Resistente no amor

Klebercarvalho
EntreFios - tecendo narrativas
4 min readFeb 10, 2022

Maria Taís conta sua trajetória de lutas, desde a infância pobre até os problemas enfrentados no casamento

Por Kleber Carvalho

Maria Taís posa para foto em seu aniversário / Arquivo pessoal

Maria Taís Carvalho da Conceição, de 75 anos, é uma senhora que todos gostam de ter por perto: amiga, prestativa e sempre com um abraço aconchegante para dar a quem quiser. Muito religiosa, acredita no poder do amor e que Deus tem uma solução para tudo. Quem vê essa senhora sempre alegre e esperançosa não sabe quantas vezes a vida tentou tirar o sorriso de seu rosto.

Logo cedo, foi retirada de perto de sua mãe e mandada para a casa de uma tia, onde cuidava de seu primo sem descanso. Até os oito anos de idade, Maria não teve infância. Não estudou, não brincou, apenas trabalhou na casa de sua tia. Foi então que o amor apareceu em sua vida pela primeira vez, o amor de um padrasto. Após ser abandonada pelo pai muito cedo, Maria viu esse padrasto levá-la de volta para a mãe e colocá-la pela primeira vez na escola. “Ele preencheu a falta. Ele dava tudo para nós. Amor, carinho, alimentação… Do que nós precisávamos, ele dava para nós”, conta ela sobre seu padrasto.

A adolescência não foi diferente. Apesar de agora morar com a mãe e em melhores condições, Maria tinha que cuidar da casa enquanto os adultos trabalhavam. Não possuía nenhum lazer, e, por não acompanhar o ritmo da escola, aos 13 anos se viu mais uma vez cuidando de uma casa.

Foi então que o amor lhe sorriu pela segunda vez, o amor de um marido. Aos 19 anos, ela conheceu Francisco Verdiano, por quem se apaixonou e com quem se casou. Maria afirma ter casado muito cedo e que, por ter crescido sem muitas condições, sempre desejou possuir um lar. No entanto, veementemente afirma: “Eu casei por amor”.

Mas o casamento foi conturbado. Maria se casou grávida do seu primeiro filho, de um total de seis — dos quais ela criou sozinha, já que o marido sempre sofreu com o alcoolismo e passava dias longe de casa, em bares e casas noturnas.

Os problemas gerados pelo alcoolismo não param por aí. Por mais de 50 anos, Maria foi violentada verbalmente. Perdeu as contas de quantas acusações de traições infundadas sofreu. O marido parecia temer que ela fizesse o mesmo que ele.

“Ele foi muito agressivo […], me disse muitas palavras más, que doem. Até hoje eu ainda estou magoada”, afirma ela. Os filhos repudiavam a atitude do pai e imploravam que a mãe se separasse. Contudo, Maria, talvez devido à criação conservadora, não via a separação com bons olhos e diz que, por amor à família e a seus filhos, aguentou toda essa violência.

Maria Taís sorri para foto ao lado de familiares / Arquivo pessoal

Por 30 anos, Maria trabalhou na Santa Casa de Misericórdia e diz ter adquirido mais um amor: pelo ser humano. Lá fez amigos, ouviu histórias e aprendeu a respeitar as pessoas. Infelizmente adquiriu um vício, o tabagismo. Fumou por 5 anos e só se libertou quando conheceu mais um amor: o de Deus. Há 22 anos na igreja, Maria diz que, sem o amor divino, não teria suportado o vício e as ofensas pelas quais passou.

Entre tantos amores, Maria destaca um: o amor interrompido. Em junho de 2002, ela sentiu a maior dor já conhecida por uma mãe, a perda de um filho. Seu filho Kleber Carvalho foi confundido com um criminoso do bairro onde morava e, aos 28 anos, foi assassinado a tiros. Ao falar sobre o filho, Maria aos prantos diz: “Todos são bons, mas esse que eu perdi era meu filho, meu amigo, meu irmão, ele era tudo para mim. […] Até hoje, eu não aceitei como foi que o meu filho morreu”.

Aos 75 anos de idade, Maria deseja uma vida bem simples. Após ter vencido anos de luta para criar os filhos, anos de sofrimento no casamento, tabagismo e a pouca escolaridade, ela busca uma velhice tranquila ao lado de seus filhos e de seu marido, que, segundo ela, tem parado de ofendê-la. Na última parte de uma vida tão vitoriosa, Maria deseja paz e, é claro, aquilo que fez parte de toda a sua vida: muito amor.

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