Privatização dos Correios: serviço melhor pra quem?
OPINIÃO
Por Mariana Bueno
A notícia de que os Correios seriam 100% privatizados se tornou motivo de discussão nas redes sociais. O Ministério da Economia anunciou esta semana que pretende aprovar na Câmara dos Deputados um modelo de leilão único que concederá ao comprador dos Correios 100% do capital da empresa. A informação foi dada ao jornal O Globo pelo secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord.
Embora esta ação do governo estivesse sendo discutida há algum tempo, essa foi a primeira vez que anunciaram que os Correios seriam 100% privatizados, e há algum pânico nisso. Claro, ficam os questionamentos: existe algum ponto positivo nisso? Os apoiadores dessa ação têm quais argumentos além do descuido nas entregas dos Correios?
Para os defensores da privatização do serviço postal, os argumentos são o descuido com as encomendas e a demora nas entregas; entretanto, o problema dos Correios não é a instituição, mas sim a desvalorização que o serviço sofre no Brasil. Em um país de corrupção, é mais benéfico privatizar para alguém ou alguma empresa levar a melhor com isso do que ajustar e dar um serviço digno ao povo.
Menos de uma semana antes do anúncio oficial do leilão dos Correios no Brasil, a Argentina decretou a falência da empresa privada que, por 20 anos, administrou os serviços postais do país. O governo brasileiro acha que consegue manter essa decisão de pé? Eles precisam se atentar para que isso não ocorra aqui. E, diante do cenário caótico que vivemos, essa realidade não está tão distante assim.
Entre os motivos para a insatisfação de parte dos brasileiros com a venda dos Correios está a inacessibilidade para diversas regiões do país, especialmente zonas de periferia e cidades menores, fazendo com que pessoas que dependem do serviço para obterem renda percam esse meio, pois elas não teriam condições de depender dos serviços privados. Ora, uma encomenda que custa R$ 43,00 nos Correios é até 12 vezes mais cara em empresas privadas, a exemplo da DHL e do Fedex.
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) poderá se tornar um exame para a elite, já que, há 12 anos, quem faz a distribuição das provas para todos os cantos do Brasil são os Correios; materiais didáticos poderão não chegar às escolas — no ciclo 2020/2021, os Correios distribuíram 197 milhões de livros didáticos em todos os 5.570 municípios do país por meio de uma megaoperação. Esse são apenas alguns dos motivos pelos quais a privatização dos Correios seria algo prejudicial à economia do país e à sociedade.
Seria muito mais fácil fazer uma reforma nos serviços públicos das agências para que o serviço seja melhor ofertado. Os pontos positivos do serviço se sobrepõem quase que 100% aos negativos. Infelizmente, parte dos brasileiros pensa apenas no próprio bolso, enquanto os demais sofrem as consequências.
