A necessária representatividade

Mateus Macêdo
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readJul 29, 2021

[ARTIGO] Lançada em julho no HBO Max, a série “Gossip girl - The bad witch” traz uma série de personagens que se distanciam da tela branca, heterossexual e cisgênera que víamos no original, exibido de 2007 a 2012

Por Mateus Macêdo

Com a popularização das plataformas de streaming, como a Netflix, e da TV a cabo a representatividade ganhou mais espaço nos seriados. (Foto: Unsplash/freestocks)

O primeiro episódio de Gossip girl — The bad witch, reboot da série exibida entre 2007 e 2012, está disponível desde 8 de julho na HBO Max. O reboot, porém, trouxe novidades. As duas protagonistas, Julien (Jordan Alexander) e Zoya (Whitney Peak), são negras. Max, interpretado por Thomas Doherty, é bissexual. Luna (Zion Moreno) é uma mulher trans, e quase tudo se distancia da tela branca, heterossexual e cisgênero que víamos no seriado original.

A representatividade na mídia não é um assunto novo, ele vem sendo debatido há anos e muito já se progrediu em relação ao passado, como podemos ver no caso de Gossip Girl, mas ainda está longe de ser o ideal. As séries possuem um papel de influência na sociedade, principalmente sobre os jovens. Sendo assim, em um mundo em que diversos preconceitos existem e persistem, é preciso trabalhar cada vez mais para que outras vozes sejam disseminadas e respeitadas.

Uma pesquisa encomendada pela Netflix, em 2020, com base nas respostas de mil brasileiros, entre 16 e 25 anos, revelou que sete em cada dez jovens brasileiros procuram por personagens parecidos com eles e seus amigos na hora de decidir a que assistir. Isso indica o quanto os telespectadores da atualidade querem conseguir se identificar com a trama e com os personagens de um seriado. Consequentemente, mostra também a importância de se ter personagens diversos para que um número maior de pessoas consiga se visualizar nessas produções.

No entanto, ainda não é tão fácil conseguir se enxergar em personagens de seriados. Segundo o estudo “Where We Are on TV”, de 2020, dos 773 personagens fixos de séries das redes abertas e fechadas, e de plataformas de streaming, 22% são negros, 9% se identificavam como um membro da comunidade LGBTQIA + e apenas 3% são pessoas com deficiência. O que só mostra o quanto ainda estamos avançando lentamente nesse quesito e o quanto esses personagens continuam sendo minoritários nos seriados.

A representatividade em séries também vai além de apenas se ter um personagem negro, LGBTQIA+ ou com deficiência. Na busca pela representação, há um risco de se esbarrar em estereótipos. Quando isso acontece, a intenção de representar pode se converter em reforço da segregação.

Por mais que haja mais interesse e estejamos caminhando para ter mais personagens diversos, é necessário que eles não sejam apenas um estereótipo. A representatividade tem que ir além da representação. Os personagens não devem ficar relegados somente à temática referente ao grupo que representam.

O desafio é enorme e histórico, mas a busca pela diversidade, não só nos seriados, mas em toda a mídia, parece, nesse momento, um caminho sem volta. A representatividade é constitutiva de cultura, sentido e conhecimento sobre nós mesmos e também sobre as pessoas à nossa volta. Ela vai além de simplesmente refletir a realidade dessas representações, ela cria realidades e normaliza visões de mundo específicas. É, portanto, cada vez mais urgente que se reflita nesse meio à multiplicidade de cores de pele, de gêneros, de orientações sexuais, de pessoas.

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