Todas elas juntas num só ser

júlia vasconcelos
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readDec 22, 2022

Maria Joana Felipe Chiappeta de Azevedo não cabe em uma só

Por Júlia Vasconcelos

Maria Joana / Gshow

A fome de descobrir o outro logo despertou Maria para sua vocação. Sua infância foi repleta de mudanças, mas a maior dificuldade que sentiu foi quando se mudou para os Estados Unidos, não por se tratar de um cenário radicalmente diferente do que os bairros da Zona Sul do Rio de Janeiro lhe propiciavam, mas justamente porque, como não falava a língua do país, não conseguia se comunicar.

As performances que realizava para os familiares quando criança também já denunciavam suas aspirações. Assim como ela, os pais entenderam de pronto: não havia outra opção. Se não fosse atriz, seria atriz.

Filha de uma arquiteta e um engenheiro que se separaram quando ela tinha 5 anos e irmã caçula de Leandro e Maria Gabriela, Maria Joana tem na família uma base de apoio sólida. Seus pais eram grandes incentivadores da liberdade de escolha dos filhos, desde que estudassem.

Maria não tinha grande apreço pelos estudos escolares, mas perseguiu a educação formal para se qualificar no ofício que, aos 6 anos de idade, decidiu que queria seguir. Aos 12, entrou no teatro da escola e, desde então, nunca deixou de atuar. Ela se uniu a um grupo de teatro amador aos 14 anos, depois se formou em Teatro e estudou na conceituada Tablado, escola de teatro do Rio, e na Oficina de Atores da Globo. Assim, se formou não só atriz, mas também fundou-se pessoa.

A vida dos testes de elenco rapidamente mostrou à Maria que a carreira que escolheu para si não seria fácil. Hoje, ela ainda experimenta o gosto amargo da instabilidade de uma profissão nem sempre justa. Com cerca de 20 anos de carreira e variados trabalhos, incluindo seis telenovelas, Maria por vezes se vê na mesma posição de quando começou.

Quando tinha 15 anos, ela já trabalhava com publicidade, fazendo comerciais, a fim de ganhar o próprio dinheiro, enquanto lutava pelo que realmente queria: ser outras mais. Anos depois, já com uma carreira profissional trilhada, trabalhou em programas de TV a fim de ser contratada, mesmo que suas participações fossem como ela mesma.

Sua experiência a ensinou que o mundo pode ser cruel e que quem não se impõe acaba sendo passado para trás. Por isso, teve de aprender a dosar seu romantismo. Ainda assim, não pode evitar o fascínio pelo ser humano e a paixão pela vida e pela arte. Ela se orgulha da própria trajetória, todos os dias agradece por estar viva e encontra inspiração em tudo ao seu redor.

Maria Joana / Acervo pessoal

Como a Maria de Bituca, Maria Joana possui a estranha mania de ter fé na vida. Mas também pensa muito na morte — se prepara para a velhice e busca não deixar nada por ser dito aos seus — e não se contenta em ser apenas Maria. Talvez sua sede de vida seja a grande motivação para descansar de si e vivenciar outras também.

Maria compreende o ator como o ser possivelmente mais capaz à empatia; por isso, ela não interpreta personagens. As vivencia. Quando entra em cena, vira bicho. Vale tudo. Deixa de ser Maria e torna-se Glória, Carol, Alex, Rita, Bebel, Natália, Michelle, Enlila, Nancy e quem mais puder ser na sua jornada em busca de compreender o ser humano, construir trocas e provocar o outro; despertar seus sentidos e transformá-lo com sua arte, porque “ser ator é descascar cebola. Não tem fim”.

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