Reflexões ansiosas

Arthie Almeida
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readAug 31, 2021

[CRÔNICA] Para uns, o “novo normal” não provocou muitas mudanças; já para outros, a vida parou de uma maneira que não há muito o que ser feito, apenas aceitar

Por Stella Almeida

Reprodução: Freepik

Em alguns momentos do dia, sentada à frente da tela do computador, pego-me pensando como será quando tudo voltar ao “normal”. Entre aspas mesmo, porque sabemos que o normal de antes não existe mais e assim ficará pelo menos por alguns bons anos. De certa forma, é como se já estivéssemos vivendo assim, o novo normal — como gostam tanto de falar.

Eu não parei de estudar e muitos não pararam de trabalhar também, apenas nos adaptamos dentro do possível, isso levando em conta um ponto de vista bastante otimista. Contudo, para outros, a vida parou de uma maneira que não tem muito o que fazer a não ser aceitar para seu próprio bem, por terem a preocupação de outros e o medo constante levados em conta em maiores quantidades.

Minha avó materna — a quem, desde criança, chamo carinhosamente de Bibia — um dia se lamentou, dizendo que pensava que depois de tomar as duas doses da vacina iria poder sair e visitar suas amigas, o que não aconteceu, já que suas filhas ainda têm medo que ela saia, ainda mais com suas perninhas curtas, que se desabituaram a fazer caminhadas longas. Comigo mesma eu ri, tristemente, pois acho que era algo que todos nós imaginávamos, mas as notícias nos jornais somente desestimulam cada vez mais as esperanças de que o fim está próximo — no melhor bom sentido que se possa idealizar.

Tudo bem que para milhares, principalmente aqui no nosso país, a pandemia e os cuidados preventivos nunca nem existiram — hoje vemos os resultados da imprudência e do negacionismo — , porém ainda existe uma parte da população que sonha com o dia em que vai poder aposentar de verdade as máscaras na gaveta da cômoda até que isso tudo não passe de uma vaga lembrança ao ver livros de história. “Tá reclamando do quê, menino? Eu passei pela pandemia da Covid-19!”, assim falarão os anciões do futuro.

O avanço vem a passos de tartaruga conosco, dia após dia, tentando olhar pelo lado positivo da coisa toda, mas ouvir coisas como “Minha avó tá imunizada!”, “Sabe meu tio? Saiu do hospital recuperado”, “Amanhã vou abrir o posto bem cedinho pra vacinar!” dão uma alegria tão grande na gente que só me faz acreditar que cada pequeno sucesso alheio, hoje em dia, virou um sentimento coletivo, como aquele desejo do hexa em época de Copa do Mundo.

Um sentimento que nos traz expectativas para um amanhã um pouco melhor, onde vou poder sair de casa sem medo de me contaminar ao abraçar um amigo que não vejo há muito tempo, ou onde vários avós vão deixar de andar somente dentro dos limitados metros quadrados da própria residência.

E tudo isso eu fico matutando em momentos de dissociação enquanto escrevo textos e mais textos para a faculdade.

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