Protagonismo feminino no futebol da UFC

Assis Junior
EntreFios - tecendo narrativas
5 min readDec 21, 2022

O time de futebol feminino da UFC é referência nacional na categoria FUT7 e foi campeão brasileiro em 2021

Por Raquel Aquino

Goleira Regina, do time de futebol feminino da UFC / Arquivo Pessoal/Wildner Lins

O time de futebol feminino da Universidade Federal do Ceará (UFC) vem sendo destaque na categoria universitária. O grupo foi campeão nacional em 2021, e a visibilidade das meninas também fomenta discussões sobre equidade de gênero no esporte.

Até o ano de 1995, a prática de exercícios físicos era obrigatória no ensino superior do Brasil. A partir de 1996, com a não obrigatoriedade, houve uma desmobilização do esporte entre os universitários. Nessa época, havia associações organizadas pelos próprios alunos, mas não uma política institucional esportiva.

O coordenador do desporto universitário e técnico de futebol feminino da UFC, Wildner Lins, conta que até 2008 não havia documentos ou resoluções do MEC orientando como seria e quais os objetivos da prática esportiva na universidade.

No cenário nacional, a partir de 2006, houve um incremento nos jogos universitários brasileiros, iniciando um novo período de incentivo à prática pelas instituições de ensino superior. As entidades ligadas ao desporto universitário acordaram que as competições nacionais seriam disputadas com o representante de cada estado, escolhido por meio dos campeonatos universitários locais.

Com a criação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), implementado pelo governo federal em 2008, as universidades passaram a receber mais investimentos para estimular e viabilizar as práticas desportivas entre os acadêmicos.

Foi com o Reuni, por exemplo, que a Quadra do Centro Esportivo Universitário, a mítica Quadra do CEU, importante equipamento esportivo localizado no Centro de Humanidades II, no Bairro do Benfica, pode ser reformada em 2013.

Nesse mesmo plano de expansão, a UFC se destacou como a primeira universidade pública brasileira a oferecer bolsa de incentivo ao desporto. Com o tempo, o número de bolsas foi aumentando e, em 2013, eram pelo menos 100 bolsas atribuídas pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) aos educandos.

Futebol feminino na UFC

Institucionalmente, só foi em 2010 que o futebol feminino surgiu na UFC. Antes, o que existiam eram trabalhos voluntários não organizados.

O time de futebol feminino da UFC tem destaque nacional na categoria FUT7 / Arquivo Pessoal/Wildner Lins)

Wildner Lins fala sobre o desporto da UFC

Wildner Lins, técnico desportivo desde 2008 e coordenador do desporto universitário da UFC. Atualmente é técnico de futebol feminino. Formado em 2006 pelo curso de Educação Física na UFC.

Destaque em Competições

Durante o ano de 2022, os times de futebol feminino da UFC participaram paralelamente do Campeonato Cearense de Fut7 adulto, do Campeonato Cearense de Futsal adulto, do Campeonato Cearense de Futebol de Salão e do Campeonato Brasileiro de Fut7.

No ano passado, a equipe foi campeã na disputa nacional e atualmente está na semifinal na mesma categoria.

Meninas do futebol universitário do Ceará em campo / Arquivo Pessoal/Wildner Lins)

Clarice Gois, de 21 anos, está no time desde 2020 e falou sobre a desigualdade entre as categorias faminino e masculino no futebol nacional: “A desigualdade é gigante, o abismo é gigante. Poxa… o esporte no Brasil já é bastante complicado né? É um tiro no escuro. No futebol feminino, você não tem respeito, você não tem a oportunidade, você quase não tem time, é uma coisa assim bastante triste, sabe?”.

Em relação ao apoio da Universidade Federal do Ceará para o time, ela afirma que a bolsa esportiva ajuda muito, mas é insuficiente.

“Falando do time, eu acho que seria muito legal se a gente tivesse de alguma forma algum apoio psicológico, eu não sei se é utópico, mas, de alguma forma, de ter alguém da psicologia esportiva dando esse suporte pra gente, sabe? Ou então um nutricionista do próprio time. Acho que isso também seria sensacional pra gente não ter que cada um ir atrás de nutricionistas particulares ter algo mais alinhado com o time mesmo né? Enfim, isso faz muita falta. Bastante falta.”, finaliza.

Paloma Abreu, a mais antiga na equipe, de 28 anos, destaca o apoio financeiro da instituição federal para a equipe. “A pró-reitoria sempre chega junto”, afirma. Em relação ao espaço do futebol feminino no país, a jovem declara que “muita coisa já mudou” e que, apesar da equidade estar longe de ser realidade, as mulheres vem ganhando mais destaque no esporte.

“Não tem muita visibilidade, não tem muito investimento e, por não ter investimento, também não tem muito retorno, né? Às vezes, os caras querem o retorno aos investimentos. Então, eu acho que falta um pouco dessa aposta aí. E a partir desse momento, quando tem capital que traria, começaram os clubes a verem ali que realmente dá pra ganhar dinheiro, dá pra trazer público”, analisa Paloma sobre o mercado de investimento no esporte feminino.

Em relação a profissionalização de jogadoras, Paloma afirma com segurança: “Há uma deficiência muito grande em relação à profissionalização. Muitas das mulheres que jogam em clubes elas não conseguem se manter só com o salário que elas ganham alí, justamente por não haver retorno financeiro. O futebol feminino é visto ainda como um gasto, talvez em alguns clubes não. Então, por conta disso, a gente vê menos oportunidades”.

Paloma Abreu é a jogadora mais antiga no time de futebol feminino da UFC / Reprodução/Redes Sociais

Sobre o futebol feminino no mundo

Wildner Lins fala sobre o cenário do futebol feminino no mundo.

Além do futebol feminino

Wildner Lins fala sobre perfil dos alunos que fazem parte do desporto universitário da UFC

O papel da universidade como lugar de superação dos preconceitos de gênero

Não se discute a grande desigualdade entre os gêneros envolvendo todas as atividades sociais, incluindo aí o ambiente acadêmico e o esporte universitário. Também não se discute o papel da universidade e do esporte universitário na atuação e na criação de ambiente e clima favoráveis à superação dessas desigualdades e das várias formas de preconceito e exclusão. As abordagens, os currículos, os diálogos entre professoras(es) e alunas(os) devem sempre ter como meta a negação de toda forma de machismo e a afirmação e o fortalecimento da atuação das mulheres em todos os espaços da universidade.

Edição: Assis Costa Júnior

--

--