Um irônico manual de instruções

Catarina Varela
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readJul 29, 2021

[RESENHA]

Por Catarina Varela

Série documental “Como se tornar um tirano”, da Netflix, apresenta, com ironia, um paso a passo sobre como se tornar um ditador / Reprodução/Netflix

Tornar-se um ditador supremo e reinar com um punho de ferro não é fácil, mas durante seis episódios, com cerca de 30 minutos cada, o documentário “Como se tornar um tirano” mostra de forma irônica que, seguindo um “manual de instruções”, qualquer um pode — com garantia — se tornar um tirano.

Lançada em 9 de julho, a série documental da Netflix tem na narração a voz de Peter Dinklage, o Tyrion de Game of Thrones. Além de Dinklage, a série é uma produção de Bell Pasht, Jonah Bekhor, David Ginsberg e Jake Laufer.

“Como se tornar um tirano” explica de forma descomplicada parte da trajetória de alguns dos maiores ditadores do século XX, como Adolph Hitler, da Alemanha; Saddam Hussein, do Iraque; e os membros da dinastia Kim, da Coreia do Norte. Esses e outros tiranos seguiram o livro de instruções e conseguiram marcar seu lugar na história.

Tal manual, que mais parece um guia para leigos, mostra as regras a serem seguidas durante a caminhada, a tomada do poder e, o mas importante, a manutenção de um governo autocrata; regras essas que, se não seguidas à risca, podem levar ao momento de sua queda, mas mostra também os casos bem-sucedidos.

A série contém fala de especialistas e estudiosos, e momentos documentados na história através de imagens e de vídeos dos ditadores e cenas da época, além de contar com uma arte que ajuda a ilustrar determinados momentos que não foram registrados.

Por vezes, contudo, a série falha em apresentar fontes, deixando a informação “jogada” para apenas ser aceita pelo espectador. Com uma pequena duração, “Como se tornar um tirano” possui uma linguagem fácil e irônica, que permite a todos entenderem a mensagem, porém com a visão um tanto rasa e “preto-no-branco” da história.

A série traz um retrato limitado e simplificado sobre como os estadunidenses veem o mundo e seus ditadores, deixando de fora elementos-chave que também fazem parte dessa trajetória, não tratando mais profundamente, por exemplo, das diferenças entre os tipos de governo em cada um dos regimes.

Cada um dos episódios aborda um tema específico e cria uma linha de raciocínio que se conecta muito bem entre um episódio e outro, mas apesar de focar em um tirano por vez, a narrativa sempre vai acrescentando outros exemplos que tentam comprovar a seu argumento de que seguir as regras do manual é um “plano infalível”. Talvez pelos episódios serem conectados e apresentarem diferentes temáticas, a construção da série como um todo é bem constante e faltam momentos clímax que deixam o espectador com olhos atentos à tela. No geral, a falta de pontos altos não impedem a boa experiência do documentário, mas não o tornam memorável.

Mesmo com falhas, “Como se tornar um tirano” tem muito potencial para uma segunda temporada. Sua linguagem de fácil acesso e seu tema abrangente dão muito espaço para uma sequência. Afinal, o que não faltam são exemplos de tiranos que governaram por longos períodos e que têm muito a acrescentar ao manual de instruções da série.

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