Um lugar ao sol

Isabellarifane
EntreFios - tecendo narrativas
3 min readFeb 11, 2022

Prestes a completar 25 anos de história, Larissa Rifane desbrava o mundo, conhecendo o gosto agridoce da vida adulta

Por Isabella Rifane

Larissa Rifane mostra a chave de seu apartamento em um condomínio fechado, no Eusébio / Isabella Rifane

Antes de cogitar tornar-se qualquer coisa, Larissa Rifane foi ela mesma. Ansiosa, radiante e resistente. Veio ao mundo em uma manhã de fevereiro, despertando seus jovens pais de primeira viagem com uma surpresa que eles só esperavam receber no mês seguinte. Ao voltar para casa, transformou-se no xodó daquelas sete pessoas que compartilhavam um lar, rindo e agitando os bracinhos com a mesma facilidade que tinha em respirar.

A vida lhe golpeou pela primeira vez cerca de nove anos depois, quando os pais decidiram seguir rumos diferentes, e Larissa resolveu seguir o seu: com a determinação que só uma criança tem, arrumou as coisas e preferiu voltar para a casa da avó, onde ficou até que estivesse pronta para voar.

Cresceu, recebeu mais alguns golpes da vida, mas não fugiu do ringue: começou a trabalhar com 14 anos, e não parou desde então. Deus, como ela faz questão de dizer, resolveu recompensá-la pelo esforço. A menina de escola pública, nascida e criada na periferia de Fortaleza, passou para Psicologia. Um ano depois, percebeu que preferia ajudar as pessoas de outra forma, e iniciou sua jornada na Fonoaudiologia.

O caminho não foi fácil. Foram anos contando moedas para a passagem de ônibus, aceitando a ajuda da família e duvidando que a menina, criada pela avó e estudante do ensino público, fosse conseguir. Mas os dias não são feitos só de lutas. A estudante vestiu beca e lapela e se saiu bem ao enfrentar o mercado em meio a uma pandemia.

Apertando o cinto, conquistou seu primeiro carro e, no caminho para o primeiro emprego, ousou sonhar com um futuro melhor. Todos os dias, ao passar por uma clínica renomada, Larissa pediu ao Todo Poderoso que o lugar lhe desse uma oportunidade. Suas preces foram ouvidas e, atualmente, de segunda a sexta, a fonoaudióloga dedica-se para melhorar a realidade de crianças com transtorno de desenvolvimento.

O empenho deu resultado e, antes mesmo de completar 25 anos, Larissa é a feliz proprietária de um apartamento em um condomínio fechado, no centro de Eusébio, na região metropolitana de Fortaza. O lugar ainda não está totalmente mobiliado, mas já virou palco das reuniões familiares, com direito a noites de pizzas caseiras e a brincadeiras simulando o Big Brother Brasil.

Apesar da vida adulta, Larissa confessa que ainda se vê como menina. Agradece a Deus pelas conquistas, mas ainda sente frio na barriga. Tem um imóvel em seu nome, mas se diverte ao se perguntar se deve pagar as contas na lotérica — como sempre viu os adultos fazendo — ou por aplicativo.

Finalmente agraciada com um lugar ao sol, Larissa pretende aproveitar a fase de descobertas, viver os tão imprevisíveis vinte e poucos anos com a companhia da família e dos amigos. E confessa: se pudesse voltar no tempo, não mudaria nada.

“Se eu pudesse falar com a Larissa do passado, eu diria para continuar se esforçando, que vai valer a pena”.

Mesmo tornando-se tantas coisas, Larissa Rifane continuou a mesma. Um pouco mais velha e bem-sucedida, mas a mesma.

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