Recomeços

Vitória Vasconcelos
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readApr 29, 2021

Prestes a completar 70 anos, Liduina de Brito Fontenele relembra os rumos que sua vida tomou quando foi mandada para a “cidade grande” pensando em ter uma vida melhor que a de seus pais

Por Vitória Vasconcelos

O olhar sereno de uma mulher resiliente / Arquivo pessoal

Filha única de um casal simples que vivia nas terras de São João da Fronteira, no Piauí, às margens da BR-222 e vivendo do que suas terras lhe forneciam, Liduina de Brito Fontenele se mudou para Tianguá ainda jovem para estudar. Morava na casa de um político influente da cidade e por ele foi muito bem instruída.

Terminou o ensino básico e passou a lecionar em escola pública. Nesse meio tempo, conheceu seu esposo, Manoel, que é um homem apegado aos negócios. Com ele, passou a montar empreendimentos. O primeiro deles, uma padaria, a qual conciliava com os deveres como educadora. Após um tempo, tornou-se comerciante em tempo integral e, em conjunto com a padaria, Liduina passou a vender peças de roupas em um pequeno espaço à parte dentro da própria padaria.

A padaria durou poucos anos, a venda das roupas prevaleceu e fez com que Liduina e seu marido abrissem uma loja de confecções, uma das primeiras da cidade. A Magazine Compre Bem, nome dado para a empresa, passou a ser uma das lojas mais tradicionais de Tianguá.

As roupas da loja marcaram momentos na vida de muitos da cidade: aniversários, festas, viagens; e assim todos que eram clientes da Magazine lamentaram seu fechamento após quase 50 anos de funcionamento. Familiares de Liduina ainda escutam:

“Eu adorava a loja da sua vó, sempre comprava lá. Uma pena que fechou, as coisas que eles vendiam eu só encontrava lá”.

Cuidadosa não apenas com sua loja, Liduina foi capaz de criar cinco filhos e participar da vida dos doze netos. Reuniões aos sábados são tradição com as três filhas que ainda moram na cidade e suas respectivas famílias. Os filhos que moram em outras cidades sempre estão ao alcance de uma ligação e tentam visitá-la o máximo possível.

Festa de Bodas de Ouro de Liduina e Manoel, com a família toda presente / Junior Magalhães

Além de tudo, Liduina ainda acolheu sua mãe, Jovina, em sua casa após a morte de seu pai, Ademar, quando os filhos de Liduina ainda eram crianças, há mais de 40 anos.

Hoje, Liduina cuida de sua mãe, que já tem 96 anos, e de seu marido, de 75, que possuem problemas de saúde e acabam sendo “mimados” por Liduina, a qual acaba sobrecarregada com todas as atividades de casa. Esse foi um dos motivos para o fechamento da Magazine Compre Bem, a que ela e seu marido se dedicaram por tanto tempo. A falta de funcionários, o desgaste de ambos com a rotina do comércio e a chegada de lojas grandes que levaram grande parte da clientela fez com que a loja acabasse, restando apenas lembranças e alguns cabides.

Com expectativas para comemorar seu aniversário de 70 anos em 30 de julho, Liduina é uma mulher guerreira, mãe exemplar, avó carinhosa, filha dedicada e esposa atenciosa. Sempre com fé em dias melhores e gratidão pelas oportunidades que a vida lhe deu, dona Liduina é um exemplo a ser seguido por aqueles que a conhecem e a admiram.

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Vitória Vasconcelos
EntreFios - tecendo narrativas

Perfil dedicado para publicar textos, principalmente da faculdade. Curso Jornalismo na UFC, atualmente no 6º semestre.