aprendeu no decorrer de sua vida que relações não precisam ser de sangue para serem fortes e construtivas e agregou essa ideia ao seu conceito de paternidade

Por Olivia Rodrigues

Homem negro, com barba grisalha, cabelos cacheados, olhos castanhos e usando uma camisa salmão.
Diego Farias Costa / Acervo Pessoal

Diego Farias Costa nasceu e cresceu no estado do Rio de Janeiro, onde teve uma infância descrita por ele como boa. Ia para a escola, brincava de bola, jogava fliperama e possuía muitos primos para brincar no seu cotidiano. E foi nesse período que Diego começou a criar um ideal de que as relações não precisavam ser consanguíneas para se tornarem verdadeiras e construtivas.

Quem começou a ensiná-lo sobre isso foi o próprio pai. Apesar de ausente devido ao emprego, ele deixou ao filho mais velho um ensinamento fundamental ao seu modo de viver: o de que família é muito além de coincidência genética.

“Meu pai por onde passava era adotado pelas pessoas. Então, para o meu pai, se você cresce com ele por mais de 5 anos e você tem bom relacionamento, você é automaticamente promovido a parente. Ele saía comigo na rua e falava: ‘Diego, essa aqui é sua avó, essa aqui é sua tia, essa aqui é sua prima’. Na época, para mexer com ele, eu ainda perguntava: ‘É de sangue ou de consideração?’. E ele ficava muito ‘pau da vida’ com isso”.

Momentos assim com o pai influenciaram Diego para algo que viria anos depois: a vontade de adotar crianças. A ideia da paternidade, por sua vez, sempre existiu. Até os 16 anos, Diego quase não tinha planos para o futuro. Contudo, ter filhos era um sonho que sempre esteve presente em sua vida. Um dos motivos foi o seu desejo de ter irmãos homens na infância não ter se concretizado. Assim, ele tomou a decisão de um dia se tornar pai de meninos.

Após ter se formado em psicologia, ter conhecido diversas pessoas por conta da igreja e da escrita, ter criado relações fraternas e até mesmo paternas com diversas pessoas do seu convívio, Diego resolveu passar pelo processo da adoção, tornando-se habilitado para adotar em 2019.

“Não dava para passar por essa Terra sem passar pela paternidade. Eu até poderia passar pela paternidade e odiar porque muita coisa nossa é idealização”.

Diego relata que todo o processo de adoção foi lento, por causa da pandemia e das dificuldades do estado do Rio de Janeiro com a adoção. Conheceu Kaio (14) e Pierre (12), dois irmãos que já estavam há anos em busca de uma família, e, no final de 2021, a Justiça permitiu que os três pudessem morar juntos. Assim, Diego realizou o maior sonho de sua vida e descobriu o maior desafio da paternidade: não saber o futuro de seus filhos.

Atualmente, Diego segue sua vida construindo diversos tipos de relações importantes não consanguíneas: desde uma duradoura amizade com uma estudante de jornalismo no Ceará, um professor de Química no Paraná e um tecnólogo em alimentos que vive em São Paulo; até relações paternas como a que tem com seus filhos adotivos e outras pessoas de seu ciclo social.

Ao ser questionado se adotaria mais crianças, ele não hesita em responder que sim.

“A paternidade é uma coisa que exala, é esquisito como que isso ressoa no universo (…) Mas eu amo ser pai, eu quero ser pai, não quero parar nos dois”.

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