Socorro que tanto escrevia

Beatriz Acioli
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readAug 12, 2022

Aos 47, a escritora Socorro Acioli conta um pouco sobre sua história de vida, sua relação com a leitura e como seus livros favoritos e seus mentores a impactaram ao longo da sua trajetória

Por Beatriz Acioli

Socorro à frente de volumes de seu livro A Cabeça do Santo / Reprodução

Socorro Acioli é escritora, jornalista, professora universitária e mãe, de humanos e de gatos. Nascida e criada em Fortaleza, a autora cresceu em uma família humilde. Desde pequena, adora ler e conta que já perdeu aulas lendo na calçada perto da sua escola, pois não aguentava esperar muito tempo para saber o fim da história — entretanto, Socorro diz que não aconselha esse tipo de comportamento.

Quando criança, um dos seus livros preferidos era o Amanhã é uma Criança, um livro de poemas que ela nunca mais encontrou de novo. Para ela, essa leitura foi essencial e lhe motivou a sempre olhar o mundo pelas palavras, de uma forma que exigia calma e gentileza.

Assim como nos livros de poesia, a vida de Acioli foi abençoada com figuras de extrema sabedoria para lhe guiar ao longo de sua vida, a exemplo do padrinho de sua filha, Frei Betto, e de seu padrinho Ary Leite, ambos escritores e jornalistas.

Em 1984, aos 8 anos, Socorro publicou seu primeiro livro, O Pipoqueiro João, escrito e ilustrado por ela e publicado na sua escola. O livro foi enviado para o frade dominicano Frei Betto, que enviou uma carta que a escritora diz guardar até hoje, pois, segundo ela, representa algo extremamente importante e lhe motiva a continuar escrevendo.

Ainda na faculdade, escreveu uma biografia de Frei Tito depois do reencontro com Frei Betto, jornalista assim como ela estava buscando ser. Até hoje eles mantêm uma amizade e compartilham o amor pela filha mais velha de Acioli.

Aos 12 anos, seu livro favorito se tornou o Diário de Anne Frank. A escritora ressalva que, apesar de serem circunstâncias completamente diferentes, ela se identificava com o sentimento de escape que a escrita trazia para Anne Frank e com a sensação de que a escrita era sua melhor amiga. Para elas, escrever era uma das poucas coisas que tornava tolerável o mundo à sua volta. Ela carregou esse sentimento ao longo de sua vida, sempre guardando as palavras de Anne Frank com ela.

Sua graduação em Jornalismo não foi sua primeira escolha, mas foi a mais certeira, formando-se em 2002. Chegou a trabalhar com a escrita de biografias e trabalhou em jornal por um tempo, porém Socorro diz não ter conseguido ficar longe dos “e se” em todas as narrativas que via, por ser apaixonada pelo potencial das histórias que ela poderia escrever.

A mudança de profissão, do jornalismo para a literatura, foi concretizada com o nascimento da sua filha mais velha, Beatriz. Ela então começou a focar na escrita de livros, inicialmente infantis, como o Bia que Tanto Lia, É Para Ler ou Para Comer? e, posteriormente, para outros públicos como o A Cabeça do Santo.

Quando começou a se dedicar mais à sua escrita, foi a época em que ela se apaixonou pelo livro Cem anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, tornando-se seu livro favorito da sua vida adulta. Socorro Acioli conta que o simbolismo das borboletas-amarelas lhe ajudou a achar o seu caminho em meio às incertezas da vida, e toda vez que via uma borboleta dessa cor dizia que traria sorte para seu dia.

Independentemente da profissão que iria seguir, Socorro estava determinada desde pequena a seguir os passos do seu padrinho Ary Leite, a quem ela gosta de se referir como um “guardião de memórias”. Por isso, além de cultivar suas memórias na sua escrita, Acioli começou a ministrar cursos de escrita criativa em Fortaleza, para repassar todos os ensinamentos que ela adquiriu ao longo dos anos para seus alunos, transbordando seu amor por livros e pela escrita para todos aqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-la.

Sua vida sempre esteve atrelada à escrita. O nascimento de sua filha Camila, os seus gatos, as experiências da sua infância, as viagens, as alegrias. Tudo registrado em mais de trezentas e vinte crônicas, vinte e quatro livros e quarenta e sete anos de travessia pela vida e pela literatura.

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Beatriz Acioli
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Um blog de uma estudante de jornalismo fazendo trabalhos práticos