Repórter do povo

O cearense Luiz Esteves Jr. começou a carreira em televisão como repórter esportivo; é apresentador do telejornal CETV 1° edição, da TV Verdes Mares, além de ser editor e produtor

Por Gabriela Barros

Luiz Esteves é apresentador do CETV 1ª Edição, da TV Verdes Mares / Arquivo pessoal

Nascido em Fortaleza, Luiz Esteves Jr. morou a maior parte da sua vida no município de Maranguape. Era um garoto simples, não teve luxos. Ia e voltava a pé da escola, gostava de brincar em praça pública, jogar carimba na pista com seus amigos, tomar caldo de cana com pastel. Teve uma infância feliz.

Os seus pais sempre o apoiaram e inspiraram o filho a seguir seus sonhos. Apesar da separação do casal ter ocorrido quando Luiz tinha 10 ou 11 anos de idade, ambos mantiveram-se presentes e cumpriram seu papel na criação dele. Junto de seus irmãos, ficou sob a guarda da mãe e foi morar na casa de seus avós maternos.

Desde cedo, demonstrava uma inclinação para a comunicação. No entanto, feito muitos adolescentes, não tinha certeza sobre qual carreira profissional seguir. Foi no final do ensino médio, após um teste vocacional, que ele optou por prestar o vestibular para o curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Ceará (UFC). A vaga em uma instituição de ensino pública era importante, não queria que seu estudo superior fosse custeado por seus parentes.

Contudo, mesmo com empenho, ele não se identificou com o curso, abandonando-o depois do primeiro semestre, sem aproveitar cadeiras. Decidiu que queria mesmo era Jornalismo e começou a se preparar para o vestibular no ano seguinte. Acabou entrando na Universidade de Fortaleza (Unifor). Por ser uma escola superior particular, tornou-se dispendioso. Ainda assim, seu avô começou a pagar sua faculdade.

Durante o quarto ou quinto semestre, ele estagiou na Rádio Universitária da UFC. Teve que ser corajoso e se esforçar bastante, uma vez que não recebia ajuda de custo no começo. O trabalho duro trouxe bons resultados. Sua voz cativou as pessoas e, com um mês, já estava apresentando o Jornal da Educação. Com essa experiência, apaixonou-se pelo rádio, o que o inspirou a persistir e se dedicar mais no curso de Jornalismo.

Na faculdade, uma professora o incentivou a participar de concursos para estagiar na TV Unifor, sendo exitoso em muitos. Desse jeito, migrou da rádio para a TV.

Luiz começou a apresentar o programa Panorama, apesar de desempenhar outras funções nos bastidores. Era o “faz-tudo”. Esse momento durou um ano e meio e foi essencial para o seu futuro profissional. Aprendeu muitas coisas, podendo experimentar diferentes formatos e acompanhar com detalhes a produção e a apresentação das notícias. Foi esse estágio que o levou para a TV Verdes Mares, onde trabalha até hoje.

Lá, iniciou no setor de Esportes, em que fez sua primeira reportagem acompanhando um treino do time de futebol Ferroviário. Entretanto, não pretendia seguir nessa área. Não sabe, nem se interessa muito por esportes, apesar de torcer e assistir com regularidade às partidas do seu time de futebol.

Em 2011, surgiu o projeto Caravana, que tinha como objetivo percorrer todas as macrorregiões e seus principais municípios, a fim de mostrar a cultura, a economia e as características dos seus moradores. Ele foi escalado para o projeto como repórter.

O trabalho foi cansativo. As gravações eram feitas no decorrer de toda a semana, de modo a fazer aparições para os três jornais da programação da TV, desde o Bom Dia CE ao Jornal do 10. Segundo afirma, o programa foi um fator decisivo na sua adaptação futura como âncora do CETV. “A rua dá uma bagagem de cidade, de povo, de comportamento humano. Pude levar tudo isso para a apresentação. Aprendi a dialogar, a saber falar e calar, a compartilhar o trabalho e histórias de vida. Tenho sintonia com todas elas”, considera.

No CETV, além de apresentador, é editor, produtor e repórter. Com as mudanças na profissão ao longo dos anos, é preciso que os profissionais desempenhem várias tarefas. Luiz defende que isso, além de ser uma necessidade, fortalece sua confiança ao apresentar as notícias.

Um dos pontos altos da entrevista foi quando abordamos o processo de edição do jornal. Sempre tive muita curiosidade sobre esse aspecto indispensável do cotidiano nas redações. Segundo ele, “os fatos são acolhidos para virar notícia no jornal a partir de critérios como relevância, importância, abrangência e interesse do público disponível no horário. Tudo isso é levado em conta. Tentamos também ter uma linguagem simples e acessível, por causa do público, que é heterogêneo”.

Suas referências centrais no meio comunicacional são Tadeu Schmidt e William Bonner na posição de âncora; e Marcelo Canellas, Sônia Bridi, Marcos Uchoa e Márcio Gomes na reportagem. Nos dias de hoje, Felipe Santana e Pedro Vedova chamam sua atenção. Localmente, há Eliomar de Lima, Nonato Albuquerque e a professora Adísia Sá.

Para o jornalista, o jornalismo é a ponte entre o fato e a população. Acredita no poder de influência da mídia na construção e manutenção de uma sociedade mais democrática. “Um dos pilares de uma sociedade democrática é a imprensa livre. Ela ajuda o cidadão a fiscalizar o poder público, a cobrar ações efetivas para a sociedade. Embora, ultimamente, a imprensa venha sendo achincalhada, menosprezada, alvo de críticas por parte das autoridades e de eleitores que se identificam com uma ala mais ligada à extrema direita no Brasil, a imprensa resiste e mostra sua força. É a imprensa que vem ajudando a população a se manter informada sobre a pandemia e as medidas sanitárias de combate ao vírus”, avalia.

Sempre em busca de desafios que o façam desenvolver profissionalmente, tem planos de atuar fora do jornalismo em algo voltado para o comportamento e a internet. Luiz não se arrepende de nada ao longo de sua carreira, garante que cada etapa foi significativa para o seu amadurecimento.

Seu conselho para os estudantes de comunicação que estão começando a trilhar esse caminho é “ter consciência e resistir”. “Consciência para saber que a carreira exige muito da gente, nem sempre sendo recompensado profissional e financeiramente. E resistir às dificuldades que venham a surgir. É um familiar que pede para você desistir, é uma porta que se fecha, é um chefe que diz que você não tem talento. Acredite em você, nunca deixe de aprender e nunca perca de vista a humildade”, finaliza.

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